Tite, técnico da Seleção Brasileira, é daqueles que conquista torcedores por onde passa. Foi assim no Caxias, no Juventude, no Grêmio, no Inter, no Palmeiras, no Corinthians. Mas não existe torcida mais fiel do que os moradores da localidade de São Braz, na parte leste de Caxias do Sul.
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Também pudera, naquela comunidade de origem italiana, muitos são os laços de sangue dos locais com Adenor Leonardo Bachi, o Ade. O pai Genor vivia da agricultura. A mãe Ivone auxiliava nos afazeres da igreja. Anos mais tarde, porém, já morando no bairro Nossa Senhora de Lourdes, os Bachi viveriam com a renda de um armazém. Inspirado no estabelecimento situado na Avenida Rio Branco, em frente a onde está o Shopping San Pelegrino, Jornal Pioneiro, RBS TV e Rádio Gaúcha Serra lançaram o quadro "Bodega do Bachi", com Tite como personagem central.
Na primeira edição, que vai ao ar no Jornal do Almoço, nas redes sociais do Pioneiro e da Gaúcha Serra, histórias como a de Rufino Mazzocchi, primo de Dona Ivone, mãe de Tite, e de Beatriz Bachi, a Bea, irmão do técnico da Seleção.
— Eu era um bom ponta direita. Fui oito anos artilheiro do time. O Agenor (como os mais próximos chamavam seu Genor) era volante. Fazia bastante gols. O Tite sempre foi diferenciado. Ele era um destaque. Mas não jogou tanto aqui no Juvenil porque logo começou a jogar nos profissionais — relembra o aposentado, de 78 anos, mas que segue a vida de campo na plantação de frutas e fabricação de caixas de madeira para transportar as frutas.
Com 21 anos de diferença para Adenor, Rufino era responsável pelo filho de sua prima nas viagens em função do futebol. Aliás, a primeira ida de Tite à praia, obviamente foi para correr atrás da bola:
— Montei um time e levei para a praia. Ninguém ganhava de nós. Ele tinha 14, 15 anos. Coloquei todos em cima de um caminhão e fomos em uns 20. Levamos até galinha para matar porque não tinha geladeira. Tinha que matar e comer. A Ivone pediu que eu fosse o responsável. Quando alguém entrava para machucar ele eu me metia.
— Uma vez ele se apaixonou por uma guria de Novo Hamburgo e não queria nem comer mais. Ficava em cima da janela olhando para a guria, que estava em outra casa. Eu o chamei: "Guri, vem cá! Se tu não comer, vou te embarcar no ônibus para casa." — conta, aos risos.
A primeira "paixão" de Tite também provocaria ciúme em Ademir Bachi, Miro, o irmão mais novo:
— Eles eram muito próximos. Coisa de criança, era a primeira menina que o Ade tinha se apaixonado — testemunha Bea.
Das boas lembranças de São Braz, o orgulho por Tite nunca ter negado às origens, ainda que os encontros entre primos sejam cada vez mais raros.
Torcedores peculiares
Não é tradição. Rufino Mazzocchi garante que não é adepto de soltar foguetes em dias de jogos. Mas a torcida pelo primo Tite merecia estouros mesmo quando este marcava gols contra o próprio clube.
— Ele estava no Guarani. Sempre fui colorado e o Guarani foi jogar contra o Inter no Beira-Rio, em 1985 ou 1986. O Tite que fez o gol. E eu estourei uns foguetes. No outro dia encheu de gente na madeireira que eu tinha. "Gringo, tu é colorado, porque atirou foguete?", me perguntavam. Eu dizia: "Não estourei pelo Guarani, mas porque tem gente minha lá dentro. Olha onde ele estiver eu torço". Quando ele estava no Grêmio eu torcia para ele, me chamavam de vira-casaca — lembra, aos risos.
De diferenciado com as palavras a competente e dedicado, palavras de incentivo não faltam para que Tite seja descrito por quem o conheceu na infância. No retorno do treinador a Caxias do Sul, com ou sem o Hexa, a promessa é por carinho e uma farta mesa ao irmão.
— Está prometido o pastel para quando ele voltar. Ele pediu, café, pastel e bolo — confirma Bea.