Um desafio diferente em um universo desconhecido. Quando deixou o Juventude, no final de 2016, rumo à Coreia do Sul, o preparador físico Rodrigo Squinalli não imaginava o que encontraria pela frente. Uma temporada no Jeju United, da primeira divisão coreana, foi um aprendizado que o caxiense teve como maior desafio da carreira, mas que trouxe bons frutos. Sozinho, morando na concentração do time, Squinalli começou a traçar seu caminho no continente asiático.
— Eu tinha muita vontade de viver uma experiência assim, fora país. Então eu não levei choque cultural, mas sim da vivência. Logo que cheguei eu estava muito eufórico, então não tinha caído a ficha. Quando eu percebi que seria aquela rotina todo dia, me assustei um pouco — lembra o preparador.
O vice-campeonato da K-League, o que não acontecia para o clube desde 2010, valorizou o profissional. A garantia em mais uma Liga dos Campeões da Ásia também foi um motivador para o retorno à Coreia. Em 2017 pode conhecer vários países do continente na competição e sempre com uma coisa nova por conhecer.
Diferentemente da primeira vez, agora Squinalli já tem uma adaptação mais tranquila do que a inicial:
— Eu saí daqui e fui direto para a Tailândia, onde o time estava realizando a pré-temporada. Eu estava tentando fazer meu trabalho para começarmos bem porque logo teríamos uma estreia. Era aquela loucura de treino e amistoso direto. Quando cheguei no meu quarto e pensei que ainda teria um ano pela frente, deu um baque. Eu teria uma visita familiar uma vez só nesse período. Eu só ganhei uma passagem.
Comunicação e idioma
Squinalli saiu daqui sem saber falar coreano. Quando chegou lá, imaginou que encontraria maior facilidade por falar inglês, o que não se confirmou. Como o tradutor do clube não permanecia o tempo todo com ele, o caxiense teve que encontrar formas de se comunicar com os atletas durante o dia a dia:
— Quando nosso tradutor não estava por perto, tinha que encontrar maneiras de passar o que eu queria para os jogadores. Algumas vezes eu ficava quase três dias sem falar português. Mas, no campo, os jogadores entendiam. Os coreanos são muito focados. Eles tem uma educação militar muito forte. Alguns termos eu acabei pegando, outros eu falava em inglês e eles já entendiam. Então foi se ajeitando.
Outro facilitador para Squinalli foi a presença de outros estrangeiros no time, inclusive brasileiros. Além do ex-jogador da dupla Ca-Ju Maílson, que foi para lá na metade de 2017, estavam o meia Magno Cruz, que foi no início do ano passado para o clube, e o atacante Marcelo Toscano, que chegou em 2016 na Coreia, e foi o principal apoio de Squinalli na chegada:
— Ele já tinha passado um ano inteiro lá, e eles são muito metódicos. Então o Toscano já sabia mais ou menos o que aconteceria, como eles reagiriam às coisas que aconteciam. Isso diminuía o meu choque quando acontecia algo diferente. Às vezes eu me assustava igual, mas não tinha o choque porque já havia sido alertado.
Além dos três brasileiros, o australiano Aleksandar Jovanovic também ajudava Squinalli, facilitado pela comunicação em inglês. Para 2018 o clube acertou com o centroavante Tiago Marques e o atacante Roberson, ambos ex-Juventude.
Novidade nos exames
Além de ter que gerenciar a intensidade dos trabalhos com os coreanos, Rodrigo Squinalli também teve que romper barreiras culturais nas formas de avaliação física dos jogadores. O exame de sangue que mede o CK (creatinoquinase) e que avalia o risco de lesão e fadiga dos atletas, comum nos clubes do Brasil, não eram feitos no Oriente. Apesar de algumas desconfianças no início, a eficácia do método convenceu os asiáticos:
– No começo, eles não queriam. Mas mostrei a importância de controlar os treinos daqueles mais fadigados, de não forçar jogadores com grande risco. Eles eram acostumados a terminar o ano com vários atletas lesionados. Quando começaram a ver o quanto reduzimos as lesões musculares e que o time estava mais inteiro em campo, passaram a acreditar na metodologia.