– O Wagner é louco?
Foi a pergunta que abriu todas as entrevistas feitas nesta reportagem para tentar contar a história do camisa 10 do Caxias, um dos personagens do Gauchão. O meia de 25 anos marcou o Estadual por sua habilidade com a bola, claro, mas também por suas atitudes além da bola. Contra o Grêmio, na segunda rodada, comprou briga com Douglas e ouviu de Luan: "jogador de time pequeno". Contra o Inter, poucos dias depois, saiu de campo dizendo que "o Beira-Rio era seu salão de festas" e que "o D'Alessandro deve ter ficado louco de nunca ter vencido o neguinho aqui, por isso me chamou de bandido". E contra o Juventude, todos lembram. Na primeira fase, cravou um bandeira do Caxias no meio do gramado do Alfredo Jaconi. Seu ato desencadeou uma pancadaria entre jogadores, torcedores e quem mais passasse na frente do estádio – o que lhe fez até sentar no "banco dos réus" do TJD e precisar jogar sob efeito suspensivo. Depois, já nas quartas de final, quando ajudou sua equipe a vencer outras duas vezes, pediu ao apresentador do Fantástico Tadeu Schmidt que colocasse uma música pelas três vitórias. Não satisfeito, cantou:
– Choram as roooooosaaaaaas!
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Detalhe: Wagner não tinha qualquer ligação afetiva com o Caxias antes de janeiro de 2017.
Natural de Eldorado do Sul, jogou na várzea na adolescência e pintou no São José como sua primeira grande experiência como profissional, depois de passagens por equipes do noroeste gaúcho, como Três Passos, Tupi e Santo Ângelo. Em uma Copinha de segundo semestre, chamou a atenção do auxiliar-técnico do Cruzeiro-RS, Gabriel Carvalho, um dos especialistas em garimpar talentos no Rio Grande do Sul. Ao lado do gerente de futebol cruzeirista, Glênio Cordeiro, eles tinham ido ao Passo D'Areia observar um volante que havia sido indicado:
– Saímos de lá encantados com o Wagner. Não tivemos nem dúvida de quem deveríamos contratar.
Apesar de algumas resistências – não era a posição necessária na visão de quem detinha a caneta –, o Cruzeiro apostou nele. O resultado foi imediato: já no primeiro Gauchão, destacou-se, inclusive marcando gols contra o Inter nas quartas de final. O que explica a ronha com D'Alessandro (naquele ano, 2015, o Inter classificou-se às semifinais nos pênaltis, depois de um 2 a 2 no tempo normal).
Depois do Gauchão, foi para a Chapecoense. Apesar de as estatísticas mostrarem 22 jogos e um gol pelos catarinenses, seu desempenho não foi bom. Algumas lesões, a reserva e a vida noturna marcaram sua passagem pelo Estado vizinho. O que não ficou explicado é o que veio primeiro: a lesão, a reserva ou a vida noturna. De lá, foi para o Goiás, fez cinco gols, e então para o Santa Cruz, em Recife, mas só jogou três vezes. O Caxias abriu as portas para voltar ao Rio Grande do Sul.
Talvez esteja aí a gratidão que demonstra a cada 90 minutos, explicada ao final da partida contra o Inter:
– Dou a vida pelo meu time. Não posso fazer nada se eles não fazem isso
O técnico do Caxias, Luiz Carlos Winck, adora essa característica:
– Louco não é. Só disse para ele concentrar essa personalidade no jogo. O Wagner não foge das decisões, cresce. Só precisa é canalizar tudo para o caminho certo.
Até por isso, por ordem da comissão técnica, o meia está proibido de conceder entrevistas antes de enfrentar o Inter. Segurar sua língua afiada é um desafio. Como foi colocá-lo nos eixos com relação à pontualidade e aos excessos até em campo. Wagner "pagou caixinha" duas vezes em 2017. Os motivos são mantidos em segredo.
Mas é curioso: essa loucura toda, essa fúria de personalidade dura os minutos que vão do aquecimento às entrevistas. No vestiário, não é um dos líderes, não é um dos mais agitados e não é um dos mais brincalhões.
– É a personalidade dele, o jeitão mesmo. Com a gente, não é louco – diz o meia-atacante Júlio César, companheiro na criação dos ataques do Caxias.
A criação e a vontade de ganhar marcaram uma das confusões mais divertidas de sua carreira, ainda nos tempos de Cruzeiro, que deixa bem claro quem é Wagner. Depois de passar um período lesionado, estava praticamente pronto para voltar à equipe em uma segunda-feira. No domingo, um dirigente do clube, ligado às competições de futebol 7 na Capital, assistiu a uma transmissão no Youtube de uma decisão. Quando percebeu que "tinha um negrinho desequilibrando o jogo", aproximou a imagem. Era Wagner.
– Ele me disse: "valia uma grana, mas nem foi por isso que joguei. Queria mesmo era ajudar os guris a ganhar" – contou o dirigente.
Para a primeira pergunta desta reportagem, ainda que todos digam o contrário, talvez a resposta seja diferente: Wagner é louco. Por futebol. E por ganhar.