Nem sempre apenas na vitória se constrói o exemplo. Para os jovens que vislumbram um futuro no taekwondo era até natural ter no medalhista brasileiro Maicon Siqueira, que conquistou o bronze, a inspiração para continuar com os treinamentos na modalidade. Só que não foi apenas pelo que viram do vitorioso atleta mineiro, que as 23 crianças e jovens que vão ao tatame uma vez por semana em uma sala do Cristóvão de Mendoza construíram uma nova referência no esporte.
Talvez a Olimpíada no Rio de Janeiro tenha sido a primeira oportunidade para muitas pessoas acompanharem mais de perto a modalidade. E, neste caso, não se trata apenas dos brasileiros. Ver pela televisão os maiores lutadores do mundo chamou a atenção da garotada.
– É legal por ver que eles são muito altos e rápidos, mas defendem, clincham, fazem tudo igual a gente. Foi um motivo a mais para querer no futuro chegar junto com eles – diz Caroline Saboleski, de 10 anos.
O projeto mantido pela Associação Caxiense de Taekwondo (ACTKD) e liderado pelo professor Daniel Brisotto, não tem verbas públicas e oferece aos alunos pouco mais de uma hora de aula semanal no turno inverso ao da escola. Neste caso, apenas alunos do Cristóvão podem participar. São dois anos de atuação completados agora em setembro e os primeiros frutos já começam a ser semeados.Cinco jovens, que se destacaram no projeto, já fazem parte da equipe de competição da ACTKD, sem custos, e estão treinando na UCS, sede da equipe.
– Comecei no ano passado e desde que entrei no taekwondo não quis mais parar. O fato de fazer amigos e poder viajar com a equipe é ótimo – acrescenta Caroline, uma das que já fez a transição para a equipe da associação.
Para Vanessa Garcia da Silva, 14 anos, que está desde o início das atividades do taekwondo na escola, o tatame passou a representar uma opção profissional.
– É um esporte que adoro, quero meu futuro dentro do tatame. Quem sabe, ser uma professora de taekwondo. O esporte me ensinou a ser mais paciente. Minha mãe, no começo, não apoiava porque achou que eu ficaria mais agressiva e foi bem pelo contrário – explica a aluna.
Dafine já participa de competições nacionais
Na Olimpíada, o ouro da judoca Rafaela Silva foi o maior expoente ao se falar sobre a evolução no esporte a partir de projetos sociais. E quantos não são os exemplos espalhados pelo país. Por isso, guarde bem esse nome: pode ser que, daqui a alguns anos, a história de Dafine Ferreira Rodrigues esteja circulando com maior visibilidade por todo país.
Ela fazia ginástica artística e, no ano passado, resolveu “testar” o taekwondo. De início, nada muito especial. Até alguma contrariedade. Com o passar do tempo e dos treinamentos, a história mudou.
– Hoje o taekwondo representa tudo para mim. A motivação maior veio do Daniel (Brisotto). Ele diz que eu posso chegar longe. Convenceu minha mãe e a mim também, que no começo não queria continuar. Hoje minha rotina mudou por causa do esporte e estou treinando todos os dias – diz a jovem de 15 anos.
O técnico ainda se impressiona com a rápida evolução de Dafine, o potencial que apresenta nos treinos e o quanto ainda pode evoluir.
– Ela é diferente. Tem um potencial enorme. Quem sabe, é uma aposta para 2020 – comenta o treinador.
De olho no futuro, Dafine fez questão de assistir a todas as lutas que pôde do taekwondo nos Jogos do Rio. E, logicamente, deu atenção especial para a categoria até 49kg, aquela pela qual compete.
– Chamou muito a atenção a agilidade e o quanto elas são altas. A Iris (Sing, brasileira que chegou às quartas de final) não conseguiu a medalha, mas chegou bem perto. Quem sabe, daqui a pouco, não posso estar lutando com ela – diz Dafine.
Olimpíada traz visibilidade para o taekwondo
E é só observar de perto uma aula de taekwondo no Cristóvão de Mendoza para entender o quanto o esporte acrescenta na rotina das crianças. Desde o mais pequeno, de apenas seis anos, até a que já tem 15 e vê que a modalidade pode ser responsável por uma mudança radical na sua vida. E a visibilidade com a Olimpíada acrescentou ainda mais neste cenário.
– A medalha do taekwondo incentiva, é algo importante, que motiva quem realmente mostra interesse nos treinos. É claro que se a televisão mostrasse um Mundial ou competições internacionais traria ainda mais visibilidade. É isso que ainda falta ao taekwondo. A exposição do esporte – destaca o professor Daniel Brisotto.
A ideia de Brisotto é que a partir do próximo ano o projeto social seja expandido e os treinos também ocorram na UCS, com a parceria com outras escolas e o transporte das crianças até a Universidade no turno contrário ao das aulas.