O empresário José Francisco Felix Leão, 49 anos, poderia ter soltado foguetes quando soube que o Gre-Nal 410 seria disputado às 11h de um domingo de julho. Gremista, morador de São Sepé, quatro horas distante do Beira-Rio, viu no confortável horário, ao menos para ele, habitante de uma cidade de 25 mil almas da região central do Rio Grande do Sul, a oportunidade única de reunir toda a turma do futebol sete nas cadeiras de um estádio de Copa do Mundo em dia de Brasileirão. Trocar o ambiente das discussões e das flautas.
Lado a lado, camisas azuis e vermelhas, bandeira na mão, os amigos vão torcer juntos, porém separados na paixão. Ocuparão a nobre área mista, que abrigará 2 mil fãs dos dois times. Unir os rivais num mesmo ponto é um exemplo ao país. São Paulo, que detém quase 30% dos torcedores do Brasil, decretou clássicos com torcida única. Leão fala da sua expectativa.
– Alugamos um ônibus, reunimos 42 companheiros e marcamos a saída para as 5h deste domingo. Organizamos a viagem durante os churrascos de costela de gado e ovelha, abastecido pelo colorado Rogério Leão, depois das peladas noturnas. O WhatsApp está bombando, mas tudo numa boa, como mandam as piadas entre os camaradas que não vivem sem futebol.
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O horários da 16h ou das 18h30min atrapalha a vida de milhares. O jogo matutino ajuda, segundo Leão:
– Só de estrada gastamos oito horas. Imagina se o jogo começasse no final da tarde. Ficaríamos em casa, grudados na frente da TV.
Na Dupla, comissões técnicas e jogadores não são fãs do horário, que muda radicalmente a rotina de todos, do sono à alimentação. Quem cuida da gestão dos estádios ou das torcidas está do outro lado, na vibe do consumidor.
– Uma partida às 11h atrai um público diferente que se une ao torcedor mais fiel, o que frequenta regularmente os estádios. No ano passado, contra o Coritiba, mais de 41 mil pessoas acessaram o Beira-Rio. Do total, 4 mil eram crianças, que vieram com pai, mãe tio, tia, avó, avô e amigos. É um público que muda o cenário de um estádio e o qualifica ainda mais – lembra Alexandre Limeira, vice-presidente de Administração do Inter, que abrirá os portões a partir das 9h e contará com 800 pessoas para atender a todos.
– Alguns nem conhecem o estádio direito. Não sabem a localização do banheiro ou do seu lugar. Vamos ajudá-lo. Eu quero que eles voltem sempre – explica Limeira.
Nos últimos dias, o Inter recebeu consulta de sócios e torcedores de mais de 60 cidades em busca de informações sobre a partida e os tíquetes. Visitante e rival, só dentro de campo, Maichel Mattiello, diretor do quadro social do Grêmio, apoia o movimento:
– O torcedor gostou de ocupar as manhãs, especialmente o que mora longe de Porto Alegre. Ele vem ao jogo e ainda tem tempo para curtir a cidade. Almoça, vai ao shopping, passeia. Nunca chega sozinho, sempre carrega alguém junto. De todos os horários, entre quartas, quintas, sextas, sábados e domingos, o das 11h é o que mais atrai a família. Amigos chegam em turma.
Mattiello segue
– É também uma enorme oportunidade para formar novos torcedores. A criança que chega com o pai é o torcedor do futuro. Precisamos cativá-lo.
O rígido controle sobre as organizadas, a manutenção do espaço destinado às torcidas mistas e o sucesso do desenho do caminho do gol oferecem mais tranquilidade e segurança ao público. Ir a pé ao Beira-Rio é uma atração, as águas escuras do Guaíba como moldura. No trajeto entre o Shopping Praia de Belas e o Beira-Rio, rota civilizada de duas torcidas, o Ministério Público decidiu aproveitar a circulação de torcedores entre sete e 70 anos. Promete criar no mesmo espaço um caminho da solidariedade e da cidadania. Quem quiser poderá usar o trajeto para ser um doador de sangue, agasalhos e alimentos. A referência será o ônibus que o MP vai estacionar na área.
Marco Aurélio Martins Xavier, juiz do Juizado do Torcedor e Grandes Eventos, é outro entusiasta.
– Excelente. Muitos torcedores não terão tempo para beber álcool, o grande veneno nos grandes eventos. É muito cedo, o que sempre ajuda a diminuir a violência.
Quase todas as partes concordam que um Gre-Nal às 11h é bem-vindo.
Falta só os artistas retribuírem com um desempenho digno de estrelas.