Como todo esporte em seu início, a canoagem brasileira de velocidade dependeu muito da perseverança dos atletas. E foi com esta receita que chegou pela primeira vez aos Jogos Olímpicos na espanhola Barcelona, em 1992. Um time composto por três atletas, entre eles Alvaro Koslowski, hoje chefe da equipe nos Jogos do Rio 2016.
Natural de Santa Tereza, na época distrito de Bento Gonçalves, Koslowski conheceu o esporte em 1985 e foi amor à primeira vista. Mas neste amor, nem tudo foram flores.
– Nós íamos descobrindo como funcionava o esporte pela dor, não por livros. Não havia internet. Tinha que ir no lugar para descobrir como os caras faziam – lembra.
Esta falta de informações era tão grande, que Koslowski acreditou que o seu primeiro barco olímpico, o K1, estava com defeito.
– A gente sentava no barco e em menos de dois segundos estava deitado para o lado. E tentava por um lado, tentava por outro, mas não tinha jeito. Chegou um ponto que fomos devolver ele. Só podia estar com defeito. Ao invés disso, um barco olímpico precisava de um conhecimento diferente. Nós não sabíamos como trabalhar a estabilidade dele – conta.
Antes do K1, ele andava com barco de turismo, com estabilidade maior. Foi necessário um ano e muita força para se adaptar ao modelo de competição. Os primeiros remos não foram comprados, mas sim fabricados de forma artesanal: com facão e madeira. A evolução da canoagem de velocidade brasileira foi, em outras palavras, à força.
A maratona para desbravar o esporte
Sem treinadores e com muita vontade, Koslowski conquistou índice olímpico para as provas de K2-500 e K2-1000 em abril de 1992, ano dos Jogos. Se a evolução foi conquistada na garra, chegar às Olimpíadas de Barcelona não poderia ser fácil. Houve uma maratona antes.
Sem experiência internacional, a equipe brasileira queria participar do mundial da modalidade em Racice, na República Checa. A competição ocorreu uma semana antes dos Jogos.
– Fomos até Barcelona de avião e de lá pegamos um trem até Racice, sem ter a noção de qual era o trajeto. Chegamos no último dia da competição, no domingo. Só deu para treinar na segunda e voltar para Barcelona, sem dinheiro algum para prolongar a viagem – recorda.
Sem a esperada experiência internacional, o time ainda encontrou outra dificuldade: os barcos, que possuíam uma tecnologia avançada e que ainda não tinha chegado ao Brasil. Mesmo com tantas adversidades, o time demonstrou superação dentro da água.
– Vou ser sincero, não fomos mal. Chegamos à semifinal. Nós não andávamos no grupo medalhista, mas também não fechamos a raia – destaca.
A realidade dos Jogos do Rio é diferente. O esporte evoluiu. Hoje, o Brasil conta com dois CT’s, treinadores reconhecidos mundialmente e atletas dedicados apenas ao esporte. Tempos diferentes, em que a realização pode ser ainda maior para o serrano Alvaro Koslowski.
– Você ganhar uma medalha, é bom. Mas, ver uma pessoa que você ajudou conseguir o resultado, é muito melhor. Eu vivi todas as pontas: atleta, treinador e hoje gestor. Sinto muito mais satisfação em ajudar, em ver a vida continuando, do que se tivesse uma medalha – conclui.