Serviços como tratamento de beleza, domésticos e atividades jurídicas, além de comércios de alimentação, bebidas, vestuário e acessórios, são as áreas em que os gaúchos buscam empreender, tendência que também ocorre na Serra gaúcha. Os dados são da Pesquisa GEM 2023, realizada pelo Sebrae RS em parceria com a Associação Nacional de Estudos de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).
O estudo apontou crescimento de novos empreendedores, subindo de 12,7%, em 2016, para 39,5% no ano passado. Ou seja, 1,9 milhão de gaúchos estão abrindo ou pretendendo abrir as portas dos próprios negócios nos próximos anos. Mas, em comparação à pesquisa realizada em 2020, com 46,7% de potenciais empreendedores, a porcentagem do ano passado (39,5%) sofreu uma queda.
Áreas em que os gaúchos mais buscam empreender:
- Tratamento de beleza: 5,6%.
- Comércios de alimentação e bebida: 5%.
- Comércios de vestuário e acessórios: 4%.
- Serviços domésticos: 3,9%.
- Atividades jurídicas (exceto cartórios): 3,5%.
Em Caxias do Sul, a Associação das Empresas de Pequeno Porte do RS (Microempa), assim como o Sebrae RS, contabiliza um crescimento próximo de 40% no número de empreendedores associados nos últimos anos. Antônio Bressan, executivo da associação, destaca que, desses, cerca de 30% estão focados em produtos industriais. Outros 25% fornecem serviços dos mais variados tipos, e este é um dos segmentos que está mais crescendo ultimamente, segundo o executivo.
Em terceiro lugar, estão os empreendedores no setor do comércio, com 20%. Bressan afirma que gastronomia e turismo são dois segmentos que estão despontando na criatividade dos caxienses.
Conforme o gerente regional do Sebrae, Gustavo Rech, a pesquisa estadual olha o cenário do empreendedorismo por duas perspectivas: para que o empreendedor olhe o comportamento do mercado, saiba onde e como investir. E auxilia a equipe do Sebrae a entender esses movimentos, o que precisa ser feito para dar atenção em geração de soluções novas ou de apoio para esses empreendedores e verificar quais são as principais dificuldades para as quais se deve direcionar esforço e recurso.
Rech afirma que o cenário no RS, demonstrado na pesquisa, é positivo para investimentos, já que o empreendedorismo por oportunidade é maior do que por necessidade:
— Cada vez mais notamos um acréscimo de percentual de pessoas que saem da CLT para empreender por enxergarem oportunidades de negócios. Em 2023, a GEM mostrou que os iniciantes empreenderam em 11,6% por oportunidade e 6,9% por necessidade no Estado.
A motivação apontada por esses novos empresários foi:
- Empreender para fazer a diferença no mundo, em 74,2% dos casos.
- Para ganhar a vida, porque empregos são escassos, em 72%.
- Para construir grandes riquezas, em 66%.
Outro dado compilado pela pesquisa é que, no Rio Grande do Sul, 43% dos empreendedores são homens e 37% mulheres. As faixas etárias entre 18 e 44 anos sonham em ter o próprio negócio. Mas os homens com idades dos 25 aos 44 anos são os que mais empreendem.
A pesquisa é realizada em anos alternados, sem data definida para a próxima. Em 2023, ela foi feita com 2 mil pessoas adultas e 39 especialistas. O Boletim Focus (relatório que resume as expectativas de mercado sobre a economia brasileira), naquele período da GEM, apontou que o PIB tinha um potencial econômico de crescimento de 2,92%.
De necessidade a oportunidade
A Pesquisa GEM e as orientações do Sebrae incentivaram a Gabriela Bortolotto, 29 anos, a abrir a Tutto Varie Boutique. A loja que oferta kits e cestas personalizadas para presentes tem cinco meses de existência no sistema online e cerca de um mês no físico, em Bento Gonçalves.
Gabriela é natural de Bento, formou-se em Técnica de Segurança do Trabalho e atuou na área por alguns anos. Recentemente, trabalhava em uma clínica odontológica, onde também era sócia. Mas, desde pequena, o desejo de ser empreendedora já rodeava a sua vida. Ela conta que sempre que precisava dar um presente a uma amiga, familiar ou colega de trabalho, pensava em presentear com algo incomum. Para isso, ia em lojas diferentes para comprar tudo o que precisava para montar um kit que agradasse a pessoa. Ela destaca que viu nisso uma oportunidade de negócio em meio a essa necessidade.
— Eu não tinha muito para investir, então comecei no virtual porque não tinha aluguel, não tinha uma série de questões. Se desse certo, ampliava para o físico, senão, seguia no virtual. E graças a Deus deu certo. Recentemente abri meu negócio físico — conta ela, relatando que a loja foi inaugurada no dia 11 de novembro.
A empreendedora tinha a ideia inicial e foi em busca da consultoria com o Sebrae para ser a rede de apoio. Ela destaca que a precificação do produto foi um dos pontos que mais sentiu dificuldade. Além de outras orientações na parte burocrática que nem imaginava a existência.
Criada a empresa, Gabriela investiu no Instagram, postando fotos e vídeos de produtos, mas com um mix bem reduzido. Com as vendas positivas, decidiu expandir, procurou um local para alugar e encontrou este estabelecimento de 50m², no bairro Progresso, em Bento, próximo ao Centro.
— Se encaixou no perfil porque eu queria algo que não fosse tão grande. Quero que pareça recheada e cheia de detalhes. Aqui consigo mesclar fornecedores de fora, para quem é de Bento, e fornecedores da região, para os turistas. Então, tem desde xícaras, cafés, molhos, chocolates, vinhos, cestas, aromatizantes, taças, cervejas, espumantes para montar um kit a qualquer gosto — explica a empreendedora.
Gabriela reforça que, com este contexto, ela quer expandir o negócio. Para o futuro, deseja que a loja cresça e vire um sucesso. E firme novas parcerias com fornecedores, para atender cada vez mais as necessidades das pessoas. A loja já oferece aromatizantes de marca própria. A expansão de produtos da marca Tutto Varie também está nos planos.
Caxias do Sul também expande
O executivo da Microempa, Antônio Bressan, afirma que Caxias do Sul e região estão em uma boa fase econômica para iniciar um negócio. Ele explica que, mesmo com as taxas de juro ainda altas, as linhas de crédito para financiamento oferecidas pelos bancos e cooperativas estão favoráveis. Bressan acredita que cada negócio é diferente, mas todos os empreendedores precisam ter recursos para investimento e vontade de começar:
— Acho que a vontade é o pontapé inicial e o que falta às vezes é que ele precisa de alguém por trás, encorajando-o para as inseguranças. Mas a tendência e o que vem crescendo realmente são pessoas que estão tendo o desejo de criar seu próprio negócio e isso é frequente. A gente recebe um volume significativo de pessoas procurando a entidade para esse tipo de orientação de como começar.
Além das orientações prestadas pelo Sebrae RS e pela Microempa, o potencial empreendedor de Caxias pode procurar a Sala do Empreendedor, na prefeitura. Conforme o secretário municipal do Desenvolvimento Econômico e Inovação, Jorge Catusso, neste ano, o número de atendimentos na Sala está constante. Confira a seguir os números divulgados pela pasta:
- Janeiro: 976
- Fevereiro: 1.036
- Março: 910
- Abril: 896
- Maio: 674
- Junho: 713
- Julho: 804
- Agosto: 916
- Setembro: 768
O espaço, que fica localizado no 3º andar da prefeitura de Caxias do Sul, auxilia de forma gratuita na formalização, regularização e baixa de empresas, na emissão de declarações e documentos. Além de oferecer palestras, capacitações, entre outras ações para fomento do empreendedorismo no município. Dos novos empreendedores de Caxias do Sul, em 2024, segundo os dados da secretária, os prestadores de serviços são maioria.
Os especialistas em empreendimentos repassam algumas dicas para quem deseja empreender na região:
- Buscar conhecimento sobre o produto/serviço e o espaço que ele tem no mercado atual.
- Planejar antes de investir, para encontrar o equilíbrio entre ser arriscado e ter cautela.
- Avaliar qual é o cenário financeiro atual do empreendedor.
- Buscar os fornecedores.
- Buscar consultoria do Sebrae, Microempa ou Sala do Empreendedor em Caxias do Sul.
Virada de chave na pandemia
Outra empreendedora atendida pelo Sebrae RS, que encarou a abertura do próprio negócio no ano passado, foi a Adriana de Albuquerque Abitante, 53 anos. Natural de Caxias do Sul, ela é proprietária da Abit Assessoria Financeira. A moradora do bairro Lourdes trabalha há mais de 20 anos no setor financeiro, onde também tem formação acadêmica. Na pandemia, com o trabalho no formato CLT em home office, percebeu que podia virar a chave:
— Percebi que ajudava a empresa onde eu trabalhava como CLT nas suas dores financeiras. Logo pensei que poderia ajudar outras empresas até de porte menor a organizar essa parte que, para muitos, é tão difícil e muitos não têm tempo.
Atualmente, Adriana tem quatro clientes fixos, de Caxias do Sul e região, e presta consultoria financeira online ou, quando necessário, presencial no cliente. Relata que a experiência na área a impulsionou a arriscar no empreendedorismo, mas confessa que sentiu medo e segue superando diariamente, sempre analisando os passos com cautela. As principais dificuldades elencadas por ela foram entender como estava o mercado no segmento financeiro e como precificar a consultoria.
— Fui até o Sebrae porque eu não sabia como vender o meu trabalho, como cobrar. Por estar como CLT, não tinha ideia de como o mercado estava cobrando essa assessoria. Então, desenvolvemos um plano de marketing, superamos os medos e mostramos a Abit Assessoria no mercado — explica.
Adriana acredita que o empreendedorismo, mesmo recente, já mudou a própria vida. Tanto que ela pretende expandir no próximo ano, firmar parcerias e dar também palestras sobre educação financeira. No Sebrae RS, ela já tem um projeto definido para iniciar em janeiro de 2025.