O novo ano está logo ali e as contas também. A troca de calendário costuma coincidir com gastos extras, com festas, viagens, férias, impostos como IPTU e IPVA, além da preparação para o início do ano letivo, com uniforme, transporte e material escolar. Por isso, as famílias precisam garantir a organização financeira e a cautela para que esse acúmulo de contas não vire uma bola de neve. Essas são as principais sugestões de economistas de Caxias do Sul em relação ao planejamento da população em 2024.
Economista da Unicred Integração de Caxias do Sul, Michele Flores Accorsi comenta que a saúde financeira impacta diretamente no bem-estar pessoal. Por isso, segundo ela, é importante pesquisar ferramentas que auxiliem na organização.
— A dica é começar de uma forma simples, tomando nota de todas as suas despesas e receitas. Isso ajuda você a ter maior clareza dos ganhos, dos gastos, das dívidas e das economias que precisam ser feitas.
Segundo Michele, os resultados da terceira edição do Índice de Saúde Financeira do Brasileiro, (i-SFB), uma iniciativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com apoio técnico do Banco Central (BC), mostram uma estabilização deste indicador no último ano em relação a 2022. A pesquisa mede a saúde financeira do brasileiro. Em 2023, o índice geral apresentou uma leve melhora em relação ao ano anterior.
A pesquisa aponta que os brasileiros têm pouco espaço para manobras em um apertado espaço de equilíbrio financeiro e também indica uma estabilização da saúde financeira no país. A economista afirma que, no último ano, não houve mais brasileiros entrando na zona de maior bem-estar ou na de maior estresse financeiro. Ou seja, na visão de Michele, o Índice parou de cair, mesmo que as finanças pessoais continuem sob risco de entrar em patamar de estresse financeiro.
Diferença entre endividamento e inadimplência
A professora de economia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Maria Carolina Gullo explica que o endividamento é quando você fez algum tipo de compra parcelada ou contraiu um financiamento ou empréstimo para ser pago em parcelas. Já a inadimplência é quando você não consegue honrar o pagamento das dívidas contraídas:
— Por exemplo, você comprou um carro e financiou em 36 meses. Está endividado por 36 meses, tem este compromisso que vai fazer parte do seu orçamento por igual período. Mas, se você não consegue pagar as parcelas, você fica inadimplente.
Ela elenca dicas para para não transformar o endividamento em inadimplência e melhorar as finanças de 2024:
- Planejar o orçamento, controlando todos os pequenos gastos;
- Observar os prazos para garantir descontos ao pagar impostos e taxas;
- Se está inadimplente, procurar negociar o pagamento diretamente com o credor;
- Se possui endividamento, planejar os gastos futuros para não se tornar inadimplente.
A coordenadora de SPC e Cobrança da CDL Caxias, Rita Pereira, sugere também que as pessoa físicas tomem muito cuidado na hora de fazer uma compra. Segundo ela, o consumo precisa ser consciente. Por isso a dica é fazer uma planilha anotando os gastos.
A orientação de Rita também contempla os empresários associados da CDL, que devem estruturar a própria política de crédito. Isso significa cuidar da concessão do crédito, estabelecendo padrões de limite. Segundo Rita, quanto mais jovem a pessoa que está comprando, maior é o risco de endividamento. Portanto, o comerciante deve cuidar do volume de venda e, quando possível, pedir um pagamento de entrada.
Feirão Quita Dívida
No momento em que há o consumo desenfreado por parte de um cliente ou uma venda mal planejada pelo empresário há grandes chances de ocorrer a inadimplência daquela dívida. Segundo Rita, evitar essas situações é um dos objetivos do Feirão Quita Dívida, ação tradicional da CDL no final de ano.
— Entendemos que acontecem situações como perda do emprego, doenças na família ou percalços fora do controle. Por isso fazemos ações como o Feirão Quita Dívida. Nosso objetivo é mostrar para a pessoa que ela pode financiar (a dívida) de uma forma adequada para o que cabe no orçamento dela.
A 6ª edição do feirão segue até a próxima quarta-feira (03). Segundo a CDL, apenas na primeira quinzena deste mês, 1.396 negociações foram feitas e a previsão é de que R$ 950 mil em passivos recuperados voltem a circular na economia em dezembro. A expectativa da entidade é de superar os R$ 7 milhões.
Participam da sexta edição da iniciativa 1.333 empresas de Caxias do Sul. Os credores podem receber o contato da equipe da CDL pelo telefone (54) 3209.9977 ou WhatsApp (54) 9.9916.2108 ou ir pessoalmente até a entidade na Rua Sinimbu, 1415, esquina com Alfredo Chaves), das 8h às 18h, sem fechar ao meio-dia.
Segundo pesquisa da CDL, até setembro deste ano 149.544 caxienses estavam com, pelo menos, uma conta atrasada. O número representa 35,6% da população economicamente ativa do município em situação de inadimplência e indica um aumento de 0,47% em comparação a agosto e de 3,19% em relação ao mesmo período de 2022. Na origem da inadimplência, estão os bancos, com 63,61%, seguido por contas de água e luz, com 11,67%, comércio caxiense, com 11,40%, e setor de comunicação, com 6,48%. Já o valor médio das dívidas é de R$ 4.825,10, uma variação de 17,34% em relação a setembro do ano passado. A pesquisa é feita trimestralmente, portanto, dados mais atualizados serão divulgados em janeiro de 2024.
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) do Rio Grande do Sul, promovida pela Fecomércio RS, em novembro de 2023 90,9% das famílias gaúchas estavam endividadas. As pessoas têm contas ou dívidas contraídas, em sua maioria, com cheque especial, cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimo pessoal, compra de imóvel e prestações de carro e de seguros.
Os dados de novembro mostraram uma queda na margem do percentual de famílias endividadas e de famílias com contas em atraso em relação a outubro, onde 94,5% das famílias estavam com dívidas. A pesquisa divulgou ainda que, mesmo com o percentual de endividados e de famílias com contas em atraso permaneçam em patamares elevados, o tempo de atraso tem se reduzido. O indicador de persistência da inadimplência também segue em patamares bem reduzidos. O percentual de famílias com dívidas em atraso foi de 40,0% e 2,6% das famílias não terão condições de pagá-las.
Nacionalmente, de acordo com o Serasa, em novembro de 2023 os dados indicam uma redução no número de consumidores inadimplentes após três meses de crescimento consecutivos. Com 71,81 milhões de brasileiros em situação de inadimplência, a queda foi de 143,5 mil em relação ao mês anterior.
2024, o ano da cautela
O economista da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC) Tarciano Mélo Cardoso faz um balanço de 2023 e relata que 2024 precisa ser planejado com cautela. Segundo ele, houve uma evolução nos níveis de endividamento das famílias em Caxias do Sul, devido a um período longo de restrição ao consumo, associado a aumento de preço, juros e injeção de dinheiro na economia, tanto no Brasil quanto no cenário externo. Além disso, o acesso ao crédito de valores pequenos tem sido facilitado.
Na visão do economista, esses fatores atrelados ao incentivo ao consumo despertam o desejo e a propensão aos gastos. Ele também cita que a indústria teve aumento significativo da massa salarial, outro fator que daria uma sensação de poder alcançar os desejos ora contidos em tempos anteriores. Além disso, mesmo com o aumento no número de pessoas empregadas, existe uma alta rotatividade dos postos de trabalhos. Isso acaba gerando, por vezes, uma quebra no nível de renda das famílias e influencia o risco de inadimplência.
— Caxias do Sul não apresentou números preocupantes em 2023 em termos econômicos, mesmo se olharmos a indústria que apresentou recuo perante 2022. Se olharmos da porta para dentro, foi um ano em que as fábricas, na média, apresentaram bons níveis de produção e empregabilidade. O comércio vem apresentando números positivos, mesmo com uma velocidade menor de crescimento. E serviços foi ano de recuperação — resume ele.
Para 2024, na visão do economista os empresários devem ser bastante cautelosos. Ele acredita que o cenário global ainda apresenta juros altos e um certo nível de inflação, que aparentemente está cedendo. Isso faz com que o investimento em setores produtivos acabe ficando restrito, representado pelo movimento em fusões e aquisições que apresentou recuo em 2023. No Brasil houve aprovação de projetos governamentais que mexem com a confiança do empresário investidor. O arcabouço fiscal e a reforma tributária são dois pontos que devem gerar restrições e incertezas de investimentos neste começo do ano, segundo Tarciano.