Seguindo a tendência estadual, a região da Serra registrou aumento de mais de 20% na venda de veículos novos no primeiro semestre de 2023. O aumento foi de 21,58% na região que compreende Caxias do Sul, Flores da Cunha, Gramado, Bento Gonçalves e Farroupilha, de acordo com levantamento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Caxias do Sul se saiu ainda melhor no levantamento: a alta foi de 26% de crescimento, chegando a 4.222 vendas nos seis primeiros meses de 2023. Para comparar, o aumento no Brasil foi de 14%, enquanto que, no Rio Grande do Sul, de 20%.
Em números brutos, a região teve 7.318 emplacamentos em 2023, contra 6.019 no mesmo período de 2022. Apenas no mês de julho de 2023, foram 1.076, contra 952 no ano passado, que que representa um aumento de 13,03%.
De acordo com o presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, o primeiro semestre de 2023 registrou alta na venda de veículos zero quilômetro em todo o país. Ele explica que isso ocorreu em função de que, no início de 2022, o volume baixo de emplacamentos e de licenciamento de veículos tinha relação direta com o período pós-pandemia.
— Foi um período em que tivemos quebras de suprimentos, dificuldades de importação de elementos, especialmente componentes eletrônicos e microchips, além dos efeitos iniciais da guerra Rússia-Ucrânia. Os mercados se reprimiram naquele momento e, por isso, a gente encontra números maiores neste momento, quando comparamos 2022 e 2023 — explica.
Coordenador de cursos na área automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), o professor Antônio Jorge Martins também afirma que os dados de julho ainda contam com impulso do programa federal:
— Muitas vendas que foram realizadas em junho, frutos do incentivo, acabaram gerando o emplacamento somente em julho.
Martins destaca a antecipação de compra por parte de alguns consumidores como outro fator importante nos últimos meses. Parcela dos compradores que planejava efetivar a aquisição de veículo nos próximos meses adiantou o processo para aproveitar preços reduzidos, influenciando nas altas de junho e julho, segundo o especialista.
Incentivo fez diferença
A alta de vendas foi percebida, principalmente, no período junho-julho de 2023, quando o incentivo do governo federal passou a valer. Na prática, essa mudança possibilitou descontos em veículos com alta eficiência energética e veículos com valor de mercado de até R$ 120 mil.
A gerente de vendas da concessionária Hyundai Caoa, Daniela do Amaral, conta que a procura aumentou significativamente nos últimos dois meses. Ela explica que a procura foi tanto por carros menores, como os hatchs, quanto por SUVs.
— Nós tivemos uma procura bastante significativa por conta dos valores. Há uns dois meses, veículos que a gente vendia a R$ 89 mil, estávamos vendendo a R$ 73 mil. A gente teve um aumento no fluxo de loja também. Teve um sábado com fluxo de mais ou menos 15 clientes no dia, o que, geralmente, é entre cinco a 10 clientes — afirma.
Da mesma forma, o diretor-executivo da DG Sul Chevrolet, Marco Antônio Hartmann, também afirma que a procura tem sido boa, principalmente em julho, com os incentivos do governo federal.
— Esse aumento que falamos é sobre uma base baixa, na verdade, porque em 2022 ainda havia reflexo da pandemia na produção dos carros e a falta de componentes. Houve pouca oferta de produtos no primeiro semestre de 2022, mas esse aumento na procura ainda não voltou ao que era na pré-pandemia — conta.
Por lá, o modelo que mais chama atenção dos clientes é a SUV. De acordo com Hartmann, esse é o desejo da maioria. No entanto, pela faixa de preço compreendida no incentivo federal, o modelo com mais saída foi o Ônix, considerado o mais popular da marca.
— No caso da Chevrolet, o modelo que mais tinha descontos, era de R$ 7 mil reais de desconto. Era um bom valor. O mês de julho começou com muita taxa zero nos carros e isso incentivou bastante o consumo também — explica.
Próximos meses
O coordenador de cursos na área automotiva da FGV não enxerga espaço para altas nas vendas neste mesmo patamar nos próximos meses. Martins justifica o fato de o setor não contar com os fatores que inflaram as vendas nos últimos meses:
— O fator extra deixou de acontecer. Daqui pra frente, não teremos nem incentivo e, possivelmente, nem antecipação de compras.
O presidente Fenabrave/Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, afirma que o segundo semestre historicamente costuma registrar desempenho melhor ante a primeira metade do ano diante de alguns fatores sazonais, como pagamento do 13º salário e lançamento de novos modelos. Esse movimento, somado a um ambiente melhor da economia, com crédito menos restrito, pode ajudar o setor nos próximos meses, segundo o dirigente.