Segmento bastante impactado pelas restrições da pandemia de covid-19, o setor de serviços foi o que mais contribuiu para a economia de Caxias do Sul fechar o primeiro semestre de 2023 com crescimento de 5,8%. O setor subiu 22,2% entre janeiro e junho deste ano. Em seguida, aparece o comércio, que cresceu 5,8% no primeiro semestre. A indústria, principal motor da economia caxiense, caiu 3,2% no mesmo período, mas vem ganhando fôlego a cada mês.
Os dados do desempenho econômico de Caxias do Sul foram divulgados nesta quarta-feira (8) pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). O setor de serviços foi o único que cresceu em todos os cenários analisados e teve o melhor desempenho entre junho de 2022 e junho deste ano, quando saltou 36% na comparação (veja tabela abaixo).
É um alívio para um setor que voltou a ficar positivo somente em outubro de 2022 e vem acumulando altas, chegando agora pela primeira vez no patamar dos 20% de crescimento no ano. Na avaliação dos economistas, a atividade econômica cresceu porque o consumidor está cada vez mais retomando o comportamento que tinha antes do período pandêmico.
— Foi o setor que mais sentiu, que parou, estacionou e não tinha movimento nenhum (na pandemia). Temos agora uma demanda reprimida do consumidor. Quando virou a chave, após dois anos, aquilo veio tudo em conjunto. Quando você tem números estatísticos negativos no histórico e você vira para positivo, com toda essa demanda reprimida, é observado esses crescimentos robustos — explica o diretor de Economia, Finanças e Estatística da CIC Caxias, Tarciano Melo Cardoso.
O levantamento não especifica qual atividade do setor de serviços mais cresceu, mas o entendimento dos especialistas é de que entretenimento e beleza têm se destacado no período. Quem trabalha com esses setores percebe essa alta demanda.
A empresária Liamara Pereira, à frente da marca caxiense Differenza Espaço de Beleza, conta que o primeiro semestre deste ano foi movimentado nas duas unidades do estabelecimento. Vinte novos profissionais foram contratados para dar conta de atender um cliente que quer voltar a investir em beleza e bem-estar.
— O mês de março foi excelente, teve uma procura 50% maior do que em 2021, por exemplo. As pessoas retornaram das férias querendo mudar o visual, escolhendo um serviço que há tempos não contratavam, como mechas nos cabelos, podologia — explica ela, que trabalha no ramo há três décadas.
O comportamento do consumidor também tem mudado, segundo Liamara. Agora, os clientes preferem contratar os serviços em dias de semana e não mais aos sábados e domingos.
— Temos muita procura nas segundas-feiras, o que antes era um dia menos movimentado. É o melhor dia também para fazer novos clientes, uma vez que ainda há muitos salões de beleza que não abrem na segunda. A quinta e a sexta seguem como principais datas e o fim de semana cada vez menor —exemplifica.
No setor de eventos, o crescimento também é comemorado. Se antes o cliente dispensava o mês de julho, devido à incerteza do clima, agora o período voltou a ser considerado por quem quer encontrar um lugar especial para sediar uma festa.
— Voltamos ao normal, sofremos muito na pandemia. Cresceu a procura, principalmente para eventos maiores. Os aniversários de 15 anos aumentaram muito, o que não se via antes. As meninas querem comemorar. Os casamentos eram menores, mas agora se percebe um número maior de convidados, querem ter a família toda nas festas — conta a proprietária do Altos do Vale Casa de Eventos, Daniela Orlandi Rizzi.
Quem deseja reservar um espaço na casa de eventos vai encontrar finais de semana disponíveis apenas em 2024. É que todos os sábados e domingos deste ano estão ocupados.
Inverno fraco reduz expectativa do comércio
Um dos principais "vendedores" do comércio neste período, o inverno não tem feito a sua contribuição para os números da economia caxiense. Em junho deste ano, por exemplo, a venda de vestuários, calçados e tecidos caiu 11,8%. É que com os termômetros em alta, o consumidor não precisa se preocupar em abastecer o guarda-roupa com itens de frio.
— Junho não tem data expressiva, o Dia dos Namorados é algo nichado, então o frio seria um bom fator para estimular as vendas no comércio, o que não ocorreu —conta o assessor de Economia e Estatística da CDL, Mosár Leandro Ness.
Mesmo assim, depois de uma sequência de três meses com resultados negativos, o varejo cresceu em junho tímido 1% na comparação com maio deste ano. O cenário é avaliado com cautela: as oscilações sazonais, comuns no comércio, este ano estão se tornando quedas. No período, cresceram as vendas de implementos agrícolas (9,6%), automóveis, caminhões e autopeças (4,6%) e material de construção (5,2%).
A esperança do setor é um segundo semestre melhor, impulsionado pelo Dia dos Pais, Dia das Crianças, Black Friday e o Natal - os dois últimos potencializados pelo 13º salário.
Uma preocupação do comércio caxiense é o crescimento da inadimplência. Em um ano, entre junho de 2022 e o mesmo período deste ano, a base de clientes com algum tipo de restrição de crédito subiu 4,3%.
— As pessoas estão superendividadas, com a renda bastante comprometida. O crédito se tornou mais acessível, as compras podem ser feitas no celular. E se a pessoa não tiver disciplina, não souber se controlar, vai cair nessa armadilha — alerta Ness.
Indústria reduz queda e contrata mais
Responsável por 53% da economia caxiense, a indústria de Caxias do Sul vem se recuperando mês a mês. Após cair 10,3% em janeiro, o setor vem reduzindo o índice negativo e encerrou o semestre em baixa de 3,2%.
Na avaliação dos economistas, o segmento, que foi o primeiro a se recuperar dos efeitos da pandemia, atingiu o pico de crescimento, caiu e agora busca estabilidade.
As incertezas do primeiro semestre, como discussão da reforma tributária no Congresso Nacional, arcabouço fiscal em debate e juros alto no exterior afastaram os investimentos no setor. Com o avanço dessas pautas e a queda na taxa básica de juros, a expectativa é de um segundo semestre de altas.
— A gente cresceu muito no setor industrial. Se continuássemos crescendo naquele ritmo, ia faltar Caxias para colocar indústria dentro. Na média, ele estacionou, mas em um nível de médio para alto. Nos últimos 12 meses, ela vinha caindo, mas virou positiva. Se continuar com esse movimento, ela vira positiva dentro desse período — afirma o diretor de Economia, Finanças e Estatística da CIC Caxias, Tarciano Melo Cardoso.
Entre janeiro e junho, o setor comprou e vendeu menos, mas contratou e trabalhou mais, ou seja, observando maior movimentação no futuro. A indústria segue como o principal contratador de mão de obra: são 75.388 pessoas empregadas nas fábricas - o maior número de funcionários com carteira assinada desde 2015, quando eram 75.779 pessoas.
Em junho, Caxias atingiu a marca de 161.339 trabalhadores com carteira assinada, o maior número também em oito anos.
Mercado externo: retração nas exportações e aumento nas importações
Os dados reunidos no relatório demonstram que as exportações diminuíram em junho em Caxias do Sul, enquanto que as importações aumentaram em comparação com o mês anterior. A exportação teve redução de 3,8%. Já as importações tiveram acréscimo de 3% no período.
O saldo da balança comercial, por sua vez, reduziu 21% em relação a maio. Entretanto, no acumulado de doze meses o resultado positivo é de 77%.
Os principais países de destino das exportações caxienses em junho foram Estados Unidos, Chile e Argentina. Já as importações se originaram principalmente da China, Itália e Alemanha.