O clima deve prejudicar novamente a safra da maçã na Serra, responsável por 98% da produção do Estado. Em 2023, a estimativa é que a colheita deve seguir no mesmo patamar do ano passado, conforme a Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi), quando quase 482 mil toneladas do fruto foram colhidas na região. No país, a quantidade de 1 milhão de toneladas também deve ser mantida. Como explica o presidente da entidade, José Sozo, a safra só não é maior por conta das condições climáticas enfrentadas nos últimos meses.
Assim como no último ano, a seca é um dos fatores que prejudicam a safra. Sozo explica que, sem a chuva, o fruto não consegue crescer e chegar ao tamanho ideal. A seca do ano passado, ao mesmo tempo, também atrapalhou esta safra, já que as macieiras sofreram com o calor no momento em que entravam na dormência (isto é, o momento em que as plantas entram em repouso antes de iniciar um novo ciclo), quando o frio é necessário.
— Não é que afetou todas as regiões. O problema é que as chuvas de verão são muito esparsas. Às vezes chove aqui e 10 km adiante não chove. A água é mal distribuída. Essas secas, quando são graves em pleno crescimento da fruta, realmente atrapalham a fruta e o desenvolvimento da maçã no futuro — explica o presidente da Agapomi.
No Estado e no Brasil, as duas principais variedades são a Gala e a Fuji. Há também outras maçãs, como a Eva, mas em menor quantidade.
A Gala é a primeira a ser colhida, entre o final de janeiro e início de fevereiro. Sozo descreve que esta variedade está com o crescimento inadequado, mas “um pouco melhor que do ano passado”. Enquanto isso, a Fuji inicia a colheita na segunda quinzena de março. Assim, será uma fruta maior, o que dá uma melhor perspectiva para a safra. Em regiões mais quentes a colheita é adiantada.
Frio tardio prejudicou formação da fruta
O engenheiro agrônomo da Emater, Tiago Figueiredo, concorda que as condições climáticas do ano passado foram “complicadas”. Figueiredo atua nos Campos de Cima da Serra, região que, sozinha, corresponde a 85% da produção estadual. Como explica o agrônomo, o frio, que chegou um pouco depois, ajudou na fase de dormência, mas, ao se estender, atrapalhou as etapas de floração e brotação, as deixando “desuniformes”.
Consequentemente, a polinização feita pelas abelhas nas flores que dão os frutos foi prejudicada. Outro problema foram as geadas tardias registradas em algumas regiões. Estes dois cenários afetaram no pegamento do fruto, ou seja, na formação do fruto. O efeito foi uma redução das frutas nas macieiras.
— Com relação a qualidade, como sobraram poucas frutas nas plantas, o que tem hoje e não pegou granizo e não vai pegar, provavelmente vai ser um tamanho calibre bom. E por termos dias quentes e noites frias, essa amplitude térmica ajuda bastante na coloração. Então, possivelmente, teremos frutas coloridas e de ótimo calibre, porém em quantidade menor — explica o engenheiro agrônomo.
Figueiredo lembra que pomares em municípios com clima mais quente podem ter os efeitos amenizados.
Safra boa em Caxias do Sul
Caxias do Sul é responsável por quase 13% da produção de maçã do Estado. Entre as cidades da Serra, inclusive, é a segunda com mais áreas de plantação de Fuji e Gala. Apenas em 2022, a cidade produziu, sozinha, mais de 47 mil toneladas. Com maior território de plantações, em primeiro, está Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, que produziu mais de 257 mil toneladas no ano passado, e em terceiro está Bom Jesus, com mais de 65 mil toneladas produzidas.
No município, o produtor Jucemir Zatta, 45 anos, celebra a safra deste ano. Com cinco hectares de macieiras, na região de Fazenda Souza, o agricultor descreve que o clima não prejudicou a plantação dele. Inclusive, a chuva desta semana foi comemorada por ajudar a incrementar mais o tamanho da maçã. No momento que a reportagem estava na propriedade começou a chover, o que deixou o produtor sorrindo.
Zatta cultiva principalmente Fuji e Gala, em que já iniciou a colheita, por estar em uma localidade mais quente. Parte da produção está até já sendo exportada para outros Estados.
— A expectativa está boa. Está excelente. Deu esses dias um pouco de seca, mas não sofreu nada. Tá legal — afirma Zatta, que vê a safra dentro do esperado.
O produtor caxiense tem uma safra de 60 mil quilos por hectare, que é exportada para estados como Paraná, Bahia e Mato Grosso. Da propriedade de Zatta, tudo vai para outras localidades do Brasil.
— Está ideal, está excelente o tamanho e a cor. Já estou colhendo e enviando para fora — conta o agricultor.