Um mundo mais conectado e integrado digitalmente é uma realidade cada vez mais próxima para Caxias do Sul, na visão do especialista Renan S. Antoniolli. Isso porque, segundo ele, a tecnologia 5G deve chegar no segundo maior município do Rio Grande do Sul neste ano que está por chegar.
Antoniolli é senior manager de capital projects 5G da Deloitte, empresa de serviços de auditoria, consultoria, assessoria financeira, risk advisory, consultoria tributária e serviços relacionados, que atua em mais de 150 países. O especialista esteve no 27º Meetup, promovido pelo Trino Polo, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), dia 21 de novembro, e falou sobre a tecnologia e suas aplicabilidades, além do impacto que a chegada do 5G pode trazer às indústrias e empresas da Serra gaúcha.
Confira a entrevista na íntegra:
De que forma acreditas que o 5G pode potencializar a Serra?
Na verdade, o 5G pode potencializar várias empresas, não só a conectividade para o dispositivo móvel, como tá todo mundo vendo hoje, né? Mas o 5G traz algumas características que, a geração anterior, o 4G, não permitia. Uma empresa pode ter sua rede privada 100% 5G, 100% privativa, com total segurança, como se fosse uma rede própria, mas utilizando todos os benefícios do 5G. Então, cada empresa tem o seu core business, e dependendo do seu core business, uma indústria, por exemplo, e tem muitas indústrias aqui na Serra gaúcha, pode automatizar 100% a sua linha de produção, pode robotizar sua linha de produção, pode ter a sua transformação digital potencializada com o 5G.
De forma prática, como isso funciona?
Por exemplo, eu posso ter vários vários veículos autônomos empilhadeiras, no centro de distribuição. Eu posso ter braços mecânicos. Eu posso te drones autônomos para o agronegócio. Atualmente, a gente tem muitas empresas que produzem vinhos aqui na Serra gaúcha. Eu posso ter veículos 100% autônomos, fazendo toda parte de colheita, de pulverização até, muitas vezes, de implantação através do 5G.
E qual é a dimensão da cobertura, se comparado com wi-fi?
O 5G permite ter uma grande cobertura. Principalmente no agro, (o 5G) permite ter muito mais segurança que o wi-fi, pensando uma indústria. E permite ter muito mais dispositivos conectados. Por exemplo, 5G permite um milhão de dispositivos conectados por km², garantindo a cada um deles velocidades acima de 2 gigas por segundo.
E como pode contribuir com o meio rural, onde geralmente não tem tanta cobertura de internet?
Esse é o principal ponto. Não tem a cobertura pelas operadoras, porque não interessa pra elas ter uma cobertura no meio rural, porque não tem dispositivo móvel, não tem muitas pessoas no meio rural. E aí que entra 5G na rede privada. A equipe de TI da empresa do agronegócio, ela tem a sua própria rede 5G, então é uma rede privativa, não é uma rede pública. Então eu consigo cobrir hectares e hectares com a rede própria, segura, de alta velocidade de baixo latência, onde eu posso conectar diversos tratores, colheitadeiras, drones e fazer um agro 4.0 propriamente dito.
E como fica o sinal no meio rural? Pode ter interferência de antenas parabólicas?
Não, na verdade esse problema já está sendo mitigado. O que acontece? O 5G vai trabalhar a frequência muito próximo das antenas parabólicas e é por isso que a (Agência Nacional de Telecomunicações) Anatel está trocando as parabólicas que trabalham nessa frequência próxima ao 5G, migrando elas para a banda Ku, saindo da banda C para a banda Ku, que é uma banda acima de 10 Gigahertz e não tem interferência, então ela está saindo da zona de interferência do 5G para que o 5G consiga trabalhar na sua plenitude.
Muito se fala também na funcionalidade na saúde. Como é que vai ser? Podes dar alguns exemplos?
A gente já tem alguns projetos com alguns hospitais que já são realidade. A gente está fazendo um projeto onde estamos conectando as ambulâncias, então tem muitas ambulâncias que já têm conectividade 5G e, na hora do atendimento, o próprio médico, paramédico que está naquela ocorrência, em deslocamento ao hospital, tem conexão direta com o hospital, passando todas as informações em tempo real. Então a equipe que recebe o paciente já tem todas as informações. Um outro projeto que a gente está trabalhando é conectar diversos equipamentos de alta complexidade dentro de um hospital, dando conectividade com a rede privativa. Então, por exemplo, hoje eu consigo conectar máquinas de ultrassom, de ressonância magnética, todos esses aparelhos complexos que geram imagem pesadas, eu já consigo ter conectividade, dar conectividade para ter um sistema completamente integrado. Uma outra possibilidade do 5G é que um médico ou um enfermeiro com baixo conhecimento de equipamento médico consiga fazer um atendimento no meio da Amazônia e um médico em São Paulo, em tempo real, fazendo laudo.
E a questão da cidade inteligente, como funciona essa aplicabilidade do 5G?
Elas são as mais beneficiadas com o 5G. Como o 5G tem essa possibilidade de ter um milhão de dispositivos por km² conectados, agora eu consigo conectar exatamente tudo. A internet das coisas vai se tornar realidade, porque vou ter todos os dispositivos da cidade conectados, então tenho todos os sensores de chuva, solares, os carros conectados. Os carros autônomos vão estar conectados à estrutura semafórica. Ele vai saber quando o sinal vai abrir, quando vai fechar, além de conectar com os outros carros, então vou saber a posição de onde cada carro está. Possivelmente, a gente não vai ter mais semáforos, porque todo carro vai saber o ponto de abrir, de fechar e aonde está os outros carros, então os engarrafamentos tendem a reduzir e os acidentes tendem a diminuir. Fora todos os outros projetos e dispositivos conectados. Hoje consigo colocar um sensor de chuva em uma zona com risco de desabamento. Então eu consigo avisar a população que aquela é uma zona de risco.
Tem uma previsão de quando o 5G pode chegar em Caxias?
O 5G tem um cronograma para acontecer e, possivelmente, lá no início de 2023, Caxias pode receber (o sinal). Isso por parte das operadoras, mas isso não significa que as indústrias que buscam uma rede privativa, para melhorar a sua conectividade, melhorar todos os seus processos produtivos, não possam ter hoje uma rede 5G própria, buscando uma empresa de consultoria de projeto para desenhar todo um escopo para entender como o 5G pode beneficiar aquela indústria.