Uma das lembranças dos tempos de escola, para as pessoas de meia-idade, era ver os professores precisando carregar pilhas e pilhas de folhas. Eram tarefas de casa, provas para corrigir. Mas atualmente, com o advento de muitas tecnologias, uma das possibilidades existentes é a correção textual através da inteligência artificial.
Ideia de três professores - Simone de Oliveira, Jocimara de Lima e Daniel Epstein - que buscaram na tecnologia um auxílio para minimizar o trabalho com as correções. Hoje, cinco anos depois do início da criação, 700 mil alunos utilizam a Gomining, uma empresa de Caxias do Sul, que no último dia 8 de novembro recebeu o prêmio do Ranking 100 Open Startups, sendo reconhecida como uma das 10 melhores startups de educação da América Latina. CPO e uma das fundadoras da empresa, Simone de Oliveira é doutora em Informática na Educação (UFRGS), mestra em Educação (UFRGS), especialista em Informática Educativa, especialista em Educação a Distância e graduada em História (UCS). Tem experiência em gestão educacional e coordenação de educação a distância (EAD), além de ter sido professora por mais de 20 anos. Na entrevista a seguir, ela conta mais detalhes da experiência premiada. Confira:
Como surgiu a ideia de abrir a startup e qual foi trabalho desenvolvido para chegar até aqui?
A nossa startup nasceu da sala de aula mesmo. Fui professora há mais de 20 anos na educação básica, no ensino superior. Todos nós (sócios) viemos da sala de aula. E da sala de aula a gente trouxe um problema que tinha: eram muitos alunos e como corrigir e manter a qualidade? E esse problema nós levamos para nossas pesquisas, de mestrado e doutorado. A tese do meu doutorado, por exemplo, é uma parte onde iniciou nossa empresa. Nós criamos, juntos, para ser uma ferramenta nossa, de sala de aula. Eu ia usar na minha sala de aula. Não era para ser uma empresa. E na hora da apresentação do doutorado, uma professora que estava presente sugeriu que se tornasse uma startup. Uma semana depois, ela nos encaminhou para a incubadora startucs, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e um professor nos encaminhou para abrir uma empresa. A gente não sabia nada de empresa, eram três professores, que criaram uma tecnologia na sala de aula para seus alunos e, de repente, ela se tornou uma startup. Isso tudo foi em 2017. Fomos encaminhados para o Gramado Summit, onde apresentamos nossa ideia para investidores. Terminamos a tecnologia em 2019. Em outubro de 2019, a gente conseguiu nosso primeiro cliente e ali nós começamos.
Como são na prática essas correções?
A gente faz correção de texto por IA (inteligência artificial). A gente corrige qualquer tipo de texto, porque é uma IA que vai ser padronizada, programada, para conforme o que tu precisa. Porque cada tipo de texto que tu vai trabalhar tem critérios diferentes. O texto que vais trabalhar para o vestibular é diferente do texto para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), então cada texto que a gente vai corrigindo, tudo através de banco de dados, ninguém vai fazer manualmente, tem todos esses parâmetros. Cada cliente nosso faz um projeto específico com o que ele precisa e para cada produto. Eu tenho produto de vestibular, do Enem, para respostas de atividades curtas ou longas e tem também para simulados de Enade e para pós-graduação. Então, cada produto tem os seus critérios, textos e parâmetros diferentes para atender a necessidade.
De que forma e qual mercado utiliza essa ferramenta?
Hoje, a gente tem vários clientes. Eles contratam o nosso sistema e a gente integra no sistema deles, fica tudo muito organizado para a instituição. Os clientes, a maioria é do Ensino Superior. Educação Básica a gente está começando agora e também estamos entrando para o corporativo, que é uma área que surgiu para nós. Um dos parceiros que a gente tem é a Anima, um grupo supergrande no Brasil. Acho que, dos 10 maiores, a gente tem uns oito já como cliente. Alguns a gente pode divulgar, outros não, porque temos sigilo de contrato.
Quais são os benefícios da ferramenta?
Inúmeros. Temos benefícios para a instituição, para o professor e para o aluno. A instituição consegue otimizar o seu tempo e organizar a gestão de pessoas para estarem envolvidas neste processo de avaliação, no processo pedagógico de sala de aula. O professor tem em mãos uma fotografia individual de cada aluno, de como ele está se saindo nas avaliações, nos textos dissertativos, tem da turma inteira, tem da universidade, da escola inteira. Então ele tem essa propriedade e todos os instrumentos na sua mão para, a partir disso, ir direto na dificuldade do aluno, direto na lacuna do aluno. Então ele consegue ter essa direção superclara. O aluno recebe um feedback personalizado, com nota quantitativa, com descritivo, com recomendação de conteúdo. Recebe uma resposta que é só dele e em sete segundos. Então, o retorno para o aluno é muito rápido. O tempo de retorno é a instituição que escolhe, mas, para nós, se ele quiser em sete segundos, ele terá.
Em 20 anos sendo professora, já imaginastes que algum dia teria auxílio da tecnologia?
Não... Jamais. Quando fiz minha graduação, não tínhamos essa perspectiva do uso da tecnologia. Os professores têm uma certa resistência, não fomos formados para isso, chegamos em uma época que o professor precisa ensinar a máquina. Ultrapassou muito o que a gente imaginava como professor, o que tu sonhava como professor. Nunca na minha vida imaginei que a gente ia ensinar as máquinas.
Acreditas que ainda tenha mais o que explorar da tecnologia para a educação?
Sim. A gente tem muita pesquisa ainda para fazer, muita tecnologia que dá para utilizar na educação. Temos um campo gigantesco. Sem jamais substituir o professor. Aqui a gente não substitui o professor. É um apoio para o professor, para que ele pare de corrigir 7 mil atividades iguais, porque não foi para isso que a gente estudou. Para que ele possa ter foco no seu verdadeiro sentido, que é ensinar.
Os clientes de vocês são só brasileiros? Se sim, tem perspectiva de ultrapassar fronteiras?
Hoje nós temos 65 clientes no Brasil e nós temos dois projetos em teste fora do Brasil, com correção em inglês e em espanhol. Isso dá para nós, até agora, mais de 5 milhões de atividades corrigidas.