Em uma máquina, o farelo de trigo é misturado à água e, em poucos minutos, a mágica acontece: uma embalagem surge na esteira. Então basta colocar no forno para secar e ela está pronta para o uso. Parece simples e é, mas para chegar até essa etapa foi preciso "quebrar a cabeça".
A sugestão de transformar o coproduto do trigo partiu de um funcionário da Orquídea Alimentos, em 2019, e a empresa caxiense abraçou a ideia. Coube a Nei Antônio Marquetti, supervisor industrial da unidade de Bento Gonçalves, transformá-la em realidade.
— Levamos um ano para desenvolver. Fizemos alguns testes e foi um desafio muito grande, porque não existia nada no mercado — conta.
Segundo a gerente de inovação e produto e responsável pela operação Orquídea Eco, Sandra Vaz, há produtos similares no país feitos a partir da polpa da mandioca e do bagaço da cana, mas com o farelo de trigo seria o primeiro e único no mercado brasileiro, garante:
— A gente começou com um modelo de prato e a cumbuca de 450 ml, que era a necessidade primária. Hoje, a gente tem outros formatos. São cinco modelos e outros em desenvolvimento.
A criação dos potes biodegradáveis, que se desintegram em até 45 dias, exigiu, inclusive, o desenvolvimento de uma máquina específica para a produção. Pensada em parceria com uma empresa de Getúlio Vargas, ela dá vida às embalagens, desde setembro do ano passado.
A capacidade atual é de 20 potes por matriz, mas a Orquídea já aprovou um investimento de R$ 4 milhões para um novo equipamento, o que deve aumentar a produção em 10 vezes.
— Estamos caminhando para uma escala mais robusta para atender ao mercado — adianta Sandra.
Assista ao vídeo:
Produtos já estão no mercado
Um dos principais produtos da linha eco da Orquídea é o potinho de sorvete, encontrado principalmente em sorveterias Urca da cidade. A Urca foi a primeira cliente e uma das principais da fábrica localizada em Forqueta. Em outubro, unidades da Urca realizaram uma promoção com descontos para quem optasse pela embalagem biodegradável durante a Semana do Lixo Zero.
A Orquídea tem ainda bowls, copinhos e saladeiras ecológicas, e trabalha no desenvolvimentos agora de copos de café — embalagens para líquidos quentes são mais desafiadoras, segundo Marquetti, pois é preciso garantir uma base capaz de suportar a temperatura.
Comestível
De base orgânica, sem nenhum tipo de conservante e aditivo, o produto feito a partir do farelo do trigo tem validade de um ano e, embora não tenha essa finalidade, é comestível. Porém, sem um sabor "apetitoso". Tem o gosto da fibra. O principal objetivo é servir como uma alternativa a embalagens descartáveis.
— A gente não tem um produto, a gente tem uma solução para o mercado para atender essa questão de substituição por materiais mais ecológicos — destaca Sandra.
Para a Orquídea, reconhecida pela produção de pães, massas, biscoitos doces e salgados e wafers, a fabricação dos potes ecológicos representa um novo momento.
— Valoriza muito a marca, a empresa está pensando na sustentabilidade e no meio ambiente. A gente (fábrica) também gera resíduos e pensa em poder contribuir com o meio ambiente. Acho que é um legado muito bom que estamos deixando — avalia Marquetti, responsável pelo desenvolvimento dos protótipos.
Saiba mais
- A Orquídea processa mais de 35 mil toneladas de trigo por mês para produção de alimentos.
- A moagem resulta também em cerca de 9 mil toneladas por mês do coproduto farelo de trigo.
- Parte do farelo é usada na fabricação das embalagens biodegradáveis e parte é vendida como ração animal.
- Atualmente, a fábrica vende cerca de 1 mil quilos de embalagens por mês.
- A expectativa é chegar a uma venda mensal de 30 mil quilos de embalagens no próximo ano.
- Os potes são vendidos pela internet, no site da Orquídea, e custam R$ 1 (a unidade).