A vontade de agradar as crianças nem sempre casa com o orçamento da família. Mesmo assim, há pais que se desdobram para atender aos pedidos dos pequenos em períodos como o Dia das Crianças, celebrado nesta quarta-feira (12), no feriado nacional de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Em Caxias do Sul, pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) aponta que o ticket médio ficará em R$ 259,66 para a data. Especialistas recomendam que as famílias fiquem atentas, porque, nesta reta para o final do ano, é preciso planejar o pagamento de contas que virão nos próximos meses, como IPTU, IPVA, férias e compras para festas de final de ano.
A contadora Fabiane Perondi, que é mestre em Economia, orienta que os pais definam um valor máximo a ser gasto nos presentes e, a partir desse marcador, escolham um entre os presentes listados pelas crianças. Outra sugestão é evitar as compras por impulso. Caso se deparem com o presente desejado pela criança, é bom continuar a pesquisar para ter uma base de comparação de preços.
— Se possível, pague à vista ou, no máximo, em duas vezes, ainda mais que estamos em outubro. Parcelar em muitas vezes pode comprometer o orçamento dos próximos meses — aponta, ao salientar que os próximos meses são de compras de Natal, férias e pagamento de impostos.
A professora Catherine Chiappin Dutra, que coordena o Centro de Negócios da FSG, explica que as famílias devem fazer o planejamento financeiro de forma contínua. Como se sabe que anualmente ocorre o Dia das Crianças, por exemplo, é possível colocar esta data na previsão de gastos com antecedência. Para quem não tem condições de pagar à vista, é indicado ter em mente todas as demais parcelas em que o orçamento já está comprometido, além dos gastos fixos mensais. Assim, evita-se estourar a renda familiar:
— É importante pontuar que é essencial ter esse controle e ter uma relação aberta com filhos e família, chamar todos para o planejamento orçamentário. Tudo precisa estar planejado para não gerar conflito, confusão, porque é sempre uma questão de estresse — adiciona.
O vendedor Cristiano Mellitz, 38 anos, fez pesquisa de preços na segunda-feira (10) de manhã. Os quatro filhos, de três a 14 anos, tiveram de dar mais de uma sugestão de presente e os pais eram os responsáveis pela compra. A ideia é agradar os filhos e, ao mesmo tempo, estar atento ao orçamento disponível para as compras.
— Vim ver valores e vou administrando. Por exemplo, olhando as questões de tamanho. Esse tigre (aponta para a prateleira), posso comprar um menor ou maior. E também tem de ver se a criança vai usar, porque, às vezes, eles pedem coisas que não vão usar — salienta.
Incluir as crianças a partir dos cinco anos na decisão sobre a compra também é um caminho viável, dizem os especialistas. Por exemplo, se ela quer um presente mais caro, a ideia é que compreenda que passeios ou outras compras poderão ficar de fora do planejamento familiar. Com as explicações, ela pode decidir se continua a querer o presente ou se prefere fazer outra escolha.
Para todos os públicos
A Estação do Brinquedo, no centro de Caxias do Sul, percebeu um aumento expressivo de clientes desde o último sábado (8), o que indica um movimento de última hora em busca dos brinquedos. Para os pais, a boa notícia é que o setor está cada vez mais articulado para atender a públicos variados. Na Estação, por exemplo, há produtos de R$ 2,99 a R$ 7 mil. Ao longo do ano, os responsáveis pela loja participaram de feiras para entender como o mercado está posicionado para atrair clientes.
Para chamar a atenção do público, a empresa faz uma organização especial da loja, oferece parcelamento em até 12 vezes e promove uma consultoria específica para cada cliente. A ideia desse atendimento personalizado é explicar aos pais que existe um novo jeito de pensar os brinquedos:
— Os brinquedos hoje não são só brinquedos. São uma ferramenta pedagógica, uma ferramenta de estimulação — explica o gerente Giedry Boldoni.
Segundo ele, a preocupação com o orçamento está presente em metade dos clientes. No entanto, Boldoni conta que essa argumentação a favor de brinquedos que auxiliem no desenvolvimento cognitivo das crianças é um fator que leva os pais a considerarem gastar um pouco mais.
A tendência é de que o Dia das Crianças seja bom para o comércio, com previsão de aumento de 14% nas vendas, conforme pesquisa da CDL. Para atender à demanda do Dia das Crianças, a Estação contratou 10 funcionários. Na loja de mais de mil metros quadrados, há aproximadamente 40 mil itens disponíveis para as crianças escolherem. Entre eles, estão, inclusive, brinquedos para crianças com autismo e déficit de atenção.
Mais que presentes, presença
Os presentes são esperados pelas crianças como parte da celebração, mas não devem ser a única demonstração de que os pais têm afeto por elas. A pedagoga Fabrícia Bisol Finco, especialista em Educação Financeira, aponta que muitas famílias compram produtos como forma de compensar a ausência na vida dos pequenos, mas ressalta que a afetividade pode ser demonstrada de outras maneiras:
— O que mais vale nesta data tão importante é a presença, é a companhia, é voltar para brinquedos que os pais possam brincar junto — assinala a coordenadora do projeto Vida que Prospera, da Unicred Integração.
Ela sugere que os pais analisem qual é o melhor cenário: comprar os presentes com ou sem os filhos junto. No caso de levá-los às lojas, ela diz que a tendência é gastar mais e que o processo também é desgastante para as crianças que têm se escolher dentre uma grande quantidade de produtos. Como forma de desenvolver a educação financeira nos pequenos, Fabrícia recomenda que os pais definam um valor máximo a gastar e façam a criança participar do processo de pesquisa de preço dos itens, apontando que existem lojas com diferentes valores para um mesmo produto.
— Eu convido os pais a surpreender (os filhos), a fazer algo diferente neste momento e, quando tiver a oportunidade de ir na loja, poder fazer essa orientação.
A especialista em Educação Financeira diz ainda que esse é o momento de as famílias proporem às crianças que elas separem roupas e brinquedos para a doação. Essa é uma forma de elas compreenderem, inclusive, que existem outras crianças cuja situação financeira dos pais não permite a compra de presentes.
Dicas na hora das compras:
- Analise se você deve ou não levar o filho junto nas compras. Caso leve, faça uma pesquisa de preço com ele e explique que um mesmo produto pode ter valores diferentes
- Defina de antemão qual é o valor que poderá ser gasto para o presente. Faça isso com base no orçamento mensal. Lembre-se de contabilizar outros parcelamentos que já estão entre os gastos da família
- Presentes são uma forma de demonstrar carinho às crianças, mas a sua presença continua sendo importante. Pense em presentes que podem fazer com que vocês despendam algum tempo juntos, como um passeio ou jogo
- Surpreenda a criança. Você pode produzir um brinquedo criativo ou propor alguma atividade fora da rotina
- Evite comprar por impulso. Se encontrou o presente que a criança deseja, ainda faça uma pesquisa em outras lojas, para verificar se o preço não está mais baixo
- Tente pagar à vista ou parcelar em duas vezes, no máximo. É que logo será época de Natal, férias e pagamento de impostos anuais
- Negocie com a criança, explicando que, se ela comprometer todo o orçamento de lazer em um brinquedo, será obrigada a abrir mão de outras vontades, como um passeio
- Procure um presente que tenha afinidade com o perfil do seu filho. Isso pode ajudar no melhor aproveitamento do item e também no desenvolvimento da criança
- Peça para a criança separar roupas ou brinquedos que ela possa doar e explique que outras crianças podem não ter acesso a presentes nessa data. Isso, além de ajudar o próximo, faz com que as crianças compreendam que aqueles itens são valorosos.
Fontes: Catherine Chiappin Dutra, Fabrícia Bisol Finco, Fabiane Perondi, Giedry Boldoni.
Comércio pode usar mão de obra de funcionários
O comércio de Caxias do Sul pode atender os clientes com a presença de funcionários no Dia das Crianças, que também é feriado de Nossa Senhora Aparecida. As empresas da categoria devem solicitar a autorização ao Sindilojas Caxias. A regra vale também para Flores da Cunha, Nova Pádua e São Marcos.
O certificado pode ser impresso no site da entidade por associados em dia com o setor financeiro. Pela Convenção Coletiva de Trabalho 2022-2023, os funcionários podem cumprir jornada de trabalho de, no máximo, de seis horas com prêmio de R$ 149,00 para Caxias do Sul, Flores da Cunha e Nova Pádua e R$ 135,00 para São Marcos, somente para funcionários sindicalizados. Comerciários não sindicalizados são beneficiados com folga antecipada.
A emissão do certificado é uma garantia aos estabelecimentos comerciais que evita uma multa de R$ 1 mil a R$ 20 mil, variando de acordo com a gravidade da infração. A empresa autuada tem o prazo de 48 horas para fazer uma defesa escrita.