Até pouco tempo atrás, abrir um negócio significava um longo processo que envolvia burocracia de papéis, necessidade de um espaço físico e vendas restritas na comunidade onde o espaço está instalado. Com a internet e o avanço de ferramentas nas redes sociais, as barreiras geográficas foram rompidas e empreender no digital se tornou uma alternativa para muitas pessoas darem sequência aos seus negócios ou também ter uma renda extra.
O assunto foi o principal tema do Congresso de Empreendedorismo Digital (Conedi), realizado nos dias 23 e 24 de setembro, na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Esta foi a primeira vez que o evento foi realizado fora de Porto Alegre. Tem uma edição prevista para novembro, no Rio de Janeiro, e retornará a Caxias no ano que vem. Em dois dias, o Conedi reuniu especialistas do marketing para capacitar empreendedores para que eles estejam cada vez mais afiados no mundo digital.
Responsável pela vinda do evento à Serra, a Associação de Jovens Empresários (AJE-Caxias) contabilizou 500 pessoas participantes. Para o presidente da entidade, Franco Cioato, a oportunidade fez com que os empreendedores da região e de fora se capacitassem e também criassem networking.
– Atuamos na capacitação, representação e conexão. Muitos empreendedores querem se tornar empresários, ter um CNPJ, ponto físico ou seguir no digital e ter seus colaboradores. Costumo dizer que todo movimento gera oportunidade e oportunidade gera negócio – avalia.
Segundo ele, eventos voltados para este mercado são importantes para o desenvolvimento econômico da Serra.
– Queríamos mostrar esse tipo de congresso que entendo que faz muita falta para Caxias. Conteúdo de qualidade, pessoal de fora e capacitado no setor que atua dando palestra para uma galera que está muito ligada no mundo dos negócios. Que se alimenta de muita informação. Foi disruptivo, Caxias estava precisando e ainda tem muito a se fazer.
Busca por conhecimento é a premissa para começar
Para o professor dos cursos de Publicidade e Propaganda e Marketing da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e CEO da agência Macaw, Maurício Fischer, a busca pelo conhecimento deve ser uma premissa básica para quem quer empreender na internet. Por isso, é importante procurar cursos reconhecidos no mercado, já que existem diversas opções e que nem sempre são capazes de suprir a necessidade de conhecimento.
Outro dica para o empreendedor digital é que ele entenda os diferentes perfis de cliente que poderá atingir e adotar estratégias de distribuição se o produto for físico e depender de logística.
– É bacana meter a cara e se jogar nas oportunidades, mas é preciso cautela e uma boa dose de conhecimento. Não se faz muita coisa sozinho, e os cases de sucesso, normalmente, têm uma rede de apoio. Abrir uma loja na esquina permite que você atenda o público do entorno, mas abrir uma loja na internet é ter o mundo à disposição. Mais facilidade e mais desafios também – explica.
Antes de criar um perfil no Instagram, uma página no Facebook ou investir na construção de um site, Fischer recomenda que os futuros empreendedores digitais tenham uma estratégia bem definida na cabeça sobre qual é o objetivo do negócio. Por serem ferramentas abertas, as redes sociais permitem que qualquer pessoa inicie um negócio e tenha contato com possíveis clientes, mas a continuidade do processo depende do próprio empreendedor e das suas metas.
– Empreender na internet é como fazer academia. Não vai ter resultado na primeira semana. É necessário se manter fazendo, mesmo sem ver algo concreto em curto prazo. É um passo a passo, mesmo sendo difícil no começo.
Para atrair o público, a produção de conteúdo que seja relevante é outro passo importante para criar uma espécie de autoridade no assunto dentro da internet.
– Criar uma conta no Instagram não significa sair vendendo como água. Também não é necessário estar em todas as redes sociais, por isso é importante ter uma estratégia que defina onde é válido para atingir determinado público. Precisa ter TikTok? Snapchat? O teu público é que vai definir. O conteúdo também precisa de atenção, que seja relevante e constante, mas com qualidade. Fazer postagem uma vez por semana e bem feito é melhor do que postar coisas nada a ver para ter frequência – ensina.
Para quem pensa em dar os primeiros passos, o Congresso de Empreendedorismo Digital (Conedi), realizado recentemente na UCS, já foi uma grande oportunidade.
– São palestrantes do Brasil inteiro num congresso para ajudar os empreendedores a marcar presença nas redes. Hoje, o jovem empreende na internet, seja em negócios offlines que migraram para o digital ou como forma de vender o seu produto – acrescentou Franco Cioato, presidente da AJE-Caxias, responsável pela vinda do Conedi.
Dicas para ser um empreendedor digital
Mais do que uma boa ideia e um celular conectado à rede, são necessários alguns passos para começar a empreender na internet.
:: Mercado apropriado
Para que tudo dê certo e o negócio seja rentável, é essencial que o empreendedor observe bem o mercado a qual está se inserindo. Nesse momento, devem ser avaliadas as oportunidades e os riscos desse segmento.
:: Modelo de negócio
Após definir o mercado de atuação, o empreendedor deve ter bem claro nos seus objetivos como será o seu negócio. É necessário ter uma loja virtual ou um perfil nas redes sociais que permitam que a venda e o contato com os clientes sejam realizados? Quais serão os produtos e serviços? Como será?
:: Analise os concorrentes
Identifique os pontos fortes e os pontos fracos deles e como você poderá trabalhar para atender as brechas deixadas por eles. Assim será possível criar estratégias para se destacar no mercado.
:: Defina estratégias de marketing digital
Vender na internet não funciona sem o marketing. Ele é que promoverá e posicionará a sua empresa dentro do mercado. Por isso, não deixe de investir nos perfis das redes sociais. Mas antes disso, analise o perfil do seu público e descubra em qual dessas redes sociais eles se encontram de maneira mais forte.
:: Estrutura pronta para funcionar
Depois de escolher seu nicho, estudar o mercado, os concorrentes e o seu cliente, será o momento de partir para a prática e colocar tudo o que foi planejado em ação. Certamente com um bom planejamento e estudando de forma correta, a probabilidade de seu negócio se expandir será bem grande.
Fonte: Sebrae
Personal treina mulheres do Brasil e outros países por meio de videoaulas
É dentro de um estúdio montado em um espaço no bairro Rio Branco, em Caxias do Sul, que saem videoaulas com treinos que já chegaram a centenas de mulheres em busca da prática de exercícios físicos, em casa ou em academia, na companhia de uma personal trainer a distância.
A responsável pela produção dos conteúdos é a caxiense Ana Paula Sensolo, que usou a experiência de 13 anos em academias da cidade e especializações para criar um programa online de emagrecimento que promete resultados em até quatro semanas de treinos.
Atualmente, 750 mulheres estão matriculadas no programa, que está ativo desde maio do ano passado. São cerca de 150 videoaulas disponíveis para participantes de idades entre 15 e 60 anos, de diferentes locais no Brasil e em 10 países, que estão juntas, mesmo sem saírem de casa, buscando mais qualidade de vida, emagrecimento, podendo elevar a autoestima e conquistar o corpo que elas sonham.
A assinatura no serviço permite que as participantes tenham acesso a videoaulas de 30 minutos, em que Ana Paula ensina como fazer os exercícios físicos, aprendendo a se alongar e malhando pernas e glúteos, superiores, abdômen, entre outros. Os conteúdos ficam disponíveis para assistir e fazer no dia e na hora que melhor encaixar na rotina da participante e são atualizados. Ana Paula também faz acompanhamento mensal dos resultados por meio de fotos e fichas de avaliação. O programa prevê ainda acompanhamento nutricional com dietas novas todos os meses.
O serviço online tem duração de um ano e custa R$ 909, que podem ser pagos em até 12 prestações mensais. Para se ter uma ideia, o valor é menor do que um mês de atendimento presencial com Ana Paula, que cobra, em média, R$ 1,2 mil mensais como personal trainer por treinos em três dias da semana.
– É difícil ver crescimento sendo personal trainer. Você chega em um patamar, não é possível fazer mais do que 10, 12 atendimentos presenciais em um único dia. Vai chegar no fim do dia esgotado. O digital chegou para nos ajudar nisso. Não tem limite de atendimento de alunos e você consegue aliar o custo-benefício. Pessoas que antes não tinham acesso a um treino de qualidade, por ser um custo alto, conseguem ter isso pela internet – explica Ana Paula, formada em Educação Física pelo Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG).
A ideia de empreender na internet surgiu com o início da pandemia. Na época, além do trabalho fixo em uma academia, Ana Paula estava sem horários disponíveis para atender novos alunos particulares. A partir do momento que os espaços de treinos fecharam no período mais severo do distanciamento social, ela também estava sem trabalhar.
A alternativa para não ficar parada foi criar lives no Instagram para auxiliar pessoas que buscavam se exercitar dentro de casa – o primeiro passo para enxergar na internet uma nova ferramenta para trabalhar e ganhar dinheiro.
– Na época, combinei com os meus seguidores que, durante um mês, todos os dias, eu entraria ao vivo na rede social para eles treinarem comigo. Algo gratuito, qualquer pessoa podia acessar. Foi muito legal e me senti motivada a criar conteúdos, porque, até então, meu Instagram era somente pessoal. Desde então, surgiram muitos pedidos de aulas online – recorda.
No final de 2020, após conversar com um aluno que trabalha com produção e edição de vídeos e que viria a se tornar seu sócio, Ana Paula foi estimulada a dar atenção à nova demanda, criar um programa de treinos para a internet e, então, monetizar o negócio.
– A virada de chave começou quando chegou ao ponto de eu ter 10 mensagens por dia de pessoas me pedindo aula online e eu respondendo não para tudo. Foi quando eu percebi que tinha alguma coisa errada – destaca.
Profissionais trabalham na produção dos vídeos
No início, Ana Paula usava espaços cedidos em academias para gravar os vídeos. Meses depois, investiu em um local próprio, com equipamentos de iluminação, câmera e celular para a gravação dos conteúdos. A equipe cresceu: além dela e do sócio, trabalham também um profissional voltado para criação nas redes sociais e um gestor de tráfego pago – que gerencia os anúncios pagos na internet e faz com que o conteúdo produzido chegue para pessoas que ainda não conhecem o perfil da personal.
Em quase um ano e meio trabalhando na internet, Ana Paula gosta de lembrar de como se desenvolveu na comunicação, na intimidade com a câmera e aprendeu a trabalhar com o consumidor na internet. Ganhou também mais relevância no ambiente virtual: passou de 13 mil seguidores no Instagram, em maio de 2021, para 41,5 mil, em setembro deste ano. Recentemente, viralizou no TikTok com um vídeo que ensina como fazer elevação pélvica, e atingiu cerca de 4 milhões de visualizações.
– Não trabalho com a ideia de padrão de corpo perfeito, que não existe. Elas têm de se sentir bem. Quem começa a se exercitar, começa a entender que o exercício físico melhora resistência, força, humor, sono. Grande parte são mães que sempre priorizaram outras coisas e nunca a si mesmo. E agora encontram 30 minutos por dia para se exercitar. Os feedbacks que recebo, tanto de melhora física quanto mental, são recompensadores – comemora a caxiense.
Escola de gastronomia migra para a internet e ensina a cozinhar em serviço de streaming
As bancadas individuais que recebiam alunos dispostos a aprender a cozinhar em Caxias do Sul deram espaço para um serviço de streaming que tem a premissa de ser um livro de receitas digital em formato de vídeos sob demanda. Esse é o modelo de negócio adotado pela Sal a Gosto, escola de gastronomia criada há 11 anos em um espaço físico na cidade e que migrou, em 2020, para capacitações exclusivas pela internet.
O objetivo, segundo o chef e idealizador da Sal a Gosto, Gabriel Lourenço, segue o mesmo: democratizar a gastronomia e fazer com que qualquer pessoa possa aprender a arte da culinária, nem que seja para exibir esse ensino em casa, com os amigos, ou buscar uma alimentação mais saudável e barata.
Se antes o contato com os chefs era presencial e restrito para moradores de Caxias do Sul, Serra e poucos para além da região, agora os vídeos de receitas chegam a uma base de 10 mil usuários – mas com meta de chegar a 300 mil assinantes nos próximos anos.
– Na pandemia, perdemos os três pilares do nosso negócio, que eram as aulas, consultoria e eventos. Tudo estava parado e precisávamos de novos caminhos para seguir atuando no mercado. Apostamos no digital como saída e, desde o início, pensamos em uma metodologia de ensino, que levasse a aula presencial para a internet. Não queríamos fazer mais do mesmo, porque, se você jogar no YouTube, tem muitos vídeos de receitas – explica.
Em um primeiro momento, a Sal a Gosto iniciou com cerca de 90 vídeos em seu portfólio, sendo a maioria gravada por Lourenço. E foram disponibilizados em uma plataforma de conteúdo que concentra diversos empreendedores digitais voltados para cursos online. Em seguida, com novos investimentos e sócios, a escola seguiu produzindo outros conteúdos, mas criou a sua própria plataforma, pensada com características que remetessem aos tradicionais serviços de streaming disponíveis no mercado.
Trabalhar com o público presencial e a distância tem desafios e exige adaptação do empreendedor. No formato presencial, as aulas na Sal a Gosto duravam, em média, três horas, somando prática e interação. Já nos vídeos, os primeiros foram disponibilizados com cerca de uma hora de duração. Nos últimos meses, Lourenço identificou que é necessário um esforço maior: levar o mesmo conteúdo, mas com duração entre 10 e 20 minutos.
Otimização dos vídeos
– As pessoas querem consumir mais conteúdo no menor tempo possível e identificamos que precisamos nos atualizar. Por isso, alguns vídeos estão sendo regravados e outros estão passando por um novo processo de edição, para que fiquem menores, mas sem perder a qualidade – afirma Lourenço.
Ao mesmo tempo, quem empreende na internet precisa usar as palavras certas para atrair o público a se interessar no serviço. Na estreia da plataforma, o chef lembra que tinha receio de usar o slogan “seu livro de receitas digital” por acreditar que as pessoas entenderiam que se tratava de um e-book, ou livro digital, e não um serviço de streaming com vídeos de receitas.
Atualmente, a Sal a Gosto conta com 28 professores especialistas, que são responsáveis pela produção dos conteúdos. Os que mais têm audiência, segundo o Lourenço, são os que ensinam receitas práticas para o dia a dia, como organizar uma marmita e até mesmo como fazer compras. Em breve, as produções serão legendadas, para atrair mais pessoas no mundo todo. O plano é anual e a assinatura mensal custa R$ 14,90.
– A gente sente um pouco a falta do contato humano, mas é neste formato que entendemos ser o mais adequado para a Sal a Gosto. É a democratização da gastronomia, com ensinamentos que chegam para mais pessoas.
Brechó online fatura R$ 10 mil e incentiva moda circular
O que começou como uma tarefa para se desapegar de algumas peças de roupa e aliviar o espaço no guarda-roupa se tornou um negócio na internet para a assistente administrativa Mayara Gondin Zuliani, 23 anos. Há um ano e cinco meses, ela é a responsável pelo Memories Brechó Online, uma página do Instagram que concentra a venda de peças de roupas e acessórios novos e usados.
– Eu tinha muita coisa guardada em casa e precisava desapegar. Selecionei algumas roupas, divulguei na internet e deu certo. Desde então, algumas amigas me pediram para divulgar e vender também. Quando vi, tinha começado um negócio dentro do meu apartamento – conta.
Adepta da moda circular e por entender que é necessário adotar ações para um consumo consciente, Mayara começou trabalhando no modelo consignado: recebe as peças de terceiros, confere se estão em boa qualidade e divulga. Em cada peça que recebe, ela acrescenta 45% do valor pedido pelo dono da roupa ou do acessório.
Além disso, ela garimpa outras peças disponíveis na internet e revende no brechó virtual. Todos os artigos de vestuário ficam armazenados em um estoque dentro de um guarda-roupa em um quarto do apartamento onde mora em Caxias.
Faturamento
Em um ano e meio como empreendedora digital, uma atividade extra na sua renda, Mayara conta ter faturado em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil na comercialização das peças.
O esforço precisa ser recompensado: ela também serve como modelo para a divulgação das peças. Veste e posa para as imagens em um espaço no apartamento onde mora. É responsabilidade dela também fazer o planejamento dos conteúdos, postagem e o atendimento aos clientes pelas mensagens. Para tudo dar certo, Mayara conta com a ajuda do namorado Stevan e dos pais.
O objetivo, agora, é ir além, consolidando o espaço dentro do mercado digital e também físico. Além de ganhar mais repercussão na internet, Mayara deseja abrir uma loja e usa o digital como impulso. Enquanto isso, ao lado de outras empreendedoras digitais, realiza mensalmente feiras em locais da cidade para aproximar ainda mais o público dos itens que estão aguardando novos donos.
– Tem trabalho de divulgação, faço as fotos, edito, invisto em vídeos para o Instagram, o que faz bastante diferença porque alcança mais pessoas. Futuramente, quem sabe, quero abrir a minha loja, mas sem deixar de usar as ferramentas disponíveis na internet – diz.