O corte de R$ 0,30 no litro do diesel, anunciado pela Petrobras nas refinarias a partir desta terça-feira (20), é recebido com diferentes percepções pelo setor de transportes na Serra. Enquanto que para representantes de algumas categorias a diminuição que pode chegar às bombas é vista com bons olhos e traz expectativas de novas reduções nos próximos meses, para outros o corte ainda é considerado pouco expressivo. E não trará tanto impacto nas contas no final do mês.
A estatal projeta que ao consumidor, nas bombas, a diminuição seja de R$ 0,27. O presidente do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis de Caxias e região (Sindipetro), Vilson Luiz Pioner, acredita que a redução chegará aos estabelecimentos da Serra até o fim desta semana.
Conforme o último levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), finalizado no sábado, o preço médio do diesel S10 em Caxias do Sul era de R$ 6,97. Portanto, se esta diminuição projetada ocorrer no valor médio da pesquisa, o litro ainda teria custo de R$ 6,70. Já o litro do diesel comum foi encontrado a preço médio de R$ 6,85 em 13 postos. Com a redução prevista pela Petrobras, o litro ao consumidor alcançaria o custo médio de R$ 6,58.
Esta nova redução surge depois de um cenário de tensão e pessimismo vivido pelas diversas categorias que utilizam o combustível como principal insumo de suas atividades profissionais. No final de junho, por exemplo, os postos de combustíveis de Caxias chegavam a cobrar R$ 7,79, à vista, pelo diesel S10. Empresários de transporte escolar relatavam buscar alternativas para não repassar todos os custos aos clientes, enquanto que caminhoneiros autônomos recusavam viagens para evitar prejuízo.
Agora, embora recepcionada de maneira positiva, a redução nas refinarias também é recebida com cautela. O vice-presidente da Associação Univans da Serra Gaúcha, Paulo Marcos da Silva, entende que diminuição prevista nas bombas não é suficiente. Para ele, é preciso que o valor do litro diesel alcance ou seja inferior ao preço da gasolina — conforme a última pesquisa da ANP, o valor médio do litro era de R$ 4,96 em Caxias.
— Hoje, o diesel representa, mais ou menos, 40% do que a gente ganha. Depois, ainda colocamos pneus, manutenção, fica muito caro. Para compensar o nosso trabalho, o diesel teria de estar uns R$ 4,50. Tudo que baixa, ajuda, mas não é o suficiente — avalia.
Embora não tenha dados, o vice-presidente da associação diz que muitos trabalhadores deixaram o ramo nos últimos meses. Ele menciona o próprio custo com combustível para exemplificar a situação dos trabalhadores:
— Este mês (agosto), gastei quase R$ 5 mil com combustível em um veículo só. Eu me apavorei. Antes, eu gastava no máximo R$ 3 mil para fazer o que eu faço hoje — diz ele, que faz o transporte de funcionários de empresas e universitários.
Com transporte escolar nos bairros Cruzeiro, Bela Vista e Panazzolo, Ticiano Delazzeri avalia como pouco expressiva a redução que deve chegar nos postos de combustíveis, a partir do corte nas refinarias:
— O valor que está, com 30 centavos a menos, gera pouca diferença, levando em consideração todos os aumentos que já teve. E quando aumenta o combustível, aumenta tudo, até a manutenção — explica.
Expectativa para novos cortes
O presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul (Fecam-RS), André Luis Costa, diz que a redução anunciada pela Petrobras já era esperada pelo setor e há expectativa de outros cortes até o fim do ano. Segundo estimativa da Fecam, a região de Caxias do Sul conta com mais de 1,5 mil caminhoneiros autônomos.
— A tendência é que (a redução) mesmo que lenta, seja gradativa. Claro que a economia do mundo pode sofrer novo revés e isso pode se alterar. Tudo é expectativa e análise das possibilidades — afirma Costa.
Para o presidente da federação, contudo, a discussão sobre o setor não pode ser reduzida somente à variação do preço do litro do diesel. Ele detalha outras demandas:
— O setor tem toda uma complexidade. Claro que diminuindo o custo faz diferença, mas tem outras questões estruturais que envolvem o transporte. Por exemplo, buscamos a devolução da autonomia para os autônomos, por mais redundante que possa parecer. Até então, os caminhoneiros autônomos trabalham com o CNPJ da empresa, que é quem manifesta a carga, ou da cooperativa. Temos de devolver para o caminhoneiro autônomo a possibilidade de ele trabalhar para quem ele quiser, quando quiser e por quanto conseguir negociar. Então, a baixa do valor do diesel é um dos componentes que se relaciona ao transporte. Isso não é a solução dos problemas —defende.
Conforme avaliação da colunista Giane Guerra, após manter um patamar elevado por meses, o preço do diesel vem caindo no Exterior devido a uma perspectiva de menor consumo com a desaceleração de economias importantes, como Estados Unidos e China. Porém, ela aponta que há, no radar, a perspectiva de que o combustível seja o principal substituto no gás no inverno europeu, já que a Rússia cortou o fornecimento.