A força do agronegócio fica mais evidente durante a Expointer, feira agropecuária que segue até domingo (4) no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. São esperados mais de 600 mil visitantes e cerca de R$ 4 bilhões em vendas no setor de máquinas, dobrando a cifra da última edição e apesar dos efeitos da estiagem, que comprometeram a safra de verão e a rentabilidade dos produtores gaúchos. Da Serra, expositores de equipamentos e também das agroindústrias comemoram a movimentação e o volume de vendas da feira deste ano.
Um dos grandes atrativos da Expointer e responsável pelo maior faturamento do evento é o espaço de máquinas e implementos. A estimativa dos organizadores é que as vendas superem em 50% os resultados de 2019, na última edição realizada sem restrições, quando o volume de negócios ultrapassou R$ 2,5 bilhões. A expectativa otimista é vista também nas marcas da Serra, que visualizam nesta edição da Expointer negócios em níveis anteriores à pandemia e metas atingidas antes do fim da feira.
É o caso da concessionária Sol Soluções, responsável pela marca japonesa Yanmar. De acordo com o diretor comercial e sócio-proprietário da revenda, Marcos Bellenzier, a meta para o evento era comercializar 80 equipamentos, entre tratores para a linha agrícola e mini escavadeiras voltadas para a construção civil. O objetivo foi atingido na última quarta-feira (31).
— Sabíamos que seria uma feira com uma expectativa muito boa porque está sendo realizada após dois anos de pandemia. Mesmo assim, nos surpreendemos com esse resultado, atingindo aquilo que tínhamos projetado. Ainda temos mais dias de Expointer, ou seja, podendo superar ainda mais o nosso planejamento — afirma.
A vitrine que a Expointer permite fez com que a marca levasse um lançamento para a feira em Esteio, como uma colheitadeira de grãos pensada para o pequeno e médio produtor. O equipamento é voltado para colheita de arroz, soja, milho e feijão, oferecendo alto desempenho e baixo consumo de combustível, além de mais rapidez e eficiência no processo. O modelo, segundo Bellenzier, não tem similar no país.
— Geralmente, colheitadeiras são equipamentos maiores, mas, este modelo, é uma versão mais compacta e eficiente para o pequeno e médio produtor. Esse mercado é possível de atingir com produtores em Caxias, Montenegro e Vacaria, por exemplo — exemplifica.
Bellenzier cita ainda o aumento de 36% dos recursos do Plano Safra aos produtores rurais como fiadores do otimismo nos negócios. Somente no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), voltada ao pequeno produtor, são R$ 53,61 bilhões disponíveis, aumento de 36% em relação à safra passada e juro de 6% ao ano.
Para a Unyterra Máquinas Agrícolas, que participa do evento desde a década de 1990, a Expointer da retomada também tem saldo positivo. De acordo com o gerente da marca, João Godinho, as vendas nesta edição retomaram ao patamar de 2019, ou seja, da edição da feira agropecuária realizada antes da pandemia.
O resultado poderia ser melhor, segundo Godinho, se os efeitos do clima não deixassem os produtores mais receosos na hora de investir no maquinário.
— Em nível de pedidos, estamos retomando o que era visto no passado. É um resultado muito bom. Temos visto muito interesse em contatos para possíveis vendas futuras. A geada e o tempo instável deixam o cliente com um freio para compras. A agricultura é a maior indústria a céu aberto e o produtor absorve um risco alto. Temos clientes que perderam 100% da sua safra e não vão receber R$ 1 da produção —afirma.
O destaque da marca de Caxias do Sul é o levantador hidráulico baixo, disponível em dois modelos de tratores, desenvolvido para atender às demandas dos produtores de uva, nos sistemas latada e espaldeira, assim como fruticultura de caroço.
Mais vendas e visibilidade
Cansado de ver as produções de uva, pêssego e laranja da família serem descartadas por não estarem visualmente adequadas para a venda in natura, o agricultor e destilador Anderson Maróstica, 32 anos, resolveu reativar a produção de destilados do avô Pedro, 87, em Nova Pádua. A produção familiar das bebidas leva as frutas da região como base, tendo a grappa, feita a partir de bagas de uva fermentadas, como carro-chefe da agroindústria L'onore Destilados na Expointer.
— Eu me criei na colônia e, desde pequeno, vi como é triste o produtor trabalhar o ano todo para produzir uma fruta e ela não ter o tamanho ideal porque passou por uma intempérie. Um defeitinho mínimo fazia com que ela fosse descartada. Era um desânimo ver caminhões carregados de fruta para descarte. Aprendi desde pequeno que jogar comida fora é pecado. Precisava fazer alguma coisa para evitar isso e resgatamos a história do meu vô — explica o produtor.
Segundo ele, 90% das frutas utilizadas na produção da bebida são da família e o restante de produtores locais. Atualmente, o avô, pai, mãe e a irmã de Maróstica estão envolvidos na produção dos destilados.
— Meu avô produzia a própria cachaça, vendia alguma coisa, mas era uma atividade secundária. Não deu sequência porque priorizou a agricultura. Eu cresci e resolvi retomar isso e tornar um negócio. Investimos em tecnologia e seguimos a receita clássica, italiana, que meu avô ensinou, aperfeiçoando e tornando um produto de qualidade — destaca.
Criada no final de 2018, a agroindústria de Maróstica participa pela primeira vez da Expointer. Como a bebida leva cerca de um ano para ficar pronta para o consumo, a primeira produção destinada à venda foi finalizada no início da pandemia e das restrições de circulação, que impediam a participação em eventos. A alternativa foi apostar em vendas pela internet e restritas à Serra. Com a feira agropecuária em Esteio, a vitrine para a marca é um dos ativos mais importantes.
— Tem sido um movimento bem positivo, cresce a cada dia que passa e confesso que estou impressionado. Difícil parar. Mas, mais do que vender, a possibilidade de mostrar a nossa marca e o nosso produto para milhares de pessoas todos os dias é fantástico. Uma ideia que nasceu, se desenvolveu e agora ganha público — defende.
Sucos orgânicos de Garibaldi esgotam
Vem do Vale dos Vinhedos, em Garibaldi, uma agroindústria familiar que apostou na produção de geleias, vinhos, espumantes e sucos de uva produzidos de forma orgânica e que agora fazem sucesso na Expointer. Segundo a proprietária da Orgânicos Mariani, Salete Mariani, o estoque previsto para os nove dias de evento precisou ser abastecido devido ao volume de vendas, principalmente no primeiro final de semana da feira agroindustrial.
— Nos surpreendeu muito a movimentação deste ano. Precisamos voltar a Garibaldi no meio da semana para buscar mais suco porque o que projetamos como suficiente para até o fim da feira se esgotou na metade. É muito bom voltar a ter resultados tão positivos — conta.
A família Mariani trabalha com a produção orgânica desde 1999. Salete e o esposo, Jorge, são os responsáveis pelo cuidado dos quatro hectares de uva bordô, isabel e niágara, além de versões finas da fruta tradicional da Serra. Na época, tudo o que produziam era destinado para uma empresa, que transformava a fruta em geleias, sucos e vinhos e ganhava o crédito da marca.
Ao longo dos anos, a família toda passou a se envolver na tarefa. A filha do casal, Júlia, formou-se em enologia e o filho, Jorge Júnior, estuda engenharia agrícola. O conhecimento e o passar dos anos permitiu alcançar novos voos: ao invés de repassar a produção para terceiros, a família apostou em uma marca própria e criou a Orgânicos Mariani, que também é uma opção de turismo na Serra.
A produção artesanal da família atinge seis mil litros de suco de uva e 10 mil de vinhos todos os anos.
— A qualidade de vida é muito importante e vem crescendo. Nosso desafio é fazer com que o consumidor entenda a diferença. Porque, na gôndola do supermercado, ele vai levar em conta o preço e não a qualidade de vida que oferecemos nos nossos produtos — avalia.
PAVILHÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR
O que encontrar: estandes com produção de artesanato, cucas, salames, linguiças, queijos e bebidas como suco de uva, vinho e cachaça. Também haverá estandes de flores, plantas e mudas. Além disso, a área de orgânicos vai contar com 21 empreendimentos.
Localização: o pavilhão fica localizado à esquerda, logo à frente de quem chega pelas entradas 2 ou 3.