A Serra está no mapa estadual de plantação comercial de butiás. Agricultores da região integram um grupo de produtores que fizeram plantio de mudas, após uma pesquisa do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado, que ajudou a reduzir o tempo de germinação das sementes da planta.
Dos 20 produtores do Estado envolvidos com a plantação da fruta, o viveirista Fabiano Minozzo é o que tem a maior área cultivada, cerca de um hectare. Ele plantou 500 mudas de três variedades na Linha Oitaveta, em Nova Prata, há cerca de um mês. O agricultor recebeu mudas dos pesquisadores do departamento estadual em 2019, mas as cultivou em vasos por aproximadamente dois anos para garantir o desenvolvimento das plantas.
— Sempre gostei da fruta. Quando criança, eu comia butiá e sempre me chamou a atenção a fruta. Depois que encontrei uma reportagem da Fepagro (atual DDPA), então, eu estava lendo sobre a pesquisa. Naquela época já fazia uns 10 anos que eles estavam pesquisando e, como eles tinham interesse em incentivar o pessoal a plantar os butiás, eu já tinha uma área de terra, eu disse: "vou querer fazer isso". Até já estava pensando para o futuro. Quando me aposentar, já tenho essas plantas. E minha ideia, futuramente, é botar uma agroindústria para vender a polpa ou até desenvolver alguma coisa e já vender um produto pronto.
O viveirista avalia que há um bom mercado para a fruta, porque é possível produzir, por exemplo, suco, sorvete e geleia, a partir dela. Como hoje a produção gaúcha se baseia no extrativismo, ele entende que o interesse mercadológico pode se expandir a partir do momento em que houver mais certeza em relação à disponibilidade dos frutos — hoje, a produção de butiá no Estado se baseia no extrativismo de matas nativas.
Essa perspectiva positiva embasa a ideia de Minozzo de aumentar a plantação para cerca de 10 hectares nos próximos anos. O agricultor também quer mais mudas. Por isso, pede que quem tiver variedades mais doces ou graúdas entre em contato com ele pelo telefone (54) 98435-2651. A aposta é tão grande que ele comprou recentemente uma câmara de germinação de sementes semelhante à usada pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária, já que o desafio é justamente em relação à semeadura.
A pesquisa
A possibilidade de se criarem pomares de butiá surgiu a partir da pesquisa do DDPA, que começou em 2006. A dedicação ao assunto surgiu diante de uma série de fatores, como a própria demanda dos produtores por tornar viável a exploração econômica da fruta com o cultivo ordenado da planta. Além disso, o potencial dos butiazeiros foi avaliado, já que, além dos frutos, trata-se de uma árvore ornamental e que fornece palha para artesanato. Outro aspecto considerado foi que é uma planta ameaçada de extinção.
As mudas são produzidas no centro de pesquisa, em Viamão, a partir de árvores individuais, que têm características com maior possibilidade de inserção no mercado, como butiás mais doces e produção precoce de frutos. Gilson Schlindwein, um dos pesquisadores do departamento estadual, salienta que a muda é diferenciada porque sabe-se a procedência dela.
A pesquisa, desenvolvida ao longo de 15 anos, se iniciou com o objetivo de garantir a multiplicação das plantas. É que sem nenhum tratamento, a germinação das sementes pode levar dois anos.
— A gente começou a trabalhar, aqui no Laboratório de Tecnologia de Sementes da antiga Fepagro e hoje departamento da Secretaria da Agricultura, nesse processo de superação da semente e germinação, acelerar esse processo de germinação. A gente desenvolveu uma tecnologia para que o butiá germine em pouco mais de um mês — explica Schlindwein.
O prazo para que as frutas possam ser colhidas após a plantação varia, de acordo com o pesquisador. Segundo ele, durante o processo de pesquisa, houve produção já a partir do quarto ano. Mas esse processo pode levar mais ou menos tempo, considerando-se a variedade usada.
— A gente tem uma demanda muito grande de produtores que vêm até nós querendo investir no butiá e a única limitação que eles tinham era de ter essa garantia de ter uma muda com procedência conhecida, de uma planta que tinha uma característica que ele vai esperar um tempo e ele vai colher um fruto bom, doce, que vai ter um valor econômico — salienta.