Passam a valer nesta sexta-feira (1º) novos valores para cerca de 13 mil apresentações de medicamentos disponíveis no mercado varejista brasileiro, a partir do reajuste anual aprovado em 10,89%. Segundo o Sindicato dos Produtos da Indústria Farmacêutica (Sindusfarma), o reajuste não é automático, nem imediato, uma vez que a concorrência regula os preços, o que também pode fazer com que, em alguns medicamentos, o aumento sequer seja registrado. A possibilidade de reajuste, porém, é motivo de preocupação para consumidores de Caxias do Sul.
Desde que sofreu uma trombose, há cerca de cinco anos, José Macedo de Lima, 70 anos, depende de uma medicação contínua que o faz despender cerca de R$ 200 a cada cartela. Somando com outros cinco remédios que ele toma regularmente para problemas renais e de hipertensão, o total mensal chega a R$ 500, representando 22,7% da aposentadoria de R$ 2,2 mil que ele recebe.
— As coisas hoje estão mais difíceis devido à pandemia. Ficou tudo muito caro — relatou Lima, lembrando do preço do gás de cozinha e de outros itens de mercado que tiveram elevação de preço nos últimos tempos.
O idoso vive no bairro Santa Fé, com a esposa, que também depende de diversos medicamentos. Mensalmente, ele se desloca até o centro da cidade para adquirir a lista na farmácia e diz que a possibilidade de reajuste o preocupa.
— Vou fazer de tudo para dar conta porque eu preciso, né — concluiu.
A correspondente bancária Joice dos Santos Fontanella, 39, também está preocupada com o possível aumento, especialmente às vésperas do inverno, quando ela prevê que sejam necessários mais medicamentos para ela, o marido e o filho, com quem mora no bairro São José.
— Eu tomo medicação para a tireoide e anticoncepcional. Me assustou bastante essa informação porque não basta tudo o que aumentou, agora também os medicamentos — exclamou a consumidora, que também se preocupa com outras pessoas que podem enfrentar dificuldades ainda maiores por conta do reajuste, como idosos que dependem de diversas medicações.
— A gente é novo e pode trabalhar. Então, a nossa reclamação não vem a ser tão grande assim. Mas, para as pessoas que não têm condições, que ganham um salário mínimo, aposentados e pensionistas que atendo diariamente, essa é uma notícia muito grave. É uma guerra interna isso que a gente está vivendo no país, que começa com a corrupção e acaba afetando a nós, os trabalhadores, e nossos aposentados que lutaram a vida inteira e agora estão sofrendo — completou.
Alternativas para economizar
Todo brasileiro tem direito legal a receber remédios do Sistema Único de Saúde (SUS). O acesso, no entanto, nem sempre é garantido. Somente na Farmácia do Centro Especializado de Saúde (CES) de Caxias, que fornece medicação via governo do Estado, pelo menos oito tipos de remédios estão em falta, incluindo hidralazina, por exemplo, que é administrada em casos de hipertensão. Alguns tipos de medicamentos, de alto custo, também exigem que o paciente chegue a mover ações judiciais.
Para tratamentos de hipertensão, asma, diabetes e até aquisição de anticoncepcional, uma alternativa é a Farmácia Popular, programa federal criado em 2004, que garante o fornecimento de baixo custo, ou até mesmo gratuito, em estabelecimentos conveniados da rede privada.
— Aqui a Farmácia Popular tem sido o carro-chefe. Muitas pessoas não querem enfrentar fila no CES e acabam comprando aqui, porque os preços são bem acessíveis — afirmou Nádia Regina da Silva, que gerencia uma farmácia no centro de Caxias do Sul.
Segundo ela, medicamentos como Sinvastatina, para colesterol, custam R$ 13,99 mas, pelo convênio, saem por R$ 1,35. Aerolin, receitado para tratar asma, é normalmente vendido por R$ 44,51 no estabelecimento, mas, pela Farmácia Popular, é fornecido gratuitamente.
A lista do programa dispõe de 35 medicações, sendo 20 delas gratuitas. Para acessar, basta ir a uma farmácia conveniada, apresentar documento de identidade, comprovante de residência e a receita, que não precisa ser de um médico do SUS.
Alta acima da inflação
O reajuste deste ano autorizado pelo governo, de 10,89%, está acima da inflação de 2021, cujo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (Ipca) ficou em 10,06%. O aumento dos medicamentos foi ainda mais significativo no ano passado, nessa mesma comparação com a inflação. Porque o reajuste havia sido de 10,08%, ante uma inflação de 4,52% em 2020.