Prestes a deixarem a Avenida Júlio de Castilhos para serem organizados em três diferentes pontos do Centro de Caxias do Sul, os vendedores ambulantes se dizem otimistas com a mudança de local, mas ainda aguardam orientações da prefeitura para saber como será a nova fase. A proposta deve avançar nesta sexta-feira (22) quando um sorteio definirá em quais locais das quadras das ruas Marechal Floriano e Dr. Montaury ficarão os 82 ambulantes cadastrados até agora. O número pode mudar até lá. A previsão é que os comerciantes recebam as tendas para comercializar os seus produtos também na sexta-feira e estejam liberados para migrarem para o local no mesmo dia.
A mudança ocorrerá de forma gradual, segundo o diretor de Fiscalização da Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU), Rodrigo Lazarotto. Ele é o principal interlocutor entre a prefeitura e os representantes dos comerciantes. Nesse momento, de acordo com Lazarotto, o alinhamento para a transição não envolve todos os ambulantes porque muitos deles são senegaleses e o período atual é do Ramadã, considerado sagrado pelos muçulmanos. Por isso, neste mês, nem todos estão comercializando os produtos nas ruas de Caxias em respeito à religiosidade.
— Não estamos conseguindo contato com todos eles devido ao período, que respeitamos e, por isso, vamos fazer essa mudança de forma ordenada para que não ocorra nenhum atropelamento. Não é uma tarefa simples lidar com 82 pessoas, com todo o seu material, dificuldade de entendimento e é algo que exige um pouco mais de paciência — explica.
A proposta da prefeitura, anunciada desde o ano passado, prevê que os ambulantes sejam divididos em pontos fixos nas calçadas da Rua Dr. Montaury, entre a Avenida Júlio de Castilhos e a Rua Pinheiro Machado; na calçada da Rua Marechal Floriano, em frente ao Banco Bradesco e no outro lado da via, na Marechal Floriano, entre a Avenida Júlio de Castilhos e a Sinimbu. Além disso, eles não poderão ter atividade com vínculo empregatício e deverão pagar, anualmente, uma taxa para obtenção do alvará, no valor de R$ 116,45, para a venda de produtos. Lazarotto afirma que praticamente todos fizeram o pagamento e estão aptos a iniciarem nos novos locais.
O diretor da SMU afirma também que a única exigência para o sorteio é que os líderes dos ambulantes, Papis Doye e Abib Mamadou, fiquem organizados em diferentes pontos, sendo um deles na Dr. Montaury e outro na Marechal Floriano. O objetivo é que essa organização seja uma forma de facilitar a interlocução com os demais vendedores.
— A gente depende muito da coordenação e participação deles (Papis e Abib). Sem isso, não estaríamos nesse nível de progresso nesse projeto. Cada um dos líderes ficará em cada ponta e o restante será organizado conforme o sorteio. A ideia é que, a partir de sexta-feira, aqueles que forem possíveis possam se instalar nos novos locais — afirma.
Há sete anos em Caxias, Papis trabalha atualmente na esquina da Avenida Júlio de Castilhos com a Marechal Floriano. Comercializa artigos de vestuário. Recentemente, participou de uma solenidade com o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) e a vice-prefeita Paula Ioris (PSDB) para o recebimento das tendas que serão disponibilizadas aos comerciantes e auxilia no alinhamento das informações entre o Executivo e os demais ambulantes para que o projeto avance e represente melhores condições para os profissionais.
— É uma tentativa, ainda não sabemos como será. A taxa não é um valor alto, está de acordo com o que entendemos como certo. Esperamos que as coisas sigam em frente. Não sei se será melhor, mas as mudanças começam por alguma coisa. Queremos crescer. Se isso vai acontecer, só Deus sabe — avalia.
Segundo ele, o período de pandemia, com menos pessoas circulando nas ruas, impactou negativamente no orçamento dos vendedores. Com a retomada no movimento, as vendas ficaram mais aquecidas. Agora, o movimento é fazer com que os potenciais consumidores também fiquem de olho nas mercadorias que estarão expostas nas tendas e nos novos locais.
— A gente tem clientes. Quem são eles? É quem não quer comprar coisas caras — explica.
Abib também é uma das lideranças do movimento e afirma que, como são um grupo unido, as opiniões são semelhantes. Outros ambulantes na Júlio de Castilhos foram consultados pela reportagem, mas gentilmente não aceitaram conversar e sempre solicitavam que as perguntas fossem feitas para Abib e Papis. Abib, que ocupa um espaço na esquina da Júlio com a Visconde de Pelotas, entende que a mudança permitirá melhores condições de trabalho e evitará cenas de desrespeito.
— Sabe quando tu está acostumado em um lugar há dois, três, quatro anos e agora querem te colocar em outro? É assim. Se vai ficar melhor, não sabemos. Estamos dispostos a iniciar esse movimento de mudança. Vai ser diferente, não vamos ficar no sol e ninguém mais vai chutar a minha mercadoria. Tem muita gente que faz isso, praticamente todos os dias acontece. Nessa parte, vai melhorar — explica.
No novo local, os ambulantes não deverão ter um horário fixo, como ocorre atualmente. Abib lamenta que as vendas estejam em baixa nesta semana. Por volta das 16h desta quinta (20), mesmo com o Centro movimentado em razão da véspera de feriado, ele avaliava recolher a mercadoria e encerrar o dia de trabalho.
— A gente sabe quais são os melhores períodos. Em épocas de pagamento ficamos mais tarde. Agora, final de mês, nem adianta ficar muito porque não tem vendas. No novo local deve ser assim também — afirma.
Tamanho do espaço ainda em avaliação
Abib e Papis têm um único receio: o tamanho dos espaços previstos pela prefeitura é inferior ao que eles ocupam atualmente nas calçadas. Dessa forma, poderá haver menos produtos expostos, o que pode atrapalhar na hora das vendas, que ocorrem muitas vezes, segundo eles, devido à curiosidade do consumidor que está passando nas ruas e visualiza as mercadorias.
— O único lado ruim é o tamanho do espaço. Estamos conversando para saber o que podemos fazer porque entendemos ser pequeno — diz Abib.
O diretor de Fiscalização da SMU, Rodrigo Lazarotto, confirma que o tamanho da área dos novos locais está em avaliação. Cada tenda tem 1,20 metros de largura. Entre uma estrutura e outra, há cerca de 50 centímetros que separam os locais. Uma reivindicação dos ambulantes é que eles possam instalar outro tipo de suporte, como uma mesa, por exemplo, para que também utilizem esse espaço ocioso para expor os produtos.
— Não definimos essa questão (tamanho), mas não vejo problema nisso. Geralmente, eles são muito parceiros, tenho conversado muito com eles. Muitas vezes um não está e o outro vende a mercadoria do outro, assume a negociação no meio, então eles confiam muito. Utilizar esse distanciamento não seria um grande problema, mas ainda é necessário avaliar — afirma.
As áreas que serão ocupadas pelos vendedores começaram a ser demarcadas na segunda (18) e foram finalizadas na terça (19). Elas também estão numeradas.
Após mudança, fiscalização deve começar
A mudança no comércio ambulante é o primeiro passo para que a prefeitura de Caxias do Sul implemente uma nova organização na Avenida Júlio de Castilhos. As diretrizes fazem parte do programa Organiza Caxias, que estabelece como projeto-piloto a regulamentação da ocupação do passeio público para a venda de produtos. O regramento está previsto em um decreto publicado no mês passado.
Além de dar melhores condições para o trabalho dos ambulantes, o projeto é uma tentativa de atender a uma demanda antiga de lojistas que veem o comércio irregular como uma concorrência desleal, devido ao preço mais baixo para produtos vendidos em frente às próprias lojas.
A partir da conclusão da etapa da mudança de local dos ambulantes cadastrados, a prefeitura deverá reforçar a fiscalização para inibir o comércio irregular. Segundo o diretor de Fiscalização da SMU, Rodrigo Lazarotto, a conclusão da mudança permitirá que as calçadas fiquem menos ocupadas.
— Em princípio, todos os vendedores que estão na área central hoje ocuparão os novos espaços. Quem não estiver cadastrado, haverá o recolhimento — afirma o diretor de Fiscalização da SMU, Rodrigo Lazarotto.