A Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento e Bem-Estar Social da Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves aprovou o encaminhamento de um pedido ao Ministério Público (MP) e à prefeitura para que as decisões de uma reunião do Conselho Distrital do Vale dos Vinhedos sejam desconsideradas. A solicitação será para que o encontro da semana passada, em que a instalação de dois empreendimentos de grande porte foram barrados pelo órgão deliberativo, seja considerada sem efeito.
O encaminhamento foi feito em uma reunião da comissão nesta terça-feira (29). O vereador Anderson Zanella (Progressistas) foi que fez a sugestão sob três alegações: de que não houve a convocação ou pedido de contraponto aos empreendedores por parte dos conselheiros, de que um dos conselheiros não poderia votar por não ter seguido as normas do regimento do órgão, e de que conselheiros que votaram tinham como interesse próprio vetar os investimentos — na reunião, um áudio atribuído a uma conselheira foi apresentado, sem que ela fosse identificada, em que ela diz que vota pelo interesse na própria qualidade de vida e empresa, e não pela preservação da paisagem do Vale.
Zanella também contou com o apoio dos colegas para o encaminhamento ao MP e ao Poder Executivo para que seja suspenso imediatamente o alvará para a construção do Castelo Resorts. Para ele, esse empreendimento tem características semelhantes aos que foram barrados pelo conselho e, portanto, não pode ser mantido.
Empreendedores garantem preocupação com o Vale
Durante a reunião, representantes do Grupo Salton e da Gramado Parks apresentaram pela primeira vez publicamente a iniciativa para a construção do Projeto Enoturístico do Vale dos Vinhedos, um dos vetados pelo conselho, e garantiram a preocupação com a sustentabilidade do roteiro turístico. Eles também se colocaram à disposição para fazer possíveis alinhamentos, mas garantiram que o projeto está dentro das normas legais, o que levou à aprovação do Instituto de Planejamento Urbano (Ipurb) antes da avaliação dos conselheiros.
O projeto está previsto para ser instalado em uma área de 700 mil metros quadrados que pertence à Salton. Inclui a construção de um mall (um conjunto de 40 lojas, opções gastronômicas e entretenimento), de uma área com 200 apartamentos de 55 metros quadrados para multipropriedades e um resort com 400 leitos.
Durante a apresentação, o vice-presidente de implantação de parques da Gramado Parks, Fábio Bordin, contrapôs a ideia levantada por integrantes do conselho de que haveria novos moradores no Vale a partir devido ao Villa, área que abrigará as multipropriedades. Segundo ele, esse formato de empreendimento restringe o período para usufruir do local e, por isso, se caracteriza como parte da rede hoteleira. Também disse que a área construída do Projeto Enoturístico chegaria a 13% do total da propriedade e garantiu que existe o compromisso de aumentar em ao menos 20% as plantações de videiras, o que vai ao encontro da caraterística do roteiro.
Ele garantiu ainda a preocupação com a sustentabilidade ambiental, a preservação da permeabilidade do solo, a replantação de árvores retiradas dentro da própria área, a manutenção de corredor ecológico, áreas de preservação permanente e de uma reserva biológica na região. O vice-presidente pontuou que os empresários farão investimentos na infraestrutura da região, como a construção de uma rotatória, a previsão de asfaltamento de uma via, a implantação de uma ciclovia e a instalação de uma Estação de Tratamento de Esgoto.
— A gente não está fazendo isso para estragar nada — resumiu.
Também participou da reunião o diretor-presidente da Salton, Maurício Salton, que lembrou a trajetória da família em Bento e a proximidade com a comunidade, para salientar a preocupação da empresa com a preservação do Vale.
Ao final, representantes do Bewine, o outro empreendimento barrado, pediram para falar à Comissão. Eles devem apresentar o projeto na próxima terça-feira (5). Em nota à imprensa na segunda-feira (28), os idealizadores do Bewine haviam dito que estão abertos ao diálogo com o conselho, e defendem que o investimento reduzirá o déficit de vagas na rede hoteleira e dará impulso econômico e social à região.