A economia de Caxias do Sul apresentou resultados positivos em todos os índices analisados no mês de julho. O crescimento sobre o mês anterior alcançou 15,7%, puxado pelo setor de serviços (49,8%). A indústria teve uma aceleração mais ponderada, na ordem de 2%, enquanto que o comércio se manteve praticamente estável (-0,3%). Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (9) pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul.
De acordo com o diretor de Economia e Estatística da CIC Tarciano Melo Cardoso, houve em julho uma questão pontual de arrecadação extraordinária de Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), que é a base para extração dos dados de crescimento do setor de serviços. No entanto, o economista pontua que, mesmo se desconsiderada esta situação fora do comum de julho em relação aos tributos, o setor está atravessando um momento positivo.
— A gente fez um exercício, extraindo essa arrecadação, e o movimento vem se mantendo positivo. A gente já teve positivo o mês de junho na comparação mensal e o mês de julho, extraindo essa questão pontual, ela também permaneceria positiva.
Entre os três setores, o comércio foi o único que, na comparação mês a mês, teve um índice negativo. Para o assessor de economia e estatística da CDL Caxias, Mosár Leandro Ness, esse comportamento já era esperado:
— Nós estamos vivendo um momento em que a demanda está sofrendo um baque principalmente pela elevação dos preços. Os preços da alimentação, além dos preços controlados, subiram muito. Então, nós temos uma elevação dos combustíveis, na energia elétrica, no preço da alimentação. Isso tira poder de compra de uma maneira geral dos consumidores.
Nesta semana, o IBGE divulgou que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou agosto com alta de 0,87%. É a maior inflação para o mês desde os anos 2000. Já o IPCA acumulado em 12 meses é de 9,68%. O diretor de Economia e Estatística da CIC Alexander Messias manifestou preocupação com esses índices.
— O que decorre disso é que a chance dos juros serem mais elevados do que se desejaria é muito grande e isso implica em uma diminuição do crescimento na medida em que o custo do capital se torna mais caro. E esse aumento generalizado de preços afeta diretamente também a expectativa da economia como um todo.
Para esse ano, no entanto, as expectativas ainda são de avanço da economia. É o que diz outro diretor de Economia e Estatística da CIC, Astor Schmitt.
— Eu tenho a sensação que quanto à nossa economia, o jogo de 2021 está dado. Nós temos três meses e pouco de atividade e a inércia do sistema certamente vai nos conduzir a um fechamento do ano com números positivos. O saldo de empregos, certamente, também será positivo. Agora, apesar disso ser verdade, eu me solidarizo com a opinião de que as nuvens para 2022 estão cada vez mais escuras.
O impacto das manifestações
Os representantes das entidades empresariais de Caxias do Sul também comentaram a situação do país neste momento, com as manifestações iniciadas em 7 de setembro.
— Qualquer movimento, seja de cunho político ou organizado de uma entidade ou qualquer outro tipo de movimento, sempre vai afetar a economia. Não tem como ser diferente. Os movimentos de paralisações como a gente vem observando, isso afeta direto, porque é escoamento da produção. Os reflexos, para a gente entender a magnitude, depende do tempo e da forma com que for, se será mais contundente ou não — comentou o economista Tarciano Melo Cardoso.
Durante a apresentação, Astor Schmitt destacou mais uma vez o posicionamento da CIC, divulgado nesta semana em um documento chamado de manifesto pela governabilidade. Disse que o Congresso Nacional deve reassumir o protagonismo e dar continuidade a assuntos como reformas, lei orçamentária e a política de pagamento de precatórios.
Schmitt afirmou ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve se ater a missão de zelar pela Constituição e não ser o que ele chamou de agente de acusação, julgamento e condenação ao mesmo tempo; e cobrou do governo federal moderação e pró-atividade para resolver os problemas do país. Afirmou ainda que a imprensa deve ser neutra, isenta e divulgar a verdade, ao pontuar que, como cidadão, tem a impressão de que existe um foco excessivo no que é ruim ao invés do que naquilo que é bom, sem mencionar exemplos.