Apesar do cenário ainda de pandemia, o turismo, um dos principais setores afetados pela crise sanitária, dá sinais claros de retomada. Na Serra gaúcha, destino consolidado não só entre os gaúchos, mas entre os demais brasileiros, o movimento pode ser percebido visualmente.
A cada final de semana, turistas "lotam", dentro da capacidade permitida, estabelecimentos gastronômicos e de lazer. Um dos roteiros preferidos dos visitantes têm sido as vinícolas, especialmente as que oferecem espaços a céu aberto.
— As pessoas estão procurando experiências ao ar livre e com poucas pessoas. Nós sempre fizemos e agora veio a calhar — conta Bruna Cristofoli, gestora e proprietária da Vinícola Cristofoli, localizada na Rota Cantinas Históricas, em Faria Lemos, interior de Bento Gonçalves.
A busca pelos almoços e piqueniques na área externa já superaram o período anterior à pandemia, segundo Bruna. O acréscimo estimado é de 50%. Trabalhando apenas com reservas, a vinícola já está com a agenda cheia para esse mês. Para outubro, ainda há vagas já que, no caso da Cristofoli, os clientes têm reservado em cima da hora. Mas ela não recomenda deixar para a véspera, pois como há limite de ocupação, pode haver indisponibilidade.
Para o secretário do Turismo de Bento Gonçalves, Rodrigo Parisotto, as opções ao ar livre, como os gardens das vinícolas, de fato, têm contribuído na recuperação do desempenho turístico. De janeiro a julho deste ano, o município recebeu 649.735 visitantes, número ainda inferior ao mesmo período de 2019, quando foram 922.204. Nos primeiros sete meses de 2020, primeiro ano da pandemia, foram 388.179 visitantes.
— Algo muito importante que Bento tem: um relevo ímpar que nos proporciona paisagens únicas. Também ressalto que a cultura da imigração italiana está bem preservada e isso também permite uma experiência completa de vivência para aqueles que vem. A estabilidade de não haver fechamentos garante a segurança para quem pretende viajar. Isso faz toda a diferença para essa retomada segura — entende Parisotto.
Wine bar em Flores da Cunha
De olho na tendência de empreendimentos ao ar livre, em expansão ainda antes da crise, Felipe Bebber, de Flores da Cunha, planejou um wine bar junto à vinícola da família. Segundo ele, clientes já demonstravam interesse em um espaço onde pudessem aproveitar o dia.
— Percebemos que as pessoas não queriam apenas degustar, queriam beber no nosso jardim — diz Felipe, que é enólogo.
A intenção, segundo ele, era abrir as portas em 2020. Porém, chegou a pandemia que adiou, mas não interrompeu o plano. O wine bar da Bebber está em funcionamento desde junho e já registra movimento bem acima da expectativa.
— É algo que nos surpreende. Mal divulgamos e tem sempre gente nova –— diz o enólogo e um dos sócios do wine bar.
Aberto de sexta a domingo, o local oferece, além de vinhos, tábuas de frios, pães, geleias e frutas. Um novo cardápio será lançado em outubro. A vinícola também prepara o lançamento de rótulos de verão para combinar com os dias quentes:
— Lugares ao ar livre têm dado certo há tempos. A pandemia potencializou. Entre ficar em lugar aberto ou fechado, as pessoas preferem o aberto.
O município de Flores da Cunha não tem dados de visitantes mas, conforme o secretário do Turismo, Paulo Sérgio Wichmann, é perceptível o crescimento no número de turistas nos últimos meses.
— O que a gente percebe visualmente é que tem ocorrido aumento no número de visitantes. Isso tem feito com que as empresas invistam. Empresas que já existem estão reformulando o seu varejo, incluindo a gastronomia, e alguns outros vão surgindo. Há um resquício de demanda reprimida e as pessoas buscando novas alternativas de passeios — destaca Wichmann.
Boom nas experiências internas
As experiências nos espaços internos das vinícolas também têm atraído um grande número de visitantes nos últimos meses. Na Aurora, em Bento Gonçalves, os números de julho deste ano estão próximos dos do mesmo mês de 2019, antes da crise. Além dos turistas da região, a vinícola tem recebido moradores de Santa Catarina, São Paulo e Distrito Federal.
— Está diferente de 2020, quando foi bem lenta a retomada. Agora tem um boom. O aumento do número de pessoas vacinadas deu mais segurança — avalia Ana Maria De Paris Possamai, supervisora de turismo da Vinícola Aurora.
A tradicional empresa inaugurou recentemente uma loja no Vale dos Vinhedos, onde oferece degustação orientada mediante agendamento.
— É uma proposta diferente, estamos em um ponto estratégico, na entrada do Vale dos Vinhedos.
Assim como a Aurora, a Vinícola Salton, localizada no distrito de Tuiuty, também em Bento, tem registrado uma boa procura. Porém, o movimento ainda está abaixo do público recebido em 2019. Nos últimos três meses, contudo, foram contabilizados mais de 9 mil turistas que passaram pela Salton.
— Atuamos conforme as regras e perdemos visitas. Ainda assim, foi um aumento significativo. Tem a ver com a qualidade do vinho, as restrições para viajar para fora do país e a recomendação de amigos — frisa Luciana Salton, diretora-executiva da Vinícola.
"Enoturismo é viável em Caxias"
Produção de uva e vinho é tradição em Caxias. Já o enoturismo, não. Mas, se depender da terceira geração da família Onzi, o cenário pode mudar. Desde dezembro, Camila Onzi Guareski está à frente da Terroir 29, uma enocafeteria junto à vinícola Casa Onzi, em Forqueta. A ideia surgiu da observação do comportamento de quem comprava vinho durante a pandemia.
— A gente percebeu que as pessoas passaram a procurar o interior. Os clientes vinham na vinícola e passavam a tarde no nosso gramado, até traziam comida — conta.
Agora, quem chega para comprar vinho, passa na cafeteria e quem vai na cafeteria não deixa de levar um vinho ou suco da vinícola para casa.
— Boa parte dos clientes da cafeteria é de clientes da vinícola. Mas tem um público novo — diz Camila, acrescentando que os ciclistas que percorrem as estradas do interior aos finais de semana estão entre os frequentadores.
A Terroir 29 abre aos sábados e domingos, das 11h às 18h. No verão, o horário de atendimento será ampliado. Futuramente, a ideia é abrir uma pousada no local.
— O enoturismo é viável, tem muito potencial para crescer e se desenvolver em Caxias — acredita.