Os sucessivos reajustes do preço do gás nas refinarias são mais um componente importante no aumento do custo de vida para os moradores de Caxias do Sul. O preço do botijão de 13 quilos chega a R$ 115 para quem compra com a opção de entrega, conforme pesquisa feita pela reportagem nesta semana. Foram consultadas 10 revendas, em diversos bairros da cidade.
Para se ter uma ideia, em julho de 2020 o Pioneiro encontrou um preço máximo de R$ 88. Portanto, aumento de 30%. Outro levantamento, com uma base mais ampla, mostra o impacto dos aumentos no bolso do consumidor de uma forma ainda mais significativa. O preço mais do que dobrou desde 2018, conforme dados levantados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Há quatro anos, o valor médio era de R$ 54, em Caxias. Ou seja, em comparação com o preço de R$ 115, o aumento é de 112% neste período.
O presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras, Comercializadoras e Revendedoras de Gases em Geral no Estado do Rio Grande do Sul (Singasul), Ronaldo Tonet, explica que o fator que mais colabora para isso é a política de preços da Petrobras, que considera o mercado internacional, a variação cambial e os custos de importação (porque o Brasil não é autossuficiente). O preço do barril de petróleo também tem sofrido constantes altas. Além disso, explica ele, outros fatores na cadeia de abastecimento influenciam no preço ao consumidor.
— Um fator de pressão do último aumento do gás, não foi da Petrobras, mas das distribuidoras que têm o mês como data base do reajuste dos seus trabalhadores. Então, normalmente aquilo que vão repassar de aumento de salários, as distribuidoras aumentam para os revendedores, de R$ 5 a R$ 8, e a maioria foi obrigada a repassar para os consumidores.
Estabilização no horizonte, diz economista
O economista Mosár Leandro Ness, que pesquisa a Cesta Básica em Caxias, salienta ainda que a pandemia forçou o aumento do consumo doméstico, ampliando a demanda.
— A questão do gás, do petróleo e dos combustíveis não é uma exclusividade do Brasil. O mundo inteiro está sofrendo esse problema energético em função da pandemia. O que a gente enxerga para os próximos meses é que a política econômica vai afetar a política cambial. Então, a tendência é que a gente tenha uma estabilização e se espera também uma estabilização no preço dos combustíveis, incluindo o gás.
Essa projeção é positiva, não apenas para o consumidor, bem como para as revendas. Como esses reajustes não significam melhora na margem de lucro, as empresas somam perdas geradas pela tentativa de os clientes economizarem em seu consumo.
— O pessoal está economizando, segurando aquele botijão vazio, que sempre tem em casa, e o consumo está reduzido devido ao aumento — explica Paulo Domingues, proprietário de uma revenda caxiense.
Aumento de 25% no custo
A Hamburgueria Jaime Rocha, no Centro de Caxias, usa três botijões de gás P45 por semana e, desde o início do ano, viu o preço disparar. Conforme a sócia Simone da Rocha, o custo semanal com esse produto era de aproximadamente R$ 840, mas agora chega a R$ 1.050. É 25% a mais. Com a diferença, seria possível comprar três botijões a cada quatro semanas.
Para tentar economizar, entra em cena o jogo de cintura. A tradicional hamburgueria tem duas chapas: uma para pedidos de telentrega e retirada no balcão e outra para consumo no local. Agora, quando o movimento acalma em uma das frentes, a opção é desligar uma das chapas.
Apesar dos aumentos constantes, Simone conta que não é possível repassar ao consumidor esse custo, até porque, frisa ela, a alta da energia elétrica e de outros insumos continua impactando na conta final.
— É quase impossível de repassar, porque é muito seguido. A velocidade não acompanha o reajuste que se tem por semana ou por mês. Como tu não consegue passar esse valor para o cliente. Então, na verdade, tu diminui o teu lucro.