A construção de um porto não é simplesmente colocar o maquinário na faixa de areia e ir construindo um pier até a área de atracação dos navios. Trata-se de um processo burocrático, que envolve várias esferas do Ministério da Infraestrutura e da Marinha do Brasil. Além disso, as empresas ainda são responsáveis pelo treinamento dos profissionais que irão executar as obras e precisam buscar liberações em órgãos como Ibama e Fepam.
Essa tramitação ainda é aguardada pelo poder público de Arroio do Sal, que vislumbra a implementação de dois portos no município. Um deles, o Porto Meridional, projeto da DTA Engenharia, será apresentado na próxima segunda-feira, dia 9, em Porto Alegre. O planejamento da obra será exposto para os investidores gaúchos que compraram o terreno em Rondinha Nova e, a partir desse momento, a ideia é atrair novos investidores para aportar cerca de R$ 5 bilhões.
Por sua vez, o Porto Litoral Norte já tem a liberação da Marinha, mas segue o rito burocrático de instâncias federais — o valor para a construção já está garantido e será aportado por fundos internacionais. A Secretaria Nacional de Portos foi consultada sobre quais etapas os projetos dos dois portos ainda precisam cumprir, mas não respondeu ao questionamento da reportagem até a publicação desta matéria.
Inegável é o papel desses equipamentos não apenas para região da Serra, mas para todo o Rio Grande do Sul. A economia gaúcha hoje tem um custo altíssimo para escoar a produção, e, por esse motivo, há muita expectativa para que um ou os dois portos consigam sair do planejamento e se tornem realidade até 2025. Atualmente, os custos com a logística no Estado estão na ordem de 21,03%. Para o presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (CamaraLog), Paulo Menzel, o custo deveria ser de 6%.
— O porto de Arroio do Sal é muito bem-vindo porque vai ajudar o Rio Grande do Sul, pois ele é um porto estadual e não apenas da Serra gaúcha. (O equipamento) vai ajudar o Estado a melhorar sua competitividade com redução dos custos logísticos. A consequência disso é nos tornarmos mais produtivos, isso retroalimenta toda a cadeia do desenvolvimento econômico — defende.
ALTO CUSTO
O problema de infraestrutura e logística é antigo, diz Menzel. São cerca de 57 anos de atraso em relação a outros países que investiram nessas áreas básicas. Atualmente, empresas da Serra escoam a produção via portos de Santa Catarina, Paraná e até Santos, no litoral paulista. Outro equipamento aguardado é o Aeroporto Regional da Serra, em Vila Oliva.
— Praticamente 100% da carga aérea gaúcha vai por rodovia até Guarulhos e Viracopos, ante de voar para o mundo. No sentido inverso, existem cargas do Rio Grande do Sul que entram por Natal, Recife e até por Manaus, só depois vêm de caminhão até aqui. Quando precisa usar outros aeroportos, portos e armazéns você escoa, mas a logística se torna extremamente cara — explica.
Se cumprir as metas de prazos, com aeroporto e portos operando entre os anos de 2025 e 2026, a região encerraria um atraso de décadas, algo que deverá restabelecer a confiança para que a roda volte a girar no Rio Grande do Sul.
— A infraestrutura se desenvolveu no mundo e nós ficamos parados na história. Nós temos um banco de dados muito grande e sobre o custo da logística no mundo, por exemplo nos Estados Unidos custa 7,5% e, no Brasil, está em 21% e crescendo — finaliza Menzel.