O capitalismo é movido por produção e competitividade de preços. Só que, para essa roda girar em sintonia, é preciso ter uma infraestrutura que consiga entregar o produto com um preço atrativo ao mercado, justamente um dos maiores problemas relatados na Serra: conseguir escoar a produção em segurança e com menor custo. Uma luta antiga e que agora parece ter, literalmente, um horizonte mais azul à sua frente. A perspectiva de que tudo mude em cinco anos é grande, com um sistema completo de escoamento por terra, céu e mar. Do aeroporto de Vila Oliva até dois portos em Arroio do Sal.
Rodovias em condições, um aeroporto que contemple aviões de carga, linhas férreas que consigam ligar os municípios da Serra e dois portos no Litoral. Esse roteiro é complexo e também o grande sonho dos empresários regionais. Algo que parece estar próximo de se tornar realidade.
— Nosso horizonte é que em cinco anos tudo esteja pronto — afirma Rogério Rodrigues, diretor-geral do MobiCaxias.
O cenário atual é positivo. Ainda nesta semana, deverá ser conhecida a empresa responsável por realizar o projeto executivo do novo Aeroporto Regional, da Serra Gaúcha, em Vila Oliva. O plano de viabilidade técnica e econômica do Porto Meridional, em Arroio do Sal, também deverá ser apresentado aos investidores até o dia 13 de agosto. A esperança se volta para que as discussões do projeto de concessão das rodovias estaduais, atualmente em debate, avancem nos próximos meses, restando apenas que os estudos para novas ferrovias também sejam contemplados.
Isso daria um peso enorme para a economia da região. Afinal, esses passos são fundamentais para a sobrevivência e a competitividade das empresas que têm suas sedes por aqui.
— Quando os produtos das nossas empresas saem da porta, você já bota um adicional de 23% no preço final. Fica inviável produzir em Caxias. Não temos condições de escoamento parecida com outros Estados, por exemplo — explica Rodrigues.
A importância desses equipamentos é inegável para o desenvolvimento da nossa região. Estradas seguras, um aeroporto maior e conseguir exportar para o resto do mundo são operações fundamentais para os próximos anos. Hoje é preciso entender que os produtos da Serra precisam viajar até Rio Grande e, em alguns casos, até o porto de Santos, em São Paulo. Com equipamentos mais próximos, o preço de escoamento pode cair pela metade.
— Se nós somos exportadores de commoditties, nós precisamos reduzir os custos de logística. Mas existe uma outra oportunidade, que é o acompanhamento da evolução do novo capitalismo. As nossas empresas precisam evoluir, nos dando capacidade de produzir bens com maior valor agregado, e o aeroporto mais próximo facilitará esse processo — explica a economista Monica Mattia, presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede-Serra).
O aeroporto e as concessões de rodovias são assuntos recorrentes e mais fortes atualmente nos debates regionais, mas dois modais serão fundamentais nesses processos e caminham a passos diferentes: ferrovias e portos. A saída pelo mar é a mais próxima de acontecer.
Os trens ainda estão distantes de Caxias
Outro projeto muito aguardado se refere às ferrovias na Serra. A intenção do Mobi é garantir a retomada do terminal de cargas em Vacaria e que tenha ligação até o município de Colinas, na Região dos Vales e o porto de Estrela. Esse é o primeiro passo que está sendo trabalhado com a empresa Rumo Logística, detentora da concessão de ferrovias no Braço Sul, que vai de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Vencida essa etapa, o foco será um braço de Vacaria até Criúva, próximo do futuro aeroporto.
— Conseguindo a ativação de Vacaria, que é Campos de Cima da Serra, faz interface com a região de Criúva e a topografia favorece um trecho novo, é algo plano. Isso seria interligar o terminal de Vacaria até o aeroporto — explica Pedro Gilberto Aldoise, coordenador do projeto Acesso Rodoviário da Serra, pelo MobiCaxias.
Como a Rumo está tentando antecipar sua renovação de concessão das ferrovias junto ao governo federal, esse assunto só deverá ser discutido de forma mais intensa após esse passo ser confirmado. A intenção ainda é encontrar um braço que ligue o Aeroporto da Serra Gaúcha até Arroio do Sal. Ainda não existem estudos para encontrar esse caminho, que poderá ser por Santa Catarina, mas existe a compreensão de que as ferrovias são a melhor escolha para transporte de cargas pesadas.
— Somos o terceiro maior consumidor de aço do Brasil, e abastecer é muito oneroso. Conseguindo ligar esses modais, o custo nos daria maior competitividade do que se tem hoje — complementa Aldoise.
Por fim, o transporte de passageiros caminha de forma mais lenta. A intenção ainda está em formar um consórcio de municípios da Serra para conseguir viabilizar todos os estudos que envolvem um novo traçado para implementação de um Trem Regional. Já existe projeto, que quase andou no passado recente (veja quadro), para ligar as cidades de Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa. Algo que ainda precisa ser melhor debatido entre todos os municípios, porque vai exigir muitas alterações. A atual malha até é considerada, mas quase descartada.
— Essa malha se estivesse desimpedida (sem as invasões), precisaria receber muitos investimentos e, como tem muitas curvas, os trens não poderiam trafegar em velocidade muito alta. Tem uma série de implicações técnicas, o que torna muito prematuro fazer alguma previsão. Agora é formar o consórcio dos municípios e depois iniciar os estudos de viabilidade — encerra Aldoise.