Caxias do Sul vive, há pelo menos 10 anos, a expectativa em torno da construção de um novo aeroporto, quando em maio de 2011 uma área em Vila Oliva foi escolhida para o empreendimento. As obras devem, finalmente, começar a sair do papel no próximo ano. Mas enquanto esse dia não chega, é o Aeroporto Regional Hugo Cantergiani que cumpre o importante papel de ligar Caxias a São Paulo e conexões.
Duas companhias aéreas operam na cidade atualmente. A Azul, com um voo diário, com destino a Campinas e, a Gol, com um voo e média de três operações por semana, com destino a Guarulhos. Antes da pandemia, a frequência era maior, mas com a crise sanitária as empresas ficaram sem pousar e decolar de Caxias por um bom período.
A Gol parou em março do ano passado e retomou em setembro, parando novamente em março deste ano e retornando em junho. Já a Azul, que interrompeu os voos em março de 2020, voltou a operar em Caxias somente em fevereiro deste ano.
O balanço do primeiro semestre mostra que o Hugo Cantergiani recebeu 27.214 passageiros, número que engloba não apenas os voos comerciais, mas os executivos. Em anos anteriores à pandemia, a média diária chegou, por exemplo, a 572 passageiros em 2018. Ao todo, foram 205.943 pessoas naquele ano. Apesar da redução de voos domésticos, o movimento de táxis-aéreos não parou durante a pandemia, segundo o diretor do aeroporto, Maurício Loreto D’Avila. Pelo contrário. Muitas pessoas, sem poder utilizar o transporte aéreo convencional, precisaram buscar alternativas.
— O aeroporto precisa funcionar 24 horas por dia (com escala de plantão). Tem transporte particular, transporte médico, aeronaves que pedem suporte — acrescenta.
O vai e vem de aeronaves movimenta a economia do município — com o cafezinho que o passageiro toma no restaurante do aeroporto ou com o carro que ele loca para se deslocar pela cidade — e do Estado, com as taxas de serviços cobradas das empresas. Para se ter ideia, somente o pouso de uma aeronave de porte pequeno custa, em média, R$ 240. Já o de uma aeronave grande, como a da Gol, fica em R$ 2,5 mil.
Há também taxa de permanência para períodos superiores a três horas (cerca de R$ 1,40 por tonelada/hora) e da comunicação da sala-rádio. Os valores são cobrados pela Infraero e entram no caixa único do Estado. Conforme D’Avila, o pátio principal tem capacidade para entre oito e nove aeronaves, dependendo do tamanho de cada uma, e há dias em que ele fica lotado.
Nos últimos meses, o aeroporto tem recebido semanalmente uma aeronave da Grendene que permanece em um dos hangares. Há uma posição pré-definida para ela por conta da frequência. Também há aeronaves de empresas como Randon, Colombo, Marcopolo e Postos SIM, estacionadas no pátio 2, em área alugada pelo Estado.
— É difícil estimar quanto o aeroporto movimenta na economia, pois somos um Estado forte no agronegócio, na indústria, no turismo e em tantos outros setores. Somos referências na educação com as melhores universidades e os melhores parques tecnológicos do país. Hoje, percebemos que a aviação é imprescindível para a economia. Além de encurtar as distâncias, faz com que a riqueza da nossa região e do Estado continuem crescendo exponencialmente, além de levar desenvolvimento para outras regiões do país — destaca D’Avila.
Futebol dá movimento
A presença do Juventude na Série A do Brasileirão é um fator que tem dado mais vida ao Cantergiani também. Os times que enfrentam o alviverde tem escolhido o aeroporto para chegar na cidade. Flamengo, Atlético-PR, Palmeiras e Atlético-MG já fretaram voos para Caxias. O próximo é o São Paulo, que desembarca, também em voo fretado da Azul, no dia 28.
— Tem muitos times de futebol vindo. Eles fretam voos de companhias e a gente coordena para que o time não tenha contato com torcedores por causa da covid-19 — conta D’Avila.
Tamanho: O Hugo Cantergiani tem área total de 60 hectares. São 1,9 mil metros de pista.
"Não é um ou o outro"
Para o Secretário do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, Élvio Gianni, o aeroporto de Caxias cumpre dois papéis importantes: o de trazer grandes negócios e o de movimentar pequenos, no entorno, gerando trabalho e renda, por exemplo, para taxistas e motoristas por aplicativo.
Grandes negócios devem passar pelo Cantergiani, aliás, em outubro, quando será realizada a Mercopar. Essa é, ao menos, a expectativa.
— Já há uma movimentação para a feira e um número significativo de empresários deve vir pelo Cantergiani. Sempre que é possível trazer por Caxias é melhor, porque é menos tempo de voo e desenvolve a cidade. Se tivesse a possibilidade de mais voos durante a Mercopar seria bem interessante — diz Gianni.
Vamos fazer algo a mais porque esse já não suporta a demanda. Estamos ampliando. Não é um ou o outro. É um e o outro
ÉLVIO GIANNI
Secretário do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego
Quando o aeroporto de Vila Oliva ficar pronto, inevitavelmente, os olhares se voltarão para ele. Mas o secretário acredita que o atual aeroporto precisa continuar operando para voos menores:
— Temos toda a história do Aeroclube e o Cantergiani pode ser para serviços menores. O Vila Oliva para aeronaves maiores e atendendo a toda região e o Cantergiani para pequenos negócios. Vamos fazer algo a mais porque esse já não suporta a demanda. Estamos ampliando. Não é um ou o outro. É um e o outro — defende Gianni.
O diretor do Cantergiani não sabe o destino do aeroporto quando o de Vila Oliva ficar pronto, mas também entende a sua importância para a aviação regional.
— Nosso aeroporto é muito bem localizado, mas, com certeza, Caxias merece um com mais infraestrutura. Enquanto demora (o de Vila Oliva), vamos dando sobrevida a esse — diz D’Avila.
Expectativa por aumento da oferta em 2022
A malha aérea é atualizada e informada mensalmente pelas companhias às direções dos aeroportos. Embora não saiba quantos voos as empresas terão até o final do ano, Maurício Loreto D’Avila diz que já há uma expectativa para que a Gol ofereça a partir de janeiro mais um voo. A empresa já sugeriu, em outros períodos, voo para Congonhas, em São Paulo, e esse é um destino demandado pelos passageiros de Caxias.
D’Avila também conversa com a Azul para que seja retomado o voo para Curitiba.
— A aviação é importante, encurta o tempo. O nosso aeroporto deveria ter mais voos regulares de outras companhias. Temos demanda de passageiros. Os voos da Azul e da Gol saem com 85% da capacidade. Eles dão conta, mas se tivessem mais horários, pode ser que o valor das passagens baixasse — analisa.
Desempenho: As companhias aéreas nacionais registram, em agosto, o quarto mês consecutivo de crescimento no número de voos domésticos, com uma média de partidas diárias de 1.680, ou o equivalente a 70% da oferta de voos no início de março de 2020. O levantamento é da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Voos hoje
- Azul (diário): pousa às 14h e decola às 14h50min. O destino é Campinas.
- Gol (três vezes por semana): pousa às 18h55min e decola às 19h35min. O destino é Guarulhos.
Editais abertos para ocupar espaços
Duas áreas dentro do aeroporto estão com editais abertos para novos permissionários: o espaço do restaurante e o da loja de chocolates. Em breve, um edital para ocupação da loja, atualmente mantida pela GDS Turismo, também será lançado. A empresa está em processo de entrega do ponto.
De acordo com o administrador do aeroporto, já é hora de novas licitações. No caso do estacionamento, tratativas com o Departamento Aeroportuário (DAP) estão sendo feitas, também para o lançamento de um edital. A área foi entregue durante a pandemia pelo então permissionário, pois o movimento caiu com o aeroporto fechado para voos domésticos.
A direção planeja ainda locar as salas do andar superior, ampliando a oferta de produtos aos passageiros. Além disso, melhorias, como a construção de um banheiro na sala de embarque, e um elevador, estão nos planos futuros.
O aeroporto é a porta de entrada do município e está envolvido no turismo e nos negócios.
MAURÍCIO LORETO D’AVILA
Diretor do aeroporto de Caxias do Sul
— O aeroporto é a porta de entrada do município e está envolvido no turismo e nos negócios. O pessoal vem muito para cá aos finais de semana — pontua Maurício Loreto D’Avila.
Pessoal: Cerca de 100 trabalhadores fazem o aeroporto funcionar. Oito deles são servidores públicos. Há os que são terceirizados, como os funcionários da empresa que presta o serviço de raio-x e os da empresa que transporta bagagens.
Retomada no restaurante ainda é lenta
Depois de trabalhar na Varig e na TAM, em Caxias, Alexandre Arcoverde quis continuar no ramo da aviação. Viu que o edital para o restaurante do Hugo Cantergiani estava aberto e resolveu se inscrever. Há 12 anos está no comando do negócio. Antes da pandemia, o cenário era muito bom. A chegada do vírus mudou tudo.
— Antes, eram três voos diários. Agora ficou capenga — reclama.
Arcoverde precisou fechar no ano passado e demitiu quatro funcionários. A retomada, segundo ele, está lenta. A esposa Rosa Novo imaginava que com o campeonato brasileiro as coisas melhorassem, mas ainda não decolou.
— O movimento depende da malha aérea — diz ela.
O restaurante oferece lanches e refeições e tem como principais clientes executivos e turistas. O morador de Caxias dificilmente consome, diz Arcoverde. O estabelecimento também fornece alimentação para a tripulação da Azul e da Grendene.
— Espero que volte a ser o que era antes. Ou melhore — diz Arcoverde, que é natural do Recife e está em Caxias há 19 anos.
Faturamento cresceu em locadora de veículos
O desembarque de passageiros de um lado da Avenida Salgado Filho impacta de forma positiva no outro lado da via: nas locadoras de carros. São várias opções bem em frente ao aeroporto e que tem boa procura. Na Unidas, 60% da demanda é oriunda de passageiros.
Conforme Vanderlei Machado Iaramenco, gerente da franquia, depois de uma queda no faturamento entre 60% e 70% no ano passado, devido à pandemia, a empresa já percebe a retomada. O crescimento em julho deste ano foi de 120% na comparação com julho de 2020:
— No mês passado foi bom o faturamento por causa do frio. Tivemos de remanejar veículos de outras unidades. Imagino que em dezembro (período de Natal Luz em Gramado) vamos ter que remanejar também.
O aumento no faturamento também está associado à elevação nos preços por causa da demanda. Iaramenco explica que houve falta de veículos para a renovação da frota e com menos carros, o preço do aluguel subiu. A loja, que chegou a ter 140 veículos, agora está com 104.
— A expectativa para esse ano é crescer de 40% a 50% na comparação com anos anteriores à pandemia — finaliza.
Caxias oferece formação para piloto
Colado ao aeroporto Hugo Cantergiani está o Aeroclube de Caxias do Sul. São 80 anos de história e metade desse período é dedicado à formação de pilotos. Muitos profissionais passaram pela escola que se tornou referência. É tão bem vista que atrai interessados não só da região, mas de outros estados, caso do carioca David Alexandre Malka Y Negri, 20 anos. Estudante de Ciências Aeronáuticas da PUC, em Porto Alegre, ele optou em fazer os cursos de piloto privado e comercial em Caxias pela boa fama.
— Eu tinha alguns amigos que voavam aqui e falavam bem. Conheci a estrutura e fiz o curso de piloto privado e agora faço o de piloto comercial. O que mais me surpreendeu é que é um ambiente mais família — revela.
90% dos alunos que passaram pelo Aeroclube estão empregados em companhias aéreas. A formação é muito bem vista no mundo. Há pilotos formados aqui atuando na Europa e na Ásia.
THIAGO BOEIRA DE SOUZA
Coordenador dos cursos do Aeroclube de Caxias do Sul
O jovem, que desde criança sonha em ser piloto e tinha como diversão acompanhar os pousos e decolagens no aeroporto Santos Dumont, planeja finalizar o curso comercial até o final do ano e já emendar a formação para instrutor, o que vai garantir mais horas de voo, fundamental para ingressar no mercado de trabalho:
— Quero entrar na linha aérea.
A formação de piloto comercial é necessária para quem quer seguir carreira na aviação, explica o coordenador dos cursos do Aeroclube de Caxias do Sul, Thiago Boeira de Souza. O curso de piloto privado habilita para o voo, porém, não permite exercer atividade remunerada. A duração varia conforme o investimento de cada aluno. O custo do piloto privado é de R$ 25 mil a R$ 30 mil; já o comercial fica na casa dos R$ 80 mil.
— 90% dos alunos que passaram pelo Aeroclube estão empregados em companhias aéreas. A formação é muito bem vista no mundo. Há pilotos formados aqui atuando na Europa e na Ásia — conta Souza.
Atualmente, são 43 alunos realizando aulas práticas e 16 com aulas teóricas. O Aeroclube forma de 12 a 15 pilotos por ano.
Voos panorâmicos
- Além de cursos para piloto, o Aeroclube oferece voos panorâmicos para a comunidade. Sobrevoar Caxias por 25 minutos custa R$ 450 (para três pessoas). É preciso agendar com antecedência de três dias pelo telefone 3213-2611.
- Com a pandemia, o número de voos panorâmicos caiu. A média mensal, antes da crise, era de 10 a 15. Agora, fica entre três e quatro por mês.
A pandemia e os voos em Caxias
2020
22 de março: Azul cancela voos.
24 de março: Gol cancela voos.
Setembro: Gol retoma apenas um voo e com menor frequência.
2021
Fevereiro: retorno da Azul.
Março: Gol cancela voos.
Junho: Gol retorna com um voo com média de três operações por semana.
Movimento no aeroporto no primeiro semestre de 2021
Gol
Pousos: 36
Decolagens: 36
Embarques: 3.393
Desembarques: 3.036
Passageiros da Gol transportados de ônibus devido a cancelamento de voos e condições meteorológicas adversas para pousos e decolagens: 75 (embarque) e 125 (desembarque)
Azul
Pousos: 110
Decolagens: 110
Embarques: 9.025
Desembarques: 9.400
Passageiros da Azul transportados de ônibus devido a cancelamento de voos e condições meteorológicas adversas para pousos e decolagens: 542 (embarque) e 606 (desembarque)
Passageiros da aviação geral: 1.202 (embarque e desembarque)
Movimento total de passageiros: 27.204
Média diária: 151
Outras aeronaves pousos: 939
Total de pousos e decolagens: 1.231