A construção de um porto é um grande desafio para qualquer município e Arroio do Sal poderá ter dois, nos próximos anos. Um desenvolvimento que anima a cidade, ao mesmo tempo, em que vários desafios podem ser vislumbrados para um futuro próximo em vários setores, pois conseguir equacionar as duas situações é fundamental. Duas cidades catarinenses, Itapoá e Navegantes enfrentaram esse processo há mais de 10 anos e podem servir como exemplo para Arroio do Sal.
A implementação do porto fez com que Itapoá crescesse quase três vezes de tamanho. Em 2007, ano da construção, eram 11 mil habitantes, três anos depois, saltou para 15 mil e, na última projeção do IBGE, há 21 mil pessoas. Porém, pelos dados do município, atualmente são mais 30 mil. Além do aumento populacional, Itapoá registra criação de vagas de emprego. Apenas no último ano, segundo a administração portuária e o poder público, o Porto Itapoá gerou mil empregos diretos e quase cinco mil indiretos. Mais de 50% da mão de obra ativa está ligada ao empreendimento.
O porto foi um divisor no desen- volvimento econômico da cidade.
SÉRGIO GRASSI
secretário de Desenvolvimento Econômico e Social de Itapoá
Em termos econômicos, a arrecadação municipal saltou de R$ 35 milhões para mais de R$130 milhões. O ISS (Imposto Sobre Serviços) de R$ 210 mil para mais de R$ 20 milhões. Conforme dados do IBGE de 2018, o salário médio mensal é de três salários mínimos. Já a renda per capita do munícipio, no mesmo ano foi R$ 39.735,17. Em termos comparativos, Arroio do Sal registrou renda per capita de R$ 22.719,58, no mesmo período.
A instalação do Porto Itapoá serviu com uma espécie de ímã para que outros setores avançassem, explica o secretário de Desenvolvimento Econômico e Social, Sérgio Grassi.
— O porto foi um divisor no desenvolvimento econômico da cidade, pois quando se consolidou como uma empresa eficiente, respeitada e classe A, trouxe outros investimentos. A área logística da cidade acelerou muito, a construção civil cresceu, assim como outros segmentos que são suporte no dia a dia. Foi algo natural e isso acontece até hoje — revela.
Crescimento exponencial em Navegantes
Outro bom exemplo para inspirar Arroio do Sal é Navegantes. Nos últimos 10 anos, já com a instalação do Portonave, a cidade obteve o maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre as 30 cidades mais importantes da região catarinense. O PIB da cidade passou de R$ 500 milhões em 2007 para quase R$ 4,1 bilhões em 2017, segundo dados do instituto. A receita do município no período quintuplicou.
A população, no censo de 2010, era de 60.556 moradores e, atualmente, a estimativa é de 83.626 habitantes. Um dos maiores empregadores da cidade, como não poderia ser diferente, é o porto e as empresas que realizam as atividades complementares. Apenas a companhia emprega diretamente mais de 1,1 mil colaboradores.
O porto oferece um dos melhores salários do município.
LIBARDONI LAURO CLAUDINO FRONZA
prefeito de Navegantes
Nos últimos três anos, os dados de geração de emprego são positivos. Segundo a prefeitura, em 2019, foram 1.369 empregos gerados, em 2020, 927 vagas e, agora em 2021, mais de 500 novos empregos formais, apenas nos primeiros meses do ano. O rendimento mensal das famílias, segundo o IBGE é de 2,5 salários mínimos. A renda per capita, com dados de 2018, era de R$ 48.187,98.
Para o prefeito de Navegantes, Libardoni Lauro Claudino Fronza, o aumento da renda passa pela instalação do porto, que trouxe consigo outros investimentos.
— O porto oferece um dos melhores salários do município, o que dá a oportunidade de a cidade crescer e se desenvolver. Depois da instalação, tivemos a atratividade de várias empresas em nível nacional, líderes de mercado, que se instalaram aqui e dependem da atividade portuária para sua execução diária. No futuro, além do desenvolvimento da logística, a Portonave poderá transformar Navegantes num polo de atratividade de novas empresas, em função da facilidade com a questão portuária — projeta o prefeito.
Desenvolvimento também traz desafios
Os ganhos financeiros são proporcionais aos desafios. O secretário de Desenvolvimento Econômico e Social de Itapoá, Sérgio Grassi frisa que será imprescindível para Arroio do Sal ter foco não apenas na instalação do porto e nos setores decorrentes da logística, mas respeitar a vocação turística, que, assim como em Itapoá, sempre foi o carro chefe.
— O que nos ajudou muito é que dividimos bem entre a zona portuária, logística e industrial, sem que perdêssemos a vocação turística da cidade, que é grande parte da nossa sobrevivência. Nós tivemos esse cuidado e deixo esse alerta.
Por sua vez, Libardoni Fronza, prefeito de Navegantes, reforça que a Arroio do Sal precisa se preparar para receber um projeto desta magnitude.
— Para integrar-se com o porto em relação ao desenvolvimento econômico, tem que trazer o porto para perto, conhecer suas diretrizes, fazer com que a cidade se mobilize, de modo integrado, com o movimento do porto também — aconselha.
Portos catarinenses têm controle da iniciativa privada
Arroio do Sal que projeta dois portos em um futuro breve, pode espelhar-se nos desafios de implantação dos portos em Itapoá e Navegantes. Alberto Machado, coordenador da Comunicação Corporativa do Porto Itapoá, explica como é começar um porto do zero.
— Como um projeto greenfield, ou seja, iniciado do zero, o Porto Itapoá enfrentou grandes desafios, principalmente nas questões de infraestrutura que o município era carente. A partir da sua construção, viabilizou junto ao Estado, o acesso rodoviário dedicado, com a pavimentação da SC 416, ligando o município à BR 101. Também investiu R$ 33 milhões na pavimentação de acessos e vias urbanas e R$ 27 milhões na linha de transmissão de alta capacidade operada pela Celesc que, a partir de 2011, substituiu o abastecimento secundário ao município, realizado pela Copel. Outros R$ 162 milhões foram destinados para projetos sociais, ambientais e obras de infraestrutura em Itapoá — revela.
PORTO ITAPOÁ
:: Iniciou a construção em 2007 e foi entregue em dezembro de 2010, com seu primeiro navio atracando no ano seguinte.
:: Fica localizado entre Joinville e Curitiba, é um dos cinco maiores portos do Brasil.
:: O complexo tem administração do Portinvest Participações S.A, dono de 70% e a Aliança Administração de Imóveis e Participações Ltda, com 30%, ambos da iniciativa privada.
:: Em três anos, recebeu o navio mil e alcançou a marca de um milhão de TEUs (medida para calcular a capacidade de carga de um container marítimo normal).
:: Nos três últimos meses de 2020, o terminal recebeu 35 mil contêineres de importação, praticamente o dobro das movimentações do segundo e terceiro trimestre, representando crescimento de 10% em relação ao último trimestre de 2019.
PORTONAVE
:: A operação iniciou em outubro de 2007, em Navegantes, sendo o primeiro terminal privado de contêineres do país.
:: As instalações do complexo englobam o Porto Público de Itajaí e mais 6 terminais de uso privado, entre eles o de Navegantes.
:: O complexo portuário ocupa as margens da foz do rio Itajaí-açu, que separa as duas cidades catarinenses, e possui acesso rodoviário próximo as BR 101 e BR 470.
:: O Terminal Portuário de Navegantes representou 12% do total de contêineres que o Brasil movimentou no primeiro trimestre desse ano, ficando em segundo lugar no ranking do país.
:: Atualmente, o local possui área total de 400 mil m², sendo cerca de 360 mil m² de área alfandegada, dividida em três berços de atracação, em um cais linear de 900m, com capacidade estática de armazenagem de 30 mil TEUs.