A redução do número de casos e internações é a esperança para que a covid-19 não prejudique a colheita da maçã em Vacaria. A atividade tradicionalmente atrai milhares de trabalhadores temporários ao município no fim de janeiro. Por isso, a atenção é total para que o vírus não pegue carona com a força de trabalho e contamine ainda mais pessoas. Uma bandeira preta, por exemplo, poderia, no mínimo, reduzir o ritmo da colheita.
O endurecimento das regras de distanciamento controlado, inclusive, é uma preocupação real do secretário de Saúde de Vacaria, Márcio Tramontina. Tanto que um toque de recolher foi decretado no início de dezembro. Quem estiver nas ruas entre 22h e 6h é multado. As exceções são profissionais que trabalham nas ruas ou quem está em deslocamento entre a casa e o trabalho.
— A bandeira preta preocupa muito. Com certeza compromete a colheita porque ela não é só dentro do pomar. Tem todo um trabalho extracampo. Essa foi a questão para diminuir os números agora com o toque de recolher. Quando se intensifica o trabalho e se joga para a população, dá resultado — avalia Tramontina.
Por enquanto, as regras previstas para os trabalhadores da colheita serão as mesmas adotadas no início de 2020, quando a pandemia se iniciou. Entre elas, estão o distanciamento maior dentro dos alojamentos, almoços divididos em três grupos e desinfecção frequente dos ônibus utilizados no transporte dos funcionários. Equipamentos básicos, como máscaras e álcool-gel, além de medição de temperatura, também estão previstos.
Essas medidas estão em um protocolo entregue pelo setor à Secretaria da Saúde do Estado e também do município. O assunto será debatido em uma reunião entre a prefeitura e as empresas na primeira semana de janeiro, para avaliar se algum ajuste é necessário.
— É fato que vão chegar várias pessoas de fora. Eles estão tentando contratar ao máximo pessoas daqui, mas não tem como não contratar de fora — avalia o secretário.
Após o toque de recolher, a quantidade de novos casos e as internações em leitos de enfermaria reduziram no município. As 300 confirmações diárias caíram pela metade, segundo Tramontina, enquanto a ocupação de leitos clínicos passou de 35 na última semana para 10 nesta quinta-feira (24). As cinco unidades de terapia intensiva (UTIs) da cidade, contudo, seguem lotadas há mais de um mês. A prefeitura solicitou mais três leitos ao Ministério da Saúde e aguarda resposta.
Associação espera até 12 mil pessoas
A Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi) estima que os Campos de Cima da Serra reúnam entre 10 mil e 12 mil pessoas para o período de colheita. O número é semelhante ao de anos anteriores para dar conta das cerca de 500 mil toneladas previstas para a safra.
Para manter todos na ativa, o presidente da entidade, José Sozo, defende que as regras sanitárias sejam rigorosamente seguidas e que qualquer pessoa que tenha sintomas procure atendimento médico. A preocupação, além da saúde, é porque entraves na colheita podem resultar em prejuízos para todo o setor, inclusive os trabalhadores.
— Estamos defendendo a saúde e a renda. Dependemos da união entre poder público, produtores e mão de obra. Isso é um jogo de guerra e decisões rápidas. Deu os primeiros sintomas, aja rapidamente. Na última colheita ficamos muito preocupados, mas não tivemos nenhum problema.
Conforme Sozo, assim como ocorreu com o raleio, a intenção é contratar o maior número possível de trabalhadores locais, que não precisarão de alojamento. Contudo, não se fechará as portas para pessoas de fora a procura de emprego. Os Campos de Cima da Serra correspondem a 85% do total de maçãs produzidas no Estado. O período da colheita segue até maio.