Números revelam cenários. Pelo menos é assim no campo econômico. Dentro dessa narrativa, há duas possibilidades. A primeira delas, é otimista. De acordo com esta visão, o relatório Desempenho da Economia de Caxias do Sul, depurado pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) em parceria com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), revela um crescimento de 14,7%, em maio, em relação a abril de 2020. A indústria puxou o avanço com 28,5%, seguida do comércio, com 20,8%, enquanto o setor de serviços sofreu queda de 13,7%.
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No entanto, se ajustarmos a lente da realidade, será preciso coragem para observar um outro dado. Na comparação entre os meses de maio deste ano, com o ano passado, a economia de Caxias decresceu e está negativa em 27%. De acordo com a visão realista, que leva em conta os efeitos da pandemia na economia, todos os setores apresentam desempenho negativo, serviços com pior desempenho, um declínio de 38%. O comércio caiu 30,4% e a indústria, 19,9%.
— Na comparação com o mês de abril, tivemos crescimento, porque em maio houve uma flexibilização e uma maior abertura das empresas, de comércio e indústria, com exceção do setor de serviços. No entanto, quando comparamos os índices deste ano com maio de 2019, percebemos o momento delicado que estamos passando, e verificamos que todos os segmentos estão em queda. Tanto é que, no acumulado dos 12 meses, nosso saldo é de menos 3,1% — explica a economista Maria Carolina Rosa Gullo, diretora de Economia, Finanças e Estatística da CIC.
Os dados foram relatados na tarde de ontem, em reunião transmitida por videoconferência, na sala da presidência da CIC. São notórias a inquietude e tensão no ar, por conta da revelação do desempenho da economia. Para além da estatística, a preocupação, evidenciada nas falas dos presentes, estava alinhada à urgência da reabertura das atividades, apesar da bandeira vermelha desta semana, por exemplo, que restringe ainda mais setores como o comércio. O presidente da CIC, Ivanir Gasparin, chegou a fazer uma provocação, ao final da apresentação, com relação ao que é de fato prioridade.
— Prioridade para quem vende roupa é a roupa. Queremos mexer na bandeira, no sentido de colocar uma outra oportunidade e sugerir mudanças. Estamos em um momento de sobrevivência e para muitas empresas não tem mais o que fazer. Ninguém aqui quer que morra gente, mas como ficar em casa sem recursos? — questiona Gasparin.
O presidente da CIC provoca a reflexão com outra crítica, desta vez com enfoque nos impostos.
— Recebi hoje (23 de julho) os impostos federais para pagar. Me obrigam a ficar em casa, mas me cobram os impostos para pagar os seus. Minha arrecadação não caiu a zero, mas está negativa. É como se eu tivesse 10 bois, e o Estado me tira quatro e me devolve a cabeça. Essa revolta do comércio é um desabafo, e precisamos ouvir as pessoas que estão no desespero — argumenta.
Na mesma linha de argumentação do presidente da CIC, Vitor De Carvalho, vice-presidente de Relacionamento da CDL, comentou:
— Em um encontro que tivemos, um lojista disse que não queria nada do governo, ele só pedia: "me deixem trabalhar". Esse é um tom de desabafo, e a gente fica de mãos atadas — resigna-se.
Olhos no futuro
Astor Milton Schmitt, diretor de Economia. Finanças e Estatística da CIC, além de ver com bons olhos os investimentos do governo federal, em áreas como infraestrutura, energia e logística, chamou atenção para a aquisição da Nakata pela Fras-le.
— A Fras-le materializou hoje (23 de julho) a compra da Nakata, que tem fortes operações na China. Isso demonstra que o empresário caxiense olha para o futuro, apesar do momento ser desafiador, com alguma confiança de que, mais cedo ou mais tarde, as coisas voltem para a normalidade. Esta iniciativa revela uma visão positiva a longo prazo, porque ninguém é louco de colocar dinheiro sem ter confiança.