“Para se manter um CNPJ aberto se tem gastos”, argumenta o proprietário da Cachaçaria Sarau, Roque Pelizzer, para reiterar expectativa pelo retorno das atividades. O estabelecimento do empresário fica na Estação Férrea, principal área da vida noturna caxiense.
– A gente está com fé que neste mês ou mês que vem eles liberem alguma coisa. A coisa está difícil, só sai (dinheiro), não entra. Coisas vão se somando, tem mês que se gasta R$ 5 mil, R$ 7 mil. Não temos linha de crédito nenhuma, se tem, os juros são horrorosos – lamenta.
Os quatro funcionários que trabalhavam no local precisaram ser demitidos. Compartilha da angústia de Roque a esposa dele, Justina, que, por ser sócia do estabelecimento, acaba sofrendo com a falta de renda da família. Para tentar amenizar as dificuldades, eles relatam que estão recebendo auxílio financeiro de familiares.
Porém, mesmo com a eventual retomada, outra apreensão é com relação ao retorno do público.
– A gente tem que torcer que depois que seja liberado os clientes ainda voltem, essa é uma outra questão – comenta Justina.
Roque é mais otimista:
– Eu tenho fé que vai dar bastante gente, pois o pessoal está com vontade de sair.
Recuperar investimento
Há cerca de dois anos, os empresários investiram na expansão da Cachaçaria Sarau, criaram uma nova cozinha com espaço ampliado para o público e apresentações no segundo piso. Recuperar o investimento de aproximadamente R$ 300 mil da época é uma das preocupações de Roque:
– A gente estava conseguindo só pagar as contas, porque sofremos muitos prejuízos em razão daquelas confusões que aconteciam na Estação Férrea, e, quando parecia que ia engrenar, surge isso. Foi um valor alto que apostamos como melhoria para o nosso ambiente, mas que demora um pouco para recuperar. Deve ficar mais difícil agora, já que este ano está praticamente perdido e o próximo vamos começar já com muitas dívidas.
De lição aprendida, uma se sobressai:
– A gente percebe como é importante ter uma reserva (financeira). Se depender do governo ou de uma instituição para poder tocar para frente, tu tá morto. Se não tem pezinho de meia guardado, como faz?
Medidas amenizadoras
:: Reorganizar serviço para gerar faturamento no período. Exemplo: vender bebidas ou refeições em formato delivery. Vouchers também são opção, mas que não garantem rendimento mais significativo.
:: Negociar o que puder com fornecedores, aluguel e taxas de serviço. Há casos de locatários que abonam cobranças no período.
:: Utilizar mecanismos disponíveis com relação à gestão de recursos humanos. Ou seja, suspensão de contrato de trabalhou ou concessão de férias. Uma estratégia é utilizar a rotatividade entre os funcionários para que as medidas tenham efeito em maior prazo.
Atente-se
:: Linhas de financiamento estão difíceis e atente-se para os juros. Em alguns casos, o percentual aplicado anualmente até triplicou.
:: Para o futuro, lembre-se: por mais que seu negócio tenha uma capacidade de fluxo de caixa menor, busque segurar uma reserva financeira para ter menos apertos para enfrentar imprevistos.
Se virando como dá
Com a obtenção de linhas de crédito com juros baixos obstruída na prática, resta a estabelecimentos desse segmento investir em tentativas de renegociação de aluguel, taxas e custos em geral. Cortes de funcionários também acabaram sendo necessários, embora parte das empresas tenha conseguido adequar a condição do quadro às alternativas previstas pela Medida Provisória 936, que autoriza a flexibilização do contrato de trabalho.
Porém, em termos de geração de renda, não há muito que o segmento possa fazer. Ainda assim, estabelecimentos com registro voltado à alimentação – e com estrutura para isso – podem amenizar as perdas com atividades alternativas.
– Quem não tem restaurante junto (à atividade do entretenimento), não consegue sobreviver no segmento das casas noturnas. Bar que tem restaurante até consegue manter aberto, e mesmo assim já está bem difícil – avalia o presidente do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh) Uva e Vinho, Vicente Perini.
A estratégia foi a encontrada pelos sócios da Level e do Doca Beer Garden, Lidia Ribeiro, João Toss e Elton Da Rolt, para tentar diminuir o impacto da perda de faturamento. Os canais de comunicação da empresa passaram a ofertar venda de pizzas por delivery.
– Não vou dizer que estamos vendendo rios de pizza, não, nossa margem de venda é baixa, até porque é um mercado bem saturado na cidade e entramos agora, mas temos um bom serviço e produto de qualidade. Está sendo um período de aprendizado, de aperfeiçoar técnicas e serviço para poder lá na frente mostrar excelência aos nossos clientes – avalia Lidia.
Ainda assim, alguns negócios não conseguem manter o mínimo de estabilidade financeira, mesmo com a possibilidade de explorar serviços alternativos. É o caso do proprietário do bar Sorriso Lindo, Roberto da Silva dos Santos.
– Reabri após 60 dias. Tomei mais de R$ 100 mil de prejuízo nesses dois meses. Tive de demitir meus oito funcionários e minha família está me ajudando a atender – comenta.
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