Indicar o que se perdeu com a paralisação dos negócios em geral em Caxias e como a economia deve se comportar com a lenta retomada das atividades são tarefas complexas. A indústria vai operar com 25% da mão de obra a partir de segunda-feira (13) e o comércio tende a seguir a mesma linha, se houver liberação de atividades na próxima semana.
O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs) está aplicando uma pesquisa para entender como está o movimento de retorno nas empresas. Conforme o sindicato, algumas fábricas reabrem na segunda-feira, outras somente na semana de 20 de abril devido a férias coletivas. Será um reinício a conta-gotas.
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) espera e quer o retorno das atividades para a próxima segunda-feira, embora o decreto do governador Eduardo Leite determine a flexibilização somente a partir do dia 15. A expectativa é alta pela próxima decisão.
— Temos 25 mil estabelecimentos, 90% está fechado. Sabemos que tem de preservar vidas, mas precisamos salvar empresas. A ideia é retomar com muito critério, prudência, com 25% das equipes, até porque o movimento não vai voltar tão forte, será mais vagaroso — avalia o presidente da entidade, Renato Corso.
Prejuízo passaria dos R$ 600 milhões
Não há estudo sobre o prejuízo deixado pelo fechamento de empresas no primeiro mês da covid-19 em Caxias, mas uma estimativa aponta uma perda de mais de R$ 600 milhões, considerando a desaceleração da atividade econômica verificada na segunda quinzena de março, acirrada pelas férias coletivas nas grandes empresas e suspensão dos trabalhos em diversos setores.
Em tese, a indústria teria deixado de faturar algo em torno de R$ 500 milhões. O comércio, por sua vez, perdeu cerca de R$ 180 milhões. A conta deveria incluir as perdas do setor de serviços e dos autônomos, mas não há levantamentos para esses segmentos até o momento.
O assessor de economia e estatística da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Caxias, Mosár Leandro Ness, frisa que a estimativa de mais de R$ 600 milhões de prejuízo pode ser cogitada a partir da média mensal de faturamento das empresas em 2019 e o percentual de impostos arrecadados em diferentes setores.
Como a atividade econômica reduziu em torno de 90% nos últimos 20 dias, é possível estabelecer um parâmetro com que o deixou de ser arrecadado. Não é garantia que esse número vá se confirmar lá adiante, pois são necessários cálculos que só poderão ser realizados ao longo de abril e maio. Mosár estima que 130 mil trabalhadores formais paralisaram as atividades nas últimos 20 dias, o que dá uma noção dos efeitos do distanciamento social.
Retomada de consumo deve ser marcada pela lentidão
Maria Carolina Rosa Gullo, diretora de Economia e Finanças e Estatística da CIC, diz que as primeiras pistas do que vem pela frente serão conhecidas na próxima semana. A economista adianta que a entidade está concluindo o levantamento do desempenho econômico de fevereiro e, a partir desses dados, seria possível ter uma projeção de março.
— Havia pedidos nas indústrias antes. Esses pedidos foram mantidos? Foram cancelados? Como a covid atingiu o mundo inteiro, acredito que só no final do ano teremos a retomada, mas dentro de uma nova normalidade — opina Maria Carolina.
Segundo ela, mesmo em um cenário em que todos os setores operem, o consumidor, por exemplo, teria um comportamento reprimido. Ele até pode fazer gastos num primeiro momento para ter em mãos o que não estava sob seu alcance durante o isolamento. Passada esta fase, a tendência é de contenção.
— Quanto mais a pandemia deixar de ser um número e ter um nome, que pode ser o parente, o amigo, aí as pessoas vão se dar conta que existe a doença e vão se cuidar. As pessoas vão se resguardar, farão tudo mais devagar, numa outra normalidade.
Maria Carolina cita os gargalos, como as escolas fechadas até 30 de abril, o que impede inclusive que pais assumam suas funções por não terem onde deixar as crianças. Ao mesmo tempo, as escolas continuarão fechadas até essa data, obrigando os pais a ficarem em casa para cuidar dos filhos.
— A renda das pessoas vai estar comprometida, as empresas enfrentam dificuldades para pagar os salários. Acredito que só em 2021 possa ter uma retomada — projeta a especialista.
Mosár Ness tem uma visão mais amena e cita a injeção de recursos por parte do governo federal.
— Ok, paramos tudo no período, mas não houve um terremoto que acabou com a estrutura produtiva. Se ligar de novo, vai funcionar. De forma mais lenta, é claro. Maio será letárgico, junho devemos ter mais setores na ativa. O último trimestre será o mais próximo da normalidade.
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