A expectativa de fazer negócios pelo telefone ou pela internet no período de combate ao coronavírus no comércio de Caxias foi frustrada. Exceto por alguns segmentos, como farmácias e supermercados, considerados serviços essenciais, os demais amargam o estrago ocasionado pela covid-19.
A possibilidade de trabalhar de portas fechadas não está funcionando. Levantamento feito pelo Sindilojas mostra a dura realidade para o comércio local. Mais de 80% dos lojistas ouvidos pela entidade registram 100% de queda no faturamento.
E a minoria dos lojistas de vestuário e calçados que está conseguindo vender por e-commerce ou telentrega também está registrando um movimento pífio, girando entre 1% a 5% de faturamento em relação ao período anterior, quando funcionava de portas abertas.
— O cliente está assustado pelo atual cenário e não compra itens de segunda necessidade — — avalia a presidente do Sindilojas, Idalice Manchini.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Renato Corso, compartilha da mesma posição:
— Precisamos de um plano para salvar o comércio caxiense — sentencia.
Além disso, empresas que não estavam bem estruturadas no mundo digital tendem a sofrer um grande impacto se resolverem montar uma plataforma agora.
— Agir por impulso pode ser fatal, pois gastar o pouco que tem em algo que não agregará o valor, pode ser fatal num futuro próximo — alerta o especialista em gestão de negócios Marcelo Reis.
SUSPENSÃO DE PEDIDOS
Mesmo os lojistas que realizaram anúncios nas mídias sociais padecem de faturamento neste patamar. Comerciantes relatam que já suspenderam pedidos de novas mercadorias, aponta a pesquisa.
A presidente do Sindilojas conta que, antes da determinação de fechamento, as vendas via e-commerce vinham num crescimento de 30% ao ano. Sócio proprietária da Pole Modas, referência em vendas online no vestuário de Caxias, Idalice releva que os negócios ainda estão acontecendo, mas de forma muito tímida.
— Poderia estar vendendo o dobro, o triplo.
A incerteza econômica e o clima ainda ameno, informa, fizeram os consumidores desaparecer.
Sem vendas, mas em contato com os clientes
Outros segmentos que poderiam parecer em melhor situação, como o de produtos para construção e reforma também sofrem com o mesmo percentual baixíssimo de vendas, sem exceder 5% de faturamento total.
É o caso da sócio proprietária da Rock Tintas, Cíntia Montemezzo, que viu os negócios despencarem de uma hora para outra. Os sete funcionários da loja estão em férias e os três sócios tentam manter o negócio com pequenas vendas de tintas, via telefone, para consumo no interior das casas. As entregas estão sendo feitas por motoboy.
— São valores pequenos, pontuais que representam de 3% a 4% do faturamento da empresa — lamenta Cíntia.
Segundo ela, os pais estão comprando pequenos baldes de tintas para pintar um quarto, uma parede e tentar entreter os filhos, por exemplo. O que sustenta o faturamento da empresa são os CNPJs da construção civil, que também está parada, são as pinturas em grande escala como prédios e residências. O que não está ocorrendo neste momento.
_ Estamos tentando manter contato com os clientes, mas não para concretizar vendas.
Entidades pressionam para abertura do comércio
Entidades que representam o comércio caxiense estão pressionando o prefeito Flávio Cassia para a reabertura das lojas em Caxias do Sul ainda nesta semana, a exemplo do que já está acontecendo em cidades da região. Na sexta-feira um ato na Praça Dante Alighieri manifestou esta vontade por parte dos trabalhadores e empresários. A presidente do Sindilojas, Idalice Mancchini, defende que a economia e a saúde devem andar juntas.
— O estrago no setor já está feito, o ano já está perdido em termos de faturamento. Agora, precisamos começar a retomada de recuperação. Não é só abrir as portas e os clientes vão entrar correndo. Temos que fazer todo um trabalho para trazê-lo de volta — diz Idalice.
Para o presidente da CDL é preciso, sim, salvar vidas. Mas também é preciso estar atento à economia.
— Estamos todos muito angustiados e vamos continuar pressionando. A retomada tem que acontecer —defende Corso.
Eles relatam que o lojista está desesperado e não tem como pagar suas contas. E vai ficar pior, segundo eles, se as empresas começarem a demitir.