Não é apenas percepção. Está crescendo o número de mulheres em postos de liderança nas empresas. Na última década, a presença do sexo feminino em cargos estratégicos no Rio Grande do Sul aumentou 59,4%. Em 2019, as mulheres somaram 42,6% das admissões em em funções de gerência e diretoria no Estado. E Caxias do Sul segue a tendência. Embora em volume absoluto sejam mais homens nessas posições — 2.731 contra 2.289 mulheres —, o crescimento das mulheres líderes é maior.
Conforme análise feita pela Caravela Soluções (plataforma online de inteligência de mercado, especializada na economia dos municípios de Santa Catarina e Rio Grande do Sul), a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o número de mulheres em cargos estratégicos cresceu 50% nos últimos 10 anos na cidade. Para os homens, o crescimento foi de 7,1% no período.
No ano passado, o aumento de admissões de mulheres em cargos de liderança em Caxias foi de 49,1%, pouco mais de seis pontos percentuais que o índice de 10 anos atrás, de 42,9%.
Apesar dos avanços, um ponto ainda preocupa: a diferença salarial. Enquanto 14,4% dos homens que atuam na gerência e diretoria ganham 15 salários mínimos ou mais, apenas 4,2% das mulheres recebem essa mesma quantia. A remuneração média de cargos de liderança para homens com 10 anos ou mais de experiência é cerca de 62% superior aos ganhos das mulheres com o mesmo tempo trabalho na empresa.
Para a presidente do Conselho da Empresária da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Agatha Tonietto, a maior participação de mulheres não está se dando apenas com a conquista de cargos de direção em empresas, mas também na abertura de seus próprios negócios. As mulheres, que sempre estiveram em atividade, agora estão sendo protagonistas.
— Todo esse movimento vem de um trabalho de dar mais poder às mulheres, delas se sentirem mais úteis. Uma vez, eram elas que produziam o que os homens vendiam. Elas sempre produziram, mas não apareciam. Agora, estão conseguindo quebrar a barreira do preconceito. A gente vê até homens ficando em casa e mulheres trabalhando. Ainda falta muito, mas está acontecendo — analisa Agatha.
Conforme dados da Microempa, dos 2,6 mil microempreendedores individuais (MEIs) e pequenas empresas associadas à entidade, 1.125 (ou 43%) estão registradas em nome de uma mulher.
Em hotel, mulheres são maioria na chefia
Prova de que não se trata de simples impressão a maior presença de mulheres em cargos de liderança é a composição do quadro do Hotel Intercity em Caxias. Há um ano, Vania Misura (na foto acima de camisa listrada com parte da equipe) é a gerente geral da unidade – a primeira mulher a ocupar a função em 18 anos desde a fundação do hotel na cidade. Além dela, são cinco mulheres em função de coordenação e duas em chefia. Do total de funcionários, são 38 mulheres e 27 homens.
— Dentro da hotelaria, a gente tem mais mulheres. Mas não tinha acontecido antes de eu trabalhar com um número tão expressivo de mulheres na liderança — diz Vania, que atua no ramo hoteleiro há mais de 20 anos e já passou pelas unidades do Intercity de Porto Alegre, de onde é natural, e de Cuiabá (MT).
Para Vania, o destaque que a mulher vem tendo, com a conquista de espaços ocupados até então apenas por homens, é fruto de muito preparo e dedicação. A mulher precisou e mostrar que era capaz de conciliar o trabalho com a maternidade e o casamento, por exemplo.
— Acho que tem uma questão de a gente estar melhor preparada. Talvez a exigência em cima da mulher nos anos que se passaram fosse mais acirrada. Existem alguns preconceitos na hora de contratar: tem filho, não tem, vai engravidar, vai sair de licença, vai ficar seis meses fora, tem filho pequeno, quem vai cuidar. Tem talvez essa coisa de ter um olhar mais exigente sobre a mulher, e ela precisou buscar mais conteúdo, mais formação para fazer com que essas outras coisas deixassem de ser as primeiras vistas em uma entrevista — acredita.
Aumento da participação no emprego formal
Para marcar o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, o Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS) lançou nesta semana o Boletim Anual Mulheres e Mercado de Trabalho 2020, elaborado a partir dos dados da RAIS 2018 e do Caged 2019. O estudo mostra o aumento da participação feminina no emprego formal em Caxias. A estimativa é de que as mulheres ocuparam 45,13% dos 157,4 mil postos formais de trabalho (ou cerca de 71 mil) no ano passado.
O setor de serviços concentrou a maior participação feminina, tanto em 2018 quanto em 2019, com 60,60% e 61,01%, respectivamente. O segundo setor com mais mulheres foi o comércio com 50,27% em 2018 e 50,61% em 2019. No setor da construção civil ocorreu a menor participação feminina, com 7,68% em 2018 e com 7,19% em 2019. Na indústria, participação feminina foi de 31,15% em 2018, enquanto a estimativa de 2019 indica uma leve redução para 31,04%.
Coordenadora do Observatório do Trabalho da UCS, a professora Lodonha Maria Portela Coimbra Soares destaca que, embora cresça a presença de mulheres no mercado de trabalho, a diferença salarial ainda persiste. Enquanto a média nacional de defasagem é de 10%, em Caxias é de 16,2%.
— A gente vem observando a redução da desigualdade. Uma vez, passava de 25%. Mas não é prerrogativa de Caxias. Acontece em todo o mundo. Tem um programa da ONU que tem um projeto para redução dessa desigualdade salarial. Ainda estamos ganhando menos que os homens, mas está diminuindo — diz Lodonha.