Na casa de Sadi da Silva dos Santos, 59 anos, em Arroio do Sal, o verão não é sinônimo de descanso e diversão como nas residências de quem desce a Serra no período de calor. O início da temporada é começo de muito trabalho. São fornadas e mais fornadas de pão para garantir o café da manhã e da tarde dos veranistas.
Tornar-se padeiro não era um plano, mas com a morte da sogra, há seis anos, ele cogitou a possibilidade diante de tantos pedidos de clientes que ficaram órfãos dos pães caseiros de dona Irma. Mas havia um problema: ela não tinha deixado a receita por escrito. A salvação foi João Marcos Medeiros dos Santos, filho de Sadi, que de tanto ajudar a avó, ainda criança (começou aos 10 anos) aprendeu como fazer.
— Ela fazia pães para o mercado e também vendia em casa, e eu fui aprendendo. Era eu quem colocava os ingredientes — recorda João Marcos, que hoje está com 23 anos.
Com a receita ainda fresca na memória, o negócio entrou em novo ciclo. Sadi e João Marcos deram sequência ao trabalho que era desenvolvido há 30 anos, cumprindo, na verdade, um desejo de dona Irma.
— Ela falava que se não pudesse mais fazer, era para eu continuar — conta o neto.
João Marcos seguiu fazendo pão até o ano passado, quando se formou em Engenharia Civil e mudou-se para Torres para trabalhar. O pai, então, deu andamento sozinho ao empreendimento.
— Minha sogra formou um filho em contabilidade só fazendo pão. E eu formei o meu engenheiro — orgulha-se Sadi.
A padaria familiar, que ganhou o nome de Vó Irma — uma singela homenagem —, abastece três mercados de Arroio do Sal.
Também vende direto para o cliente: é só bater na porta da casa, na Rua Antônio Luiz de Medeiros, no limite entre as praias de Areias Brancas e Camboim. Para o próximo ano, Sadi planeja comprar uma caminhonete para fazer as entregas e ampliar a o alcance da marca.
— Dá um lucrinho bom. E eu gosto de fazer pão — comemora.
300 pães por dia na temporada
Mesmo atuando em outra área, João Marcos continua ligado à produção dos pães. Sempre que volta para casa para visitar a família, ajuda o pai. Neste final de ano,durante a folga de Natal e Ano Novo, ele estará com a mão na massa para auxiliar na produção, que chega a 300 pães por dia na alta temporada.
— Eu acho que é importante continuar. A vida dela foi isso. Eu não queria que acabasse. É uma marca. Ela tinha muitos clientes que continuam ainda hoje — conta o neto.
Já no inverno, a venda diminui drasticamente, mas, em finais de semana e feriados, sempre tem saída. É comum os moradores de Caxias que passam sábado e domingo na praia levarem um pãozinho da padaria Vó Irma para casa.