Em outubro de 2018, quatro empresas da região se articularam para resolver problemas em comum com a colaboração de startups. Surgia o projeto Hélice, composto por Florense, Marcopolo, Empresas Randon e Soprano. Ao completar seis meses de atividades, seis startups foram contratadas pelo grupo e outras seis devem se integrar até o final do ano. Para chegar às escolhidas, um metódico processo seletivo se desencadeou.
Inicialmente, foram definidos problemas em comum e, consequentemente, o viés dos perfis das startups. Na pré-seleção, 250 foram consultadas. Num segundo estágio, restaram 40 e dessas, 15 startups foram convocadas para apresentar seus projetos.
— Tivemos parceria importante da Oca e da Ace (aceleradora de São Paulo) que foram buscar startups de todo o país. De todas as 250, apenas 15 vieram apresentar seus projetos. Dessas, 12 restaram. Foi realmente um funil — diz Daniel Ely, executivo nas Empresas Randon.
Além das seis contratadas, as outras seis devem validar seus projetos até o final deste ano. Ely destaca os primeiros indícios de sucesso do projeto, o qual afirma ter quebrado paradigmas na cultura das empresas do Hélice.
— Cada uma tem sua estrutura e sua capacidade e tendem a resolver problemas sozinhas, mas decidiram trabalhar juntas. Outro paradigma foi decidir que quem iria solucionar esses problemas seriam startups, fora das quatro paredes da empresa. É uma mudança de mentalidade importante. E o terceiro grande desafio foi fazer essa conexão acontecer — explica.
As startups selecionadas, conforme Ely, atuam em processos de recursos humanos; soluções de logística; industriais; e marketing e vendas. Nem todas iniciaram processos junto às quatro empresas, o que deve ocorrer ao longo deste ano.
Etapas
1. Processo seletivo de primeiras startups para demandas elencadas pelas quatro empresas (concluída).
2. Ampliar (para oito ou 10) empresas que integram o projeto Hélice. Intenção é expandir para outras áreas como tecnologia, metalurgia e moveleira.
3. Definir executivo para linha de frente do projeto, dedicada à governança do movimento.
4. Validar projetos de startups pré-selecionados.
5. Estabelecer periodicidade para lançamento de processos seletivos para contratação de novas startups.
6. Criar mecanismos para desenvolver startups locais e priorizar.
7. Definir espaço físico como sede de referência.
ÁREAS DE STARTUPS SELECIONADAS
> Recursos Humanos: dedicadas a indicar processos internos e potenciais para desenvolvimento e melhoria de produtividade de RHs.
> Logística: proposição de soluções para aprimoramento de logísticas internas e externas nas empresas.
> Fabril: startups que atuam diretamente nos processos internos fabris, chamadas de startups industriais.
> Marketing e vendas: voltadas a questões comerciais nas empresas.
"Não é exagero dizer que o projeto foi um divisor de águas", diz CEO de startup
Se era improvável imaginar que há alguns anos empresas tradicionais de grande porte recorreriam a organizações menores em busca de soluções, para startups, a integração com grandes corporações também parecia algo praticamente inviável. A revolução aconteceu, e o próprio projeto Hélice é um exemplo desse novo modelo de relações institucionais.
Do outro lado, está a startup gaúcha Pyxie. Comandada por três pessoas, a organização, que está no mercado há pouco mais de dois anos, foi uma das selecionadas pelo projeto Hélice. Atualmente, a empresa já desenvolve trabalhos junto com a Florense e a Randon e até o final do ano deve iniciar processo com a Marcopolo.
— Não é exagero dizer que o projeto Hélice foi divisor de águas na história da Pyxie. Foi o que nos permitiu a entrada em empresas muito, muito grandes. Seria um processo muito mais árduo se não fosse pelo projeto — explica o sócio-fundador e CEO da Pyxie, Maurício Raskin Goldstein.
A startup atua no desenvolvimento de softwares que mapeiam reações e aplicam pesquisas em ambientes de trabalho, que são remetidas aos setores de Relações Públicas das companhias parceiras.
— Tiramos várias conclusões úteis e orientamos o trabalho de RH. É como uma pesquisa de clima, mas em vez de perguntarmos o que a pessoa sente com relação à empresa, perguntamos como se sentem umas em relação a outras — descreve Goldstein.
Sem sede fixa, o trio praticamente trabalha à distância. Dois dos sócios moram em Porto Alegre, e outro em Caxias do Sul. A inesperada parceria, conforme Goldstein, assustou inicialmente, dado o tamanho das empresas contratantes. Entretanto, ele afirma que o processo de conexão foi tranquilo:
— Claro que envolvia consciência de estar trazendo algo que está fora da cultura daqueles espaços, mas sentimos muita abertura e boa recepção. Sabendo que podemos trabalhar com empresas desse porte, miramos conseguir empresas desse tamanho. O que nos assustava, agora nos sentimos seguros.
A experiência, apesar de estar iniciando, traz uma considerável consolidação e boas referências à startup.
— Podemos alavancar a startup a partir da experiência de trazê-la para ambientes organizados com cultura empresarial de anos e poder aprender o máximo que puder com isso. E é meio bola de neve, quanto mais clientes grandes, mais se atrai, pois outros sentem mais segurança no serviço quando se tem clientes grandes.
Quem participa
Além de Florense, Marcopolo, Randon e Soprano, o Hélice tem participação e apoio do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), Oca Brasil e ACE Startups, além de entidades, universidades, poder público e agentes de fomento.