O teor de açúcar das variedades de uva colhidas neste início de safra ficou abaixo dos 15 graus na escala babo, conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto, que cita a Niágara e a bordô como variedades mais afetadas no município.
— Os produtores estão muito preocupados. Teve agricultor que colheu com grau 12, ou 13. Em um ano bom, pode até passar de 15, atingindo 16, 17, e até 18, como eu já lembro de ter visto — afirma.
Com isso, o valor que as cantinas pagam aos produtores é reduzido em relação à tabela do preço mínimo, que estabelece o grau 15 como referência. Menegotto explica que o agricultor acaba não sabendo qual o preço que vai obter diante desse quadro. A Bordô, por exemplo, que fica na tabela com um preço cerca de 20% acima da Isabel, cujo o valor de referência é fixado em R$ 1,03, não está conseguindo chegar a R$ 1,20.
Essa situação tem ocorrido por conta da falta de sol e muita chuva, como ocorreu nas primeiras três semanas de janeiro. Fora o teor de açúcar mais baixo, outro problema relatado por Menegotto é o de que, com mais umidade, as uvas ficam mais frágeis e a casca rompe. Como a Niágara é para consumo in natura, ela acaba não resistindo ao transporte, mas rompe dentro das caixas.
Com isso, produtores estão vendendo a Niágara para as cantinas, obtendo um preço bem menor que o da comercialização da fruta in natura. O pior é que não há o que fazer em relação ao problema do teor de açúcar, porque depende essencialmente do tempo, que precisa ser seco e com luz do sol. O agrônomo Ênio Todeschini, da Emater Serra, explica que não há uma técnica viável para contornar a situação.
— Poderia ser utilizada a cobertura plástica, mas isso ficaria muito caro — ilustra.
Com isso, resta esperar que a partir de agora que o tempo fique mais firme. Na última semana, mais dias de sol já fizeram com que a uva colhida tivesse uma qualidade um pouco melhor, segundo Todeschini. É que, com mais sol, a parreira transpira mais, e o açúcar dentro da uva fica mais concentrado.
Ele acrescenta que, no caso das uvas Bordô e Niágara, na maior parte da região da Serra elas começaram a ser colhidas justamente nesta última semana. No geral na região, as variedades mais afetadas, segundo ele, foram Violeta, Concord (ou Francesa, utilizada para fazer suco), e também Pinot Noir, Chardonnay e Riesling.
Entre as variedades que ainda estão por vir, por exemplo, estão a Isabel e os Moscatos, que ficam mais para o fim da safra.