As geadas de setembro de 2015, que ocasionaram perdas de até 70% na produção de uva, ainda estão bem “vivas” na memória dos produtores da Serra Gaúcha. Dados do escritório regional da Emater indicam que mais de 80% dos agricultores que têm como carro-chefe a produção de uva e vinho, retardaram a poda das videiras em pelo menos uma semana. Geralmente o trabalho começa no início de agosto. O receio é de que o fenômeno se repita.
É o caso da família Brustolin, que mora em São Luiz da Terceira Légua, interior de Caxias do Sul. Na safra de 2015/16, eles perderam mais de 60% da produção por causa do clima. Mauro Brustolin, 36 anos, tem oito hectares de parreirais para podar. Até o final da tarde de terça-feira só tinha feito o trabalho em 1,5 hectare.
– Atrasamos o início da poda em uma semana. Isso representa 20 dias de atraso no início da colheita – explica Brustolin.
A torcida é para que as geadas não acontecem a partir de 15 de setembro.
– Esse é o nosso maior medo – diz o pai de Mauro, Olmar Brustolin, 71 anos.
“Cresci debaixo das videiras”
Tanto o pai quanto o filho cresceram debaixo dos parreirais no interior do município. Por isso, eles dominam a técnica da poda como ninguém. Não é uma tarefa fácil. Também não é para qualquer um.
– É preciso saber onde fazer o corte certo. Ensinei meu filho a fazer este trabalho com muita paciência – lembra seu Olmar.
O cultivo da uva é o carro-chefe da produção da família Brustolin que cultiva quatro variedades da fruta: niágara branca, bordô, moscato e isabel (esta será a última a ser podada). Se o clima colaborar, a expectativa é colher 30 toneladas de uva por hectare.
– Dependemos de uma boa colheita para enfrentar a próxima safra – declara Mauro.
Geadas não são descartadas
A Somar Meteorologia não descarta a possibilidade de geadas no início da segunda semana de setembro. É o que os produtores de uva temem. No entanto, não deverá ser com a mesma intensidade da que aconteceu no início da segunda quinzena de julho, quando as temperaturas despencaram para números negativos.
O sistema de meteorologia indica neutralidade climática. Ou seja, não há nenhum fenômeno como o El Nino previsto. Com isso haverá, sim, oscilação nas temperaturas já na segunda quinzena de agosto.
Falta frio para uma boa safra
O inverno deste ano não favoreceu os parreirais da Serra Gaúcha. A falta de horas de frio já atingiu a qualidade da fruta. Segundo a família Brustolin, durante a maturação, a uva não vai amadurecer de uma forma equilibrada e isso influencia no preço na hora de vender a fruta.
O engenheiro agrônomo da Emater Enio Ângelo Todeschini explica que se o calor de agosto continuar, a floração antecipada vai acontecer.
– A poda é uma técnica indispensável, mas causa estresse na videira. Por isso é feita no período de dormência, assim a planta não sofre tanto – destaca Todeschini.
Ele diz que agora o risco maior não é a ausência de dias frios, mas sim no acúmulo de horas de calor. O engenheiro agrônomo revela que alguns produtores já estão adotando uma técnica antecipada de poda, que acontece em abril e maio. Ou seja, o corte é feito antes da planta dormir.
– A videira entra em dormência já podada e leva mais tempo para acordar – explica.
Com isso, pode escapar de alguma geada na primeira quinzena de setembro, por exemplo.