Convivendo com vendas nacionais desaceleradas há praticamente dois anos, muitas empresas da Serra passaram a apostar com mais intensidade no mercado externo. O dólar alto – que chegou a bater próximo da casa dos R$ 4 – potencializou ainda mais a estratégia, aumentando a competitividade dos produtos da região. Nas últimas semanas, porém, a moeda americana vem "barateando" para patamares abaixo de R$ 3,20 e coloca incertezas nesse processo de recuperação.
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Nos últimos 12 meses, as exportações no setor metalmecânico caxiense registraram alta de quase 6%, segundo levantamento do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias (Simecs). O resultado foi o único positivo no balanço, já que no mesmo período as vendas fora do Estado caíram 30,86% e dentro do Estado a baixa foi de 34,64%.
– Hoje as exportações estão sendo a salvação da indústria, então a queda no dólar preocupa bastante. O patamar limite para sermos competitivos gira em torno de R$ 3,20, então ainda estamos dentro do aceitável, mas essa instabilidade toda é prejudicial – analisa Reomar Slaviero, presidente do Simecs.
Conquistar territórios internacionais, destacam os especialistas, é um processo que leva tempo. Tanto que, no primeiro semestre deste ano, as vendas externas gerais de Caxias caíram cerca de 10% em relação ao ano passado. Maio e junho, entretanto, mostram que os investimentos estão começando a dar resultado: em relação ao mesmo mês do ano anterior, eles apresentam, respectivamente, crescimento de 14,1% e 2,7%.
– O ideal para as exportações seria manter um câmbio entre R$ 3,20 e R$ 3,50. O problema é que o Brasil não está preparado para as exportações, não conta com uma política exportadora séria. Com o dólar caindo de R$ 3,80 para R$ 3,20, o rendimento teve queda de 16%, o que prejudica muito o planejamento – analisa Mauro Vencato, diretor de Negócios Internacionais da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC).
Por "política exportadora séria", Vencato refere-se especialmente a menos burocracia e tributação vantajosa para essa modalidade de comercialização. Enquanto as incertezas de câmbio e de tributos nortearem as exportações, dificilmente o mercado externo será uma constante nas vendas nacionais:
– Se não houver mais segurança, há um risco grande de boa parte das empresas abandonar de novo o mercado externo quando o interno voltar a crescer. Assim, voltaremos a ser pouco competitivos internacionalmente – prevê o diretor.
'O momento é de muita cautela'
O setor moveleiro é um dos segmentos que viu nas exportações uma boa oportunidade de driblar a retração nas comercializações nacionais. No primeiro semestre deste ano, as vendas do ramo gaúcho para outros países cresceram quase 10%.
– As empresas moveleiras em geral optaram por fazer uso dessa estratégia, já que o mercado estava bem favorecido. Agora o momento é de muita cautela. Os contratos já firmados estão sendo respeitados, mas as empresas certamente estão mais contidas – analisa Rogério Francio, presidente da Fimma Brasil 2017 e vice-presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs).
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Argentina figuram entre os principais destinos dos móveis gaúchos. A região de Bento Gonçalves, na Serra, é o principal polo produtivo e também exportador do Estado.
– Com o dólar até R$ 3,20, as empresas conseguem administrar certa negociação. Menos que isso, a rentabilidade fica comprometida – analisa Francio.
Mercado externo
Queda no dólar preocupa exportadores da Serra
Diante de vendas internas retraídas, indústrias torcem para câmbio alto
Ana Demoliner
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