A cena é comum. Em todas as gôndolas de supermercados ou fruteiras o consumidor para, olha para as maçãs e se assusta com o preço. Na maioria das vezes acaba não colocando no carrinho ou leva apenas a metade do que pretendia. É o caso da dona de casa Nilce Tomazoni. Todos os dias ela passa pela seção de frutas e acaba desistindo de comprar maçã.
- Não compro. Está muita cara. O jeito é tentar substituir por outra mais em conta - afirma Nilce.
Ela pergunta: por que o preço da fruta está tão caro este ano? O valor final varia de R$ 6 a R$ 8. A fruta sai do pomar ao preço máximo de R$ 1,30. No decorrer do caminho até chegar à mesa do consumidor, sofre um reajuste de 515%.
- Estamos numa entressafra. As frutas disponíveis ainda são do final da safra passada. A deste ano está começando agora. Temos que pagar o que os atacadistas nos pedem - diz o proprietário da fruteira Tropical, no bairro Santa Catarina, Rogério Meneguzzi.
O valor disparou na segunda quinzena de dezembro, pouco antes das festas natalinas. O comerciante conta que no Ceasa Serra paga, em média, R$ 95 a caixa de 18 quilos da variedade Fughi. R$ 5,28 o quilo. Revende a R$ 7,25, pois é preciso arcar com as despesas e a quebra da fruta. Ele revela que a venda da maçã na fruteira caiu mais de 50%.
- Até novembro eram vendidas duas caixas por dia. Agora estou vendendo quatro caixas por semana - ressalta.
Vacaria, maior produtor de maçãs do país, abre oficialmente a colheita neste sábado, com a presença do governador do Estado, José Ivo Sartori. O granizo e a geada fora de época reduziram entre 15% e 20% a safra deste ano. A estimativa da Emater é colher 220 mil toneladas da fruta. No ano passado foram 258 mil toneladas.
Não é uma quebra acentuada que possa torná-la a vilã do preço. Qual, então, o real motivo do valor ser tão inflacionado? A reportagem do Pioneiro acompanhou o caminho do pomar até às gôndolas. Há custos no processo de armazenamento. Os vilões são embalagem, energia elétrica e a mão de obra. A maior alta, no entanto, se concentra na área atacadista e nos grandes supermercados.
Produção de alto risco
Ser produtor de maçã exige conhecimento, estrutura, trabalho, paciência e dinheiro. O investimento médio por pomar moderno chega a R$ 100 mil por hectare (ha). É o que garante José Sozo, um dos maiores produtores de Vacaria. Este ano ele vai colher, nos 30 ha plantados, 1,6 mil toneladas da fruta - 60 toneladas por ha. 50% da produção vai ser vendida a um preço considerado razoável, que pode chegar a R$ 1,30. Os outros 50% vai para a indústria, em que o valor máximo é de R$ 0,60 o quilo.
Ele conta que a produção da fruta é de alto risco. Tudo depende do tempo.
- Se faz frio e calor na época certa, se a chuva resolve trazer o granizo, se as temperaturas ficam acima do normal. Sem contar com as doenças que chegam de surpresa e não tem como tratar a tempo de salvar a planta - explica.
Tem, ainda, a renovação dos pomares. Nesse caso uma das técnicas empregadas é o enxerto. Para isso é preciso que o pé de maçã tenha uma base saudável. O processo exige conhecimento e profissionais especializados e a planta volta a produzir em até três anos com frutas de alta qualidade.
Durante o desenvolvimento da fruta é preciso estar sempre atento à cor, ao tamanho, às imperfeições.
- As pessoas compram e consomem com os olhos. O excesso do sol deixa a planta estressada e implica na coloração da fruta - diz.
Para a colheita é necessário um trabalhador por hectare. De fevereiro a abril, ele emprega cerca de 30 pessoas a mais. Cada pé de maçã recebe até quatro colheitas numa mesma safra. O clima faz com que as floradas aconteçam em épocas diferentes. Boa parte da quarta florada é descartada, pois a frutas são pequenas demais.
- O risco de perder é do produtor. E é o que menos recebe - reclama Sozo.