Desde a segunda semana de janeiro e até a metade de março, a época é de trabalho duro sob os parreirais. É época da vindima, a colheita da uva. Um passeio, mesmo que rápido, pelos vales cobertos de videiras verdes revela que o momento máximo da colheita está chegando. As uvas estão amadurecendo e neste estágio o perfume da fruta é constante. Mas a beleza dos parreirais poderia ser ainda mais evidente se o clima tivesse colaborado com os produtores.
A chuva acima da média na época de floração e maturação de algumas variedades de uva quase comprometeu a produção deste ano. A perspectiva de quantidade e qualidade da fruta ainda é positiva graças ao trabalho qualificado e intenso da maioria dos produtores. Sem a colaboração do tempo, coube a eles investir mais para manter os parreirais em plena produção.
A expectativa é de que sejam colhidos no Estado cerca de 600 milhões de quilos de uva. A quantidade é maior que a registrada no ano passado pela União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), de pouco mais de 534 milhões de quilos, mas há de se considerar também o aumento da área plantada. Segundo o presidente da Uvibra, Henrique Benedetti, a área produtiva aumentou de 33 mil hectares para 39 mil - pelo menos 32 mil hectares estão na Serra - entre 2009 e 2010. É então que percebe-se a quebra na produção gaúcha.
- Os produtores que fizeram o tratamento adequado não tiveram perdas em função da chuva. Mas os que quiseram economizar não vão conseguir ter a colheita desejada - explica Benedetti.
Os especialistas enfatizam que com os estudos e as tecnologias é possível reverter o clima úmido e a ausência de sol, condições ideais para uma produção excelente.
- Em um ano como esse, o produtor tem que ser profissional para fazer o tratamento adequado - insiste Benedetti.
Investimento na produção - O resultado de um bom tratamento, nesta época do ano com aplicação de produtos a base de cobre, implica em aumento de investimentos. A uva deste ano, principalmente a vinífera, custou mais ao produtor. E esse gasto extra ainda não está garantido no repasse do valor pago pelas vinícolas. A queda de braço anual entre produtores e vinícolas para o cumprimento de pelo menos o preço mínimo estabelecido pela Companhia Nacional de Abastecimento continua nesta safra. E essa não é a única preocupação dos produtores. Para eles, se o mínimo for cumprido, será ótimo. E se as vinícolas pagarem, melhor ainda.
- Mais importante do que saber qual será valor é termos a garantia de que a tabela será cumprida e de que todos vão receber - entende o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Prata, Olir Schiavenin.
Para cobrir os gastos com a safra, Schiavenin calcula que o preço médio a ser recebido pelas uvas comuns deva ser em torno de R$ 0,55 ao quilo. No ano passado, o valor tabelado para a isabel foi de R$ 0,46 e de R$ 0,50 para a niágara. As variedades viníferas nobres têm preço maior. Contatos entre os produtores e o governo federal estão ocorrendo para garantir um acerto favorável aos agricultores, mas a definição só deve sair em fevereiro.
Espera por valorização - Enquanto não há uma decisão, o trabalho tanto sob as parreiras quanto nas vinícolas é acelerado. As variedades brancas finas, destinadas a espumantes e alguns vinhos brancos, começam a lotar caminhões. Na Vinícola Salton, onde são esperados 20 milhões de quilos, o movimento já é intenso para o processamento da fruta, mas deve se intensificar na segunda quinzena de fevereiro. No auge da vindima, chegarão 600 mil quilos por dia na vinícola.
O recebimento é um pouco superior ao de 2009, que gerou 21 milhões de garrafas de vinhos, espumantes e sucos. E a alternativa para manter a mesma qualidade em uma safra chuvosa é diversificar produtores.
- Temos mais de 600 produtores entre Bento, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Veranópolis, Garibaldi e Bagé e vamos buscar as melhores uvas para garantir a qualidade da bebida - explica o diretor técnico da Salton, Lucindo Copat.
Um dos produtores que abastece a vinícola é Adelino Tomasi, que cultivou para este ano cinco hectares de uvas diversas. As que estão sendo colhidas desde a semana passada são as chardonnay, uma das primeiras a chegarem nas vinícolas. A previsão dele é de colher 90 mil quilos, somando também as cabernet sauvignon, isabel bordô e concord. Para isso, contudo, Tomasi precisa que o tempo colabore.
- Precisamos de um tempo seco para colher a fruta e já tivemos muito trabalho para fazer o tratamento correto para esta safra.
Com alguns cachos atingidos por fungos, a variedade branca pronta para a colheita está sendo valorizada. Tomasi espera receber no mínimo R$ 1,20 pelo quilo da chardonnay, e sabe de vinícolas que cogitam o pagamento de R$ 1,50. Em tempos de chuva, o produtor que soube cuidar bem do parreiral pode sair com algum lucro neste início de vindima.
vanessa.franzosi@pioneiro.com
VITIVINICULTURA
TEMPO DE VINDIMA
A colheita da uva intensifica os trabalhos nos parreirais até a metade de março. As variedades brancas começam a chegar nas vinícolas. Especialistas esperam que a safra tenha a mesma qualidade da de anos anteriores, mas para isso foi preciso agir contra condições climáticas desfavoráveis
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