A sensação de liberdade, o vento batendo no rosto e o silêncio da estrada são das sensações que fazem o vendedor Eduardo Torezan, ou o Gringo, como também é conhecido, mais feliz. Somando isso à vontade de conhecer o mundo, ele tomou uma decisão que vai dar novos rumos a sua vida: dar a volta ao mundo a bordo de uma motocicleta Honda 49 cilindradas dos anos 1970.
— Eu olhava o globo e pensava: "mas a gente não pode ficar só aqui, né? Temos que descobrir este mundo". Eu sempre fui curioso, queria saber o que tem aqui, o que tem lá — relembra Torezan.
Com a partida marcada para esta terça-feira (13), o Gringo sai do distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves. O destino é o mundo, mas o trajeto começa pela América do Sul, passando pela América Central e, até o final de 2025, segue rumo à América do Norte. Em 2026, Torezan parte para a Europa, África e Oceania.
— No ano passado, decidi que queria tirar um ano sabático. Queria ver se ficava fora um ano. Aí consegui a cidadania italiana e resolvi que ia ficar dois anos viajando — explica.
Na primeira etapa da expedição, Torezan tem alguns objetivos a serem cumpridos: chegar às cidades de Porto Williams e Puerto Toro, no Chile, e Ushuaia, na Argentina, que são pontos no extremo sul do continente. Depois, no extremo norte, chegar ao Alasca, em Prudhoe Bay.
A jornada pelas Américas passará por todos os países e Torezan não programa o prazo para cada um deles. Isso porque a moto anda a cerca de 50 km/h e a ideia é, justamente, aproveitar cada momento da viagem e do vento batendo no rosto.
— Tudo pode acontecer com a moto antiga. Então, daqui a pouco eu planejo, mas a moto quebra e preciso parar tudo — antecipa.
Por isso, Torezan vai viajar com um baú cheio de peças de reposição e ferramentas que possa precisar para a moto, já que as peças para o modelo são importadas da República Tcheca ou do Vietnã.
— É uma senhora dos anos 60, né? Estou levando seis quilos de roupas para mim e 14 quilos em peça de reposição e ferramenta. Tenho cilindro, pistão, anel, toda a caixa junto, rolamento de rodas. Se acontecer qualquer coisa, já estou preparado — conta.
Entre os destinos já mapeados no trajeto, dois chamam mais a atenção e têm um significado especial para Torezan: a Itália, onde pretende passar um período para conhecer as origens da sua família, e o México, pela paixão pelo seriado Chaves. No país latino, inclusive, ele tem uma missão em mente e espera conseguir cumprir: de encontrar a atriz que interpretou Dona Florinda e entregar a ela uma boneca feita na técnica de amigurumi, que são bonecos de crochê.
— Eu coloquei o nome da moto de Dona Florinda, por causa do seriado Chaves, que sempre gostei. O México, Cancún e Acapulco não tem como deixar fora. Já tá no cronograma. Eu tenho um sonho de chegar no México e conseguir tirar uma foto com a Dona Florinda. E entregar a boneca da Dona Florinda para ela — vislumbra.
A família fica em Bento Gonçalves, à espera do retorno de Eduardo. Mas a mãe, Elania Marin Torezan, diz que fica feliz ao ver o filho descobrindo o mundo:
— Eu já estou acostumada. Fico feliz de ver ele assim — orgulha-se.
Na casa da família ficam Elania, o pai, Volmar Torezan, e a filha de 8 anos, Manuella Torezan. Os três já se acostumaram com as viagens, já que Eduardo começou ainda em 2010, com trajetos mais curtos, como a Serra do Rio do Rastro e, depois, o Chile.
— A gente conversa por ligação de vídeo. Durante estes dois anos, eu vou voltar uma vez pra casa, que vai ser quando a moto sair do Canadá, no final de 2025, para Lisboa, em Portugal. Esse trajeto leva 15 dias e eu teria que ficar esperando. Então, vou vir para casa — antecipa Eduardo.
Com a experiência nas outras viagens, mesmo que mais curtas, Eduardo já sabe que a experiência é única:
— Isso é a liberdade. A moto traz uma liberdade que não tem preço. Traz uma paz, um conhecimento, uma experiência que para mim está sendo uma faculdade da vida. Não tem nada que traga mais alegria do que tu estar no meio do nada, só escuta o barulho do vento, dos passarinhos. É uma experiência que vale a pena.