Uma tábua de madeira com dois eixos e rolamentos nas pontas. Os mais elaborados contam com escoro para as costas e freios. Populares quando a rua era ambiente principal das brincadeiras entre crianças, carrinhos de lomba (ou rolimã) encabeçam a lista de brinquedos analógicos, sem pilhas ou motores, que faziam a diversão da criançada em um tempo que a internet era ainda uma visão do futuro.
A diversão, até que sejam colocados à prova em morros tão comuns em Caxias do Sul, começa antes, no desafio de construí-los. É preciso encontrar bons materiais, um marceneiro disposto ou um pai daqueles do tipo “faz tudo”.
Ainda que as ruas estejam bem mais movimentadas e, consequentemente, perigosas, descer a vizinhança em um veículo sem motor é uma celebração de uma infância que parece não existir mais.
Tradicional nas décadas de 1980 e 1990, uma corrida em Ana Rech foi retomada e no dia 15 de dezembro dará a largada para a terceira edição.
A organização é da Associação Amigos de Ana Rech (Samar), que divulga as inscrições em escolas e, segundo o professor de Educação Física Tiago Bazzi, 40 anos, o interesse pela corrida cresce a cada ano.
— É legal ver pais e filhos brincando juntos. Percebemos pela redondeza que a gurizada acaba se boicotando dentro de casa com os eletrônicos e o interesse pela atividade física fica em segundo plano. Queremos muito manter essa cultura de brincadeira na rua e temos certeza que quem participa uma vez, quer seguir participando — diz.
A corrida, chamada de "Força Livre" permite o uso de qualquer tipo de roda nos carrinhos e tem duas categorias, a infanto-juvenil, para crianças e adolescentes de oito a 17 anos e a adulta.
Trabalhando em escolas, Bazzi percebeu ao longo do tempo a motivação pelas brincadeiras diminuir:
— A tecnologia afastou um pouco o contato social entre crianças e também a criação de jogos e brincadeiras que elas mesmas inventam. Ainda existe, mas se comparamos com a minha infância, por exemplo, é muito menor.
Disposição para fugir das telas
Construir seus próprios brinquedos e se divertir em ambientes externos pode parecer simples não fosse a concorrência das telas que oferecem a facilidade de ter o mundo às mãos. É então que a disposição de pais como Everson Minetto, 45 anos, em apresentar brinquedos de outros tempos, ganha o poder de resgatar crianças dessa espécie de hipnose:
— Ele (Augusto Minetto, nove) me via trabalhando na oficina atrás de casa e começou a passar o dia comigo. Ao mesmo tempo pedia que cortasse algumas madeiras para ele colar. E foi quando veio a recordação dos tempos de criança quando descíamos os morros nos carrinhos de madeira.
Depois de fabricarem espadas, escudos, bonecos e até uma perna de pau, o primeiro carrinho de lomba feito pela dupla levou o filho Augusto ao pódio no primeiro ano da corrida.
— A corrida é uma parte importante, mas acho que o mais importante é o tempo que passamos aqui. O objetivo não era comprar, era fazer um do nosso jeito. A gente está vivendo uma geração que a gurizada só quer tela, o Augusto também gosta, mas não é só o que ele faz — conta o pai.
E o filho não desmente:
— Eu gosto de acampar e jogar bola, mas o que mais gosto de fazer é construir coisas com madeira.
Como construir um carrinho de lomba:
Corrida de Carrinho de Lomba Samar
Quando: 15/12
Que horas: 14h
Onde: Rua Primo Gastaldello, bairro Brasília
Inscrições: Pelo link