A médica infectologista Carolina Cipriani Ponzi é caxiense e, desde 2008, mora em Chapecó, em Santa Catarina. De lá, terra que a adotou, encarou desafios de alta intensidade como a tragédia da queda do avião da Chapecoense, que resultou em 71 mortes causando comoção país afora, e atuou ainda na linha de frente no combate à pandemia de coronavírus.
Em 2019, a mãe da Carol, a professora Terezinha Maria Cipriani Ponzi, que residia em Caxias, sofreu um acidente, fraturando o ombro. Carol decidiu então levar a mãe para Chapecó, porque ela precisaria de uma rede de cuidados em função do quadro de saúde ser delicado. No ano seguinte, com a covid-19, literalmente varrendo o mundo, provocando pânico e mortes, Terezinha contrai o vírus e morre, aos 71 anos.
No divã, em sessões para aplacar dores, ressignificar o passado, tentando seguir em frente, a psicóloga da Carol teve um insight. Sugeriu a ela que escrevesse um relato desses momentos tensos e perturbadores, tecendo-os entre memórias e reflexões. Foi a partir dessa escrita terapêutica que nasceu Sã e Salva, cujo lançamento é neste sábado (13), na Livraria e Café Do Arco da Velha, em Caxias do Sul.
— Eu comecei a escrever entendendo que o processo poderia ser terapêutico pra mim. Depois de pronto, entendi que ele poderia ser um livro pertinente, sabe, porque o que eu vivi, muitas pessoas viveram. Contei essa história, numa narrativa pessoal, como se eu estivesse sentada contigo na sala, dizendo: "Marcelo, vem cá que eu vou te contar o que aconteceu" — explica a autora.
Carol, que estreia na literatura com Sã e Salva, é uma médica reconhecida por sua atuação como infectologista. Contudo, em seu DNA há traços artísticos bem marcantes. Inclusive, ela toca diversos instrumentos musicais. A mãe, Terezinha, além de uma professora que estimulava os alunos a mergulhar fundo no oceano das artes, era uma exímia pianista. O pai, Luiz Carlos, é escritor, autor de obras como Isabella em Contos - Cem Anos Historiados 1905-2005 e Bar 13 - Lazer, Política e História. O irmão, Lucas, fez carreira como ator, inclusive encenando O Auto da Compadecida, obra magistral de Ariano Suassuna.
— Sã e Salva é dedicado para a minha mãe e para os outros 710 mil mortos pela covid-19 e fazer essa tarde de autógrafos em Caxias é muito significativa, porque eu sou de Caxias, a minha família é de Caxias, o meu pai segue morando em Caxias. A minha mãe era caxiense, súper conhecida e querida por muitas pessoas, então fazer essa tarde de autógrafos é de um afeto muito grande, de um significado muito grande para mim — confidencia Carol.
Tom confessional
Em algumas passagens do livro, além dessa verve intimista, em tom confessional, a Carol, por assim dizer, vestida de jaleco e investida de autoridade científica, explica, com certo didatismo, aspectos importantes sobre a maior pandemia que assolou o planeta Terra (até agora, diga-se de passagem). Revela, inclusive, "o certo alívio e um tanto de esperança", quando enfim o mundo conheceu a primeira vacina oficial contra a doença. Contudo, Carol diz que, apesar de o livro registrar a crise sanitária nesse contexto histórico específico, por meio da escrita, fluíram os mais diversos papéis atribuídos a ela.
— Escrevo como infectologista, como mulher, como familiar, eu escrevo como gestora, como agente político, eu conto todas essas dores.
A capa de Sã e Salva nos remete à pandemia, não apenas pelo uso da máscara, mas por conta do tom cinzento e frio no tratamento da foto, evidenciando o distanciamento social daquele período. Carol revela ainda que o nome do livro é inspirado em uma música que ela sempre ouve durante as maratonas que participa. Inclusive, durante uma das corridas, quando ela estava no exterior, é que ela soube do acidente da mãe, em Caxias.
— O nome do livro tem dois sentidos. Quando você olha a capa e vê sou eu na foto, uma selfie que tirei entrando na enfermaria, pode deixar aquela dúvida "será que eu saí sã e salva da pandemia"? E, na verdade, Sã e Salva é o título de uma música, Safe and Sound, do Capital Cities, que sempre me acompanha na corridas. Só que ela se aplicou muito bem para a pandemia. Eu acho que nem tão sã, mas acho que saí definitivamente salva. Assim como todos nós — avalia Carol.
Programe-se
- O quê: sessão de autógrafos de Sã e Salva, de Carolina C. Ponzi.
- Quando: sábado (13), das 15h às 17h.
- Onde: Livraria e Café Do Arco da Velha (Rua Dr. Montaury, 1.570 - Centro).
- Quanto: o livro estará à venda a R$ 80, no local.