Mais do que cenário, as paisagens deslumbrantes dos Campos de Cima da Serra dividem o protagonismo com as personagens e ajudam a contar as Histórias de Tropeiro, título do média-metragem dirigido por Duclerc Silva, com recursos da Lei Paulo Gustavo (via prefeitura de São José dos Ausentes). Em 30 minutos, o filme, que pode ser conferido no canal do diretor no YouTube, recria o cotidiano dos tropeiros no início do século passado.
Com elenco formado por atores locais e de Bom Jesus, município vizinho, a trama acompanha uma tropeada fictícia, a fim de demonstrar como era a vida daqueles homens que viajavam com tropas de mulas carregadas de mercadorias diversas, fazendo o comércio itinerante da época. Os personagens, no entanto, levam os nomes de tropeiros reais, como o avô do diretor, Claro Ferreira de Mello, e seus companheiros Jovino, Lourenço, Manoel e Sebastião.
Após se despedir da família para encarar a longa jornada, quando não estavam em movimento, em suas pausas os tropeiros se aqueciam com café preparado à moda dos tropeiros, na brasa, se alimentavam de arroz carreteiro de charque e de costela assada, contavam causos e histórias de assombração ao redor da fogueira. As filmagens, que duraram quatro dias, começavam por volta de 2h, encilhando os animais, e seguiam até tarde da noite seguinte, sendo que o alimento preparado para as cenas era o mesmo que alimentava a equipe.
- Este filme nasce das memórias de quando eu tinha sete ou oito anos e escutava meu avô já velhinho e seus ex-parceiros de tropeadas, recordarem histórias na roda de chimarrão, na área da casa onde a gente vivia. Algumas histórias eram muito divertidas, envolvia muita assombração, e algumas delas estão no filme - conta o diretor.
Para dar ao filme o maior realismo possível, Duclerc buscou figurinos e utensílios de época da coleção de alguns dos principais pesquisadores do tropeirismo no Estado e bebeu da fonte de especialistas como a historiadora e escritora Lucila Sgarbi dos Santos, descendente de tropeiro. Para o elenco, recrutou um jovem de Bom Jesus, William Marcelo Goulart, que é conhecido localmente como entusiasta que se dedica a perpetuar a cultura tropeira.
Além de estar disponível gratuitamente no YouTube, onde já soma mais de 10 mil visualizações, Histórias de Tropeiro foi exibido para estudantes e professores de Ausentes, e está inscrito para rodar por festivais de cinema alternativo pelo Brasil.