Há quase 40 anos Humberto Gessinger é nome obrigatório em qualquer lista que pretenda eleger os principais nomes do pop rock nacional. É por isso que nesse show que o porto-alegrense fará neste sábado à noite, na 15ª Fenavindima, é impossível dedicar todo o repertório do seu álbum mais recente, Quatro Cantos de um Mundo Redondo, lançado no ano passado. Em entrevista ao Sete Dias, o músico que deverá subir ao palco por volta das 22h, após a abertura com Claus e Vanessa, antecipou que irá tocar clássicos do Engenheiros do Hawaii, especialmente de álbuns que neste ano completam aniversários importantes. Confira a entrevista.
Sete Dias: Como tem sido a receptividade do público ao seu mais recente trabalho, Quatro Cantos de um Mundo Redondo? Quanto dele estará presente no show na Fenavindima, se for possível antecipar algo do repertório?
Humberto Gessinger: A recepção tem sido excelente! Confesso que me surpreendeu a rapidez com que as músicas novas começaram a ser cantadas pelos fãs. Hoje em dia é mais difícil prever como será a reação pois a informação está mais fragmentada. Pensei que demoraria mais para o material novo se encaixar no show, mas foi muito rápido.
Vou tocar quatro músicas do disco novo (No Delta dos Rios, Fevereiro 13, Toxina e Espanto). Além delas, músicas de todas as fases da minha carreira. Há dois momentos especiais em que comemoro os 25 anos de gravação do !Tchau Radar! e os 35 anos do Alívio Imediato, discos importantes na história dos Engenheiros do Hawaii.
Sete Dias: qual será a formação que tu trarás ao show na Fenavindima, neste sábado? Tu alternas momentos solo e momentos com banda no palco?
No palco, um power trio com momentos acústicos. Estarei ao lado de Rafa Bisogno na bateria e Felipe Rotta na guitarra e violão. Eu toco baixo e teclados. Esta formação vem desde 2017, já tendo gravado um DVD e três discos.
Sete Dias: Tu tens alguma memória marcante de alguma de tuas vindas à Serra, em especial à nossa região da Uva e do Vinho?
Muitas boas memórias. A família da minha mãe é da Serra, região de Nova Prata. Quando criança, todos os anos meus tios me colocavam a esmagar uvas com os pés para fazer vinho. No DVD, inSULar ao Vivo, gravei 4 canções numa vinícola da Serra. Um projeto lindo.
Sete Dias: Muito já se fala sobre o retorno do LP, mas podes comentar sobre o lançamento de Quatro Cantos de um Mundo Redondo também em fita K7? Tem a ver com memória afetiva, ou talvez trazer para as novas gerações um pouco do que era a experiência de consumir música nos anos 1980 e 1990?
Do ponto de vista da qualidade sonora, não tenho saudade das antigas tecnologias. Acho que ganhamos mobilidade com a digitalização. E isso começou com o K7, ainda no mundo analógico, através do walkman. Ganha-se algumas coisas, perde-se outras. Sinto falta da divisão das músicas em dois lados, que ocorria nos discos e K7. Era muito bom montar dois “programas”. O LP também permitia trabalhar melhor o lado gráfico nas capas. Por outro lado, agora podemos ter uma quantidade inacreditável de músicas no nosso bolso, ao alcance de um clique. Gosto de oferecer a quem se interessa pelo meu trabalho todas as alternativas possíveis, streaming e formato físico. São só suportes. Eles mudam com os avanços da tecnologia. O fundamental é a música, que fica na memória afetiva.
Sete Dias: Próximo a completar 40 anos dedicados à música, como tu projetas a quinta década da tua carreira? Quais são os desafios, as motivações, o que ainda falta?
Nenhum projeto e todos os projetos ao mesmo tempo, como sempre!
Nunca estive tão satisfeito com minha arte/ofício quanto nos anos recentes. Os tempos com Engenheiros do Hawaii foram incríveis, maravilhosos. Quando parei de usar o nome da banda e criei o Pouca Vogal (com Duca Leindecker) acho que algumas pessoas ficaram confusas, sem saber muito bem pra onde eu estava indo. Mas eu sempre soube: estava indo atrás dos mesmos sonhos de sempre. O mesmo sonho do menino tímido que ganhou um violão quando tinha seis anos.
Meus trabalhos solo restabeleceram algumas conexões e muitas outras foram criadas. Continuar trilhando este caminho já me deixa muito feliz. Escrevo as músicas que quero e toco pra gente que respeita meu trabalho. Acima de tudo, mantenho a alma de iniciante, sem perder o fascínio por esta arte/ofício. Sempre fui um cara muito tímido, a música me colocou em contato com muita gente bacana e me fez conhecer os quatro cantos do Brasil e alguns cantinhos do mundo. Sou muito grato por isso, espero retribuir esta dádiva com boa música.