O público ainda chegava de forma tímida ao Parque da Festa da Uva, no frio entardecer desta sexta-feira em Caxias do Sul, quando o guitarrista de Nova Prata Nando Frizon e seus comparsas da Triple Trouble abriam os trabalhos da segunda noite do 14º Mississippi Delta Blues Festival. Seu fraseado com forte inspiração na tradição texana de Stevie Ray Vaughan já dava a ideia de que os fãs de blues teriam pela frente mais algumas doses generosas de solos de guitarra ao longo das horas seguintes, o que de fato se confirmou. Mas haveria espaço pra muito mais.
E isso ficou claro quando o guitarrista paulista Fred Sunwalk fez reverberar as notas do show de abertura do B.B. King Museum Stage, por volta das 20h15min. Ainda com uma plateia longe de ser a definitiva, o guitarrista apostou em um repertório basicamente autoral, mas não por isso menos empolgante para embalar a massa blueseira. Entre os covers escolhidos, Fred acertou ao trazer uma versão próxima da do Fleetwood Mac para o clássico I Can't Hold Out, do gaitista Little Walter. E, bem como já tinha feito em sua última participação no MDBF, em 2018, Sunwalk proporcionou diversos momentos de interação que cativaram a galera.
Na primeira rodada de shows pelos palcos periféricos, os catarinenses da The Headcutters promoveram um momento bem mais intimista do que na noite anterior, quando haviam tocado no palco principal. Desta vez o show foi na "casinha", que este ano ganhou decoração inspirada no Ebony Club, bar que pertenceu ao B.B. King. Foram dois sets animados e regados aos bons drinks e às cervejas artesanais dos estandes posicionados estrategicamente próximos.
Na segunda rodada de shows espalhados pelo parque, foi a vez dos blueseiros curtirem, no palco Big Red, a estreia no MDBF de um projeto que tem tudo para se estender por muitos anos: liderada pela tecladista Mari Kerber, a banda Blues Gardenia uniu as solistas Karina Comin (guitarra) e Débora de Oliveira (harmônica), tendo ainda na bateria o icônico Pedro Strasser. E, por falar em bateria, na "casinha" Tony "TC" Coleman dava a primeira amostra do que será o show de encerramento do MDBF no sábado: uma performance enérgica e cheia de groove, capaz de lotar a frente do palco como nos melhores "Momentos MDBF" que conhecemos e nos acostumamos a curtir.
De volta ao palco principal, pouco além das 22h30min, o guitarrista britânico Ian Siegal chegou a reclamar da qualidade do retorno logo no começo do seu show, mas isso era porque ele está a disposto a entregar tudo ao longo da próxima hora. E o show ainda contou com uma participação marcante de Ale Ravanello, gaitista porto-alegrense, na harmônica. Foi quando Siegal convidou a plateia a conhecer o som típico de Chicago: blues elétrico, com gaita amplificada e protagonista.
Já próximo da meia noite, ao se iniciar mais uma rodada de shows pelos três palcos espalhados pelo parque, foi a vez do público cativo do blues reverenciar um dos grandes nomes da música universal, que nos dá a graça de viver desde 2008 em Caxias do Sul: Lucio Yanel levou suas milongas, chacareras, chimarristas e tangos ao High Chaparral Stage, para deleite de um público incrédulo, por ver a história sendo escritas diante de seus olhos. Afinal, qual outra oportunidade se pode ter de ver Dom Lúcio incendiando uma plateia blueseira com seu violão?
O ato final da noite, no entanto, foi quando silenciou o violão de Yanel e todos os acordes que estavam sendo tocados nos demais palcos do MDBF, para que "The Bluz Queen", Claudette King, finalmente saciasse a vontade e a curiosidade de assistir ao vivo uma filha da lenda máxima do blues. B.B. King. Claudette se mostrou uma vocalista tão poderosa quanto carismática, chegando a chamar ao palco algumas mulheres da plateia para que cantassem com ela alguns versos de "The Blues Is Alright", um entre tantos clássicos do repertório de B.B. que Claudette apresentou aos caxienses. Ainda teve "Playing With My Friend", "The Thrill Is Gone" e "Rock Me, Baby", entre outras pérolas que aproximaram a plateia da cantora que traz o blues em todas as células do seu corpo.
Após o show mais esperado da noite, que se encerrou por volta de 1h45min, o público ainda curtiria mais uma rodada de apresentações pelos demais palcos. Teve Naldo Frison de volta ao High Chaparral Stage, teve Rachel Fields no Big Red Stage, e teve Alphonso "Doc" Sanders e sua B.B. King Museum Legacy Band no Ebony Club Stage, a "casinha do blues", onde a jam session se estendeu madrugada adentro para satisfazer um público que se negava a deixar a "meca" do blues na Serra.
O 14º MDBF segue até este sábado, no Parque da Festa da Uva. Entre as atrações principais da última noite estão o guitarrista gaúcho Fernando Noronha e sua banda Black Soul, além do baterista norte-americano Tony "TC Coleman", desta vez fazendo o show de encerramento do palco principal. Ingressos à venda em ingressoscaxias.mdbf.com.br.