Em 2025 serão celebrados os 150 anos da imigração italiana no Estado. E, como parte das comemorações, um grupo de quatrilheiros espera que o tradicional jogo de cartas trazido para o Brasil com os imigrantes, e transmitido de geração em geração desde então, alcance o reconhecimento de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil junto ao Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
A iniciativa partiu da Confraria do Quatrilho Colonial, entidade fundada em 2014 por um grupo de quatro ou cinco amigos de São Luiz da 6ª Légua, em Caxias, e que atualmente conta com cerca de 400 jogadores cadastrados. A entidade procurou o Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da UCS, com quem firmou parceria para dar andamento ao processo. O primeiro passo, a cargo do IMHC, será fazer um estudo que terá duração de seis meses, a fim de recolher depoimentos, documentos e fotografias para embasar o dossiê a ser apresentado ao Iphan.
- O primeiro passo é apresentar (ao Iphan) o pedido acompanhado de um dossiê preliminar com as justificativas. Esse será o papel do IMHC: fazer o trabalho histórico, antropológico, referente ao quatrilho. A segunda fase será um estudo mais denso, com aplicação de metodologia própria do Iphan, que é o Inventário Nacional de Referências Culturais. É um trabalho mais demorado, que a própria universidade poderá fazê-lo se o Iphan assim entender e propor um termo de cooperação. São registrados como Patrimônio Imaterial bens e expressões culturais que correm risco de perda ou de desconfiguração - explica o historiador Anthony Beux Tessari, do IMHC.
Um evento beneficente marcado para este sábado no salão paroquial de Ana Rech, intitulado Quatrilho do Bem, que irá arrecadar fundos para o Instituto Murialdo do bairro Santa Fé, também servirá como ponto de partida da elaboração do estudo.
- A ideia é motivar esses jogadores para que eles possam nos enviar fotografias, possam dar depoimento, tudo que ajude na elaboração deste dossiê que deve ser feito até maio de 2024, quando será oficializado o pedido para que o Iphan abra esse processo administrativo. É da política do próprio órgão recomendar que a comunidade se envolva no pedido, e não que venha de cima para baixo hierarquicamente. Que os praticantes, no caso do quatrilho, possam apresentar suas justificativas e demonstrar que este jogo é uma expressão que existe espontaneamente nas comunidades, especialmente na zona rural não só do Rio Grande do Sul, mas também de outros estados onde houve a imigração italiana - acrescenta Tessari.
O presidente e um dos fundadores da Confraria, Ivo Costa, 75 anos, considera que o quatrilho, jogo em que há troca constante de parceiros durante uma partida, e que demanda estratégias diferentes para cada jogada, é um aliado para manter a mente ativa. Além claro, de render bons momentos de descontração, mesmo quando o clima “esquenta” entre os jogadores:
- O quatrilho é como um xadrez. Traz muitos benefícios, especialmente para as pessoas de mais idade. Em uma vida inteira, nunca se repete uma jogada. Eu aprendi a jogar com meu nonno, depois jogava também com o meu pai, com amigos. Assim como ocorreu com o talian, a gente quer poder preservar o quatrilho como cultura, que haja incentivo para que seja ensinado nas escolas e que se realize eventos, campeonatos. Ter o reconhecimento como Patrimônio Imaterial ajudaria muito nisso
Em 2020, o Quatrilho foi reconhecido como jogo oficial de Caxias do Sul via lei sancionada pela Prefeitura Municipal. O jogo, que tem troca de parceiros ao longo da partida, ainda foi metáfora para o título da obra O Quatrilho (1985), de José Clemente Pozenato, ambientada no contexto da colonização italiana no início do século 20, que foi adaptada ao cinema em filme de 1995 e levou o Brasil a concorrer ao Oscar em 1996. O ano de 2025, além de marcar os 150 anos da imigração italiana, também irá marcar os 40 anos do lançamento do livro e os 30 anos do filme.