Parte do título dessa resenha é roubado da apresentação do novo livro de crônicas da jornalista, psicanalista, professora e escritora caxiense Adriana Antunes. Quando menos se espera já é março tem sessão de autógrafos agendada para este sábado (23), das 9h às 12h, no Empório e Cave Del Rei, que fica no bairro Nossa Senhora da Saúde, em Caxias do Sul.
Então, Maria Beatriz Jacques Ramos, psicanalista e doutora em Psicologia Clínica, escreve exatamente assim: “Nas crônicas Quando menos se espera já é março, o leitor encontrará histórias de uma psicanalista no divã”. E aqui, tentando estabelecer um diálogo nada psicanalítico com Maria Beatriz (e por consequência com a Adri) me pergunto se a matéria que pulsa no divã não é extraída da própria vida? E será que a vida, em toda a sua complexidade, cabe num divã?
Dentro de um livro, certamente não cabe. Dentro de uma biblioteca também não. Contudo, a arte da crônica, e disso a Adri bem sabe e pratica, é a observação. Nas 24 crônicas selecionadas para o livro, que anteriormente já foram publicadas aqui no Pioneiro, em um espaço cativo que a autora ocupa sempre às terças-feiras, nada escapa do olhar atento, generoso e amoroso — e, talvez, por isso mesmo, poético — da Adri.
Pesco daqui e dali frases dos mais diversos textos e contextos, numa tentativa de revelar um pouco desse olhar. Tem a autora irônica que escreve: “Todo fracasso é uma segunda infância”. Ou ainda, a provocativa: “Doer é subverter a lógica do desempenho”. E tem a Adri que tece a esperança a partir da poesia: “É preciso que a raiva se transforme em versos, que a voz de um grito vire canto e que juntos sonhemos um outro tempo possível”.
Tem espaço ainda para o pai da Adri, que morreu há cerca de um ano e seis meses. A cronista sempre conta que ele era o primeiro leitor de seus textos. Após a sua morte, a Adri encontrou uma caixa com recortes de várias crônicas que ele guardava.
— Então, esse livro é também um jeito de fazer esse trajeto do luto — confidencia Adri.
E meio às memórias da casa, de tantos olhares, de tanto tempo dedicado a esquadrinhar esse cotidiano aparentemente banal, a Adri cita Fernando Pessoa, na sugestiva crônica As certezas são ilhas de ilusão: “só de ouvir o vento passar, valeu a pena ter nascido”. E também te ler, Adri.
PROGRAME-SE
O quê: Sessão de autógrafos de "Quando menos se espera já é março", de Adriana Antunes.
Quando: sábado (23), das 9h às 12h.
Onde: Empório e Cave Del Rei (Rua Ludovíco Cavinato, 676 - Nossa Sra. da Saúde - Caxias).